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Praga de Justiniano – Wikipédia, a enciclopédia livre Saltar para o conteúdo

Praga de Justiniano

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A praga de Justiniano ou peste de Justiniano foi uma pandemia, ocorrida no reinado do imperador Justiniano I (r. 527–565), causada pela peste bubônica que afetou o mundo mediterrâneo, com maior incidência no Império Bizantino entre os anos de 541 e 544.

Foi uma das maiores pandemias da história, com impactos similares aos da Peste negra que ocorreria mais tarde. É estimado que entre 25 e 100 milhões de pessoas tenham morrido ao longo de dois séculos como consequência da Peste de Justiniano.[1] A doença foi transmitida pelas pulgas, que vieram junto com os ratos em navios com carregamento de grãos do Egito. Pensa-se que a praga justiniana matou talvez metade da população da Europa e facilitou a aquisição árabe das províncias bizantinas no Oriente Médio e na África.[2]

A área mais atingida foi Constantinopla. Documentos escritos sugerem que a praga matou até 300 mil pessoas na cidade, mais de metade da população daquela época.[3]

Estudos genéticos apontam que a doença teria se originado na China[2] e seria causado pela bactéria Yersinia pestis, assim como as outras grandes pragas.[1]

Sinais e Sintomas

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Os pacientes desenvolviam sintomas tais como, febre súbita, dor de cabeça, arrepios, e após alguns dias, o aparecimento de inchaços dolorosos ,denominados de bubos, eram visíveis, principalmente na zona das virilhas e secundariamente noutras zonas, nomeadamente nas axilas, pescoço, coxas entre outros, características predominantes na peste bubônica.[4] | diagnóstico = Presença da bactéria nos glânglios linfáticos , no sangue, no baço e no fígado[5][5] Outros sintomas associados são naúseas, vómitos, diarreia, visões alucinatórias, insónia, delírio e coma.[4] O período dos sintomas clínicos agudos tinham uma duração muito curta, aproximadamente de cinco dias.[6]

A transmissão pode ser diferente dependendo da pandemia em questão. No caso da primeira epidemia a mais comum teria sido a forma bubónica .[7]

A transmissão desta doença zoonótica ocorre através da mordida de pulgas adultas hematófagas, cujo ciclo de vida envolve roedores como hospedeiros primários, após a morte deste hospedeiro primário, o ser humano pode ser alvo da sua transmissão.[4][7] Se a existência dos reodores for limitada, a pulga pode ser transmitida a outros animais (e.g. lagomorfos), por sua vez a ingestão destes animais infetados pode envolver um maior risco para o ser humano dado que estes são um reservatório hospedeiro para bactéria.[7][8]

A espécie de roedores que levou a uma maior transmissão foi a dos ratos negros (R. rattus), estes percorrem durante a sua vida uma distância máxima de aproximadamente duzentos metros, questionando-se assim os meios que levaram à transmissão da pandemia nesse século.[9]

Entre as vítimas da peste Justiniana, aqueles que lhes prestavam cuidados não eram considerados de estar em risco de contrairem a doença .[4]

O ser humano não apresenta uma contribuição na sobrevivência a longo termo da bactéria Y. pestis, em contraste os roedores são afetados primariamente e as pulgas adquirem-na através da alimentação de sangue infetado (cfr. Perry & Peterson, 1997). Se o organismo não é transmitido transovarialmente, a manutenção da praga na natureza torna-se apenas dependente da transmissão ciclíca entre as pulgas e os mamíferos .[5] A presença da bactéria pode ser indetetável por um longo tempo, geralmente de 10-20 dias, por vezes estende até mais de três meses; a morte dos roeodores, é um sinal da sua atividade, que força as pulgas a procurar outro hospedeiro, logo é inevitável que esta forma bubônica da epidemia tenha um longo tempo de geração em série.[9]

Sucintamente, a infeção inicia-se quando a Y. Pestis se propaga no local da mordida da pulga para os glânglios linfáticos regionais, crescendo consequentemente em número, causando a formação de um glânglio linfático inchado.[5] A infeção propaga-se para a corrente sanguínea, onde os bacilos são preferencialmente removidos no baço e no fígado.[5] O desenvolvimento dos organismos permanece no sangue, no fígado e no baço e propaga-se para outros órgãos, como os pulmões.[5][7] Sendo assim, a infeção da pulga pelo sangue de um roedor bacterêmico ou septicêmico completa o ciclo de vida de Yersinia pestis .[5]

De acordo, com Wagner et. al (2014), o genoma de Y. pestis evidencia a linhagem da bactéria que causou a primeira pandemia, sendo que é distinta da segunda que causa a peste negra. O reconhecimento desta distinção é importante na medida em que coloca mais questões sobre a Peste de Justiniano. A dificuldade desta distinção refletiu-se não só na reduzida existência de casos, bem como no desaparecimento súbito da doença (praga de Justiniano) nos séculos posteriores (após o século VIII), e também a má preservação de o aDNA dificultou o trabalho dos investigadores que pretendem obter um genoma mais completo e obter mais informações sobre a epidemia.[6][10] Independemente disso, os registos de Procopius e outros autores permiram visualizar um melhor discernimento através dos sintomas e transmissão das duas primeiras pestes.[4]

Segundo vários investigadores a análise destes sintomas (febre, dores de cabeça, arrepios, surgimento de bubos em várias zonas do corpo, naúseas, vômitos, diarreia, alucinações, insónia, delírio e coma) permitem o diagnóstico de peste justiniana.[4][7] A doença era geralmente fatal no caso de gravidez e também na presença de vómitos acompanhados de sangue.[4] No entanto, se uma zona inchada fosse alvo de rotura e o pus exsudado, o paciente podia recuperar.[4] As vítimas que sobreviviam geralmente eram alvos de atrofia das coxas ou da língua.[4]

Tratamento e medidas preventivas

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A persistência em frequentar os curandeiros cristãos, em vez de dos médicos que prestavam serviço com posterior pagamento era evidente no século VI.[11] Neste período, estes profissionais apenas tinham a responsabilidade de oferecer um prognóstico e assistir, pelo que não era esperado que estes arriscassem as suas vidas.[11]

Um tratado entre Justiniano I e o Cosroes I (r. 531–579), permitiu a disponibilização de instituições destinadas a cuidados de saúde, estas instituições eram denominadas de xenones, que funcionavam particularmente como hostels, eram instituições de quarentena, para aqueles que estavam infetados.[11]

O tratamento terapêutico pré-clínico, era localizado maioritariamente na habitação dos pacientes que não apresentavam as possibilidades de cuidados médicos.[11]

Na atualidade, as medidas de prevenção e o tratamento de doenças infecciosas são mais eficazes, o corrente tratamento para a peste inclui antibióticos (i.e. em específico estreptomicina; tetraciclina; cloranfenicol), e, se necessário, suporte respiratório e de fluidos.[5][7]

Métodos alternativos correspondem ao sérum terapêutico, terapia de fago, terapia de bacteriocina, alguns destes métodos podiam produzir efeitos secundários.[7] A vacinação é um método preventivo, contudo está ligeiramente em desuso, a pesquisa e preocupação são vastas, devido a possível recorrência da peste, a prevalência e resistência desta bactéria, surge como preocupação contemporânea e como um possível perigo futuramente (e.g uso de Yersinia pestis como arma biológica) .[7]

A classificação deste surto indica que em caso de ocorrência se deve proceder a um protócolo de segurança, sintetizando, para evitar a propagação, a vigilância principalmente em zonas endémicas, em fronteiras, de forma a proteger países não infetados deve ser levada em consideração, isto significa o controlo de itens pessoais, transportação de bens, ou seja, tudo que possa ser uma ameaça para a segurança das populações.[7] Alerta-se o controlo animal, visto que é uma peste zoonótica, a redução das populações de ratos, por exemplo, pode indicar uma migração da pulga para outros seres vivos (e.g lagomorfos).[7][8]

Epidemiologia

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“A maioria das críticas à investigação sobre a peste focam-se mais na direção de um debate historiográfico do que na evidência da peste” .[12] Esta afirmação é referente a um desentendimento entre os diversos autores sobre a verdadeira origem da praga justiniana; existem duas teorias, uma refere a Etiópia como origem, outra alega a China como originária da primeira pandemia mundial.[10]

Wagner et. al (2014) apresentam evidências compatíveis com a teoria que indica a origem na China e a sua possível distribuição. A propagação da bactéria que provocou a primeira pandemia surge como independente para diversos autores (mostrar figura).

As evidências históricas, arqueológicas e de casos similares de epidemiologias, acabam por persistir como inconclusivas; o DNA antigo (aDNA) tem sido das poucas evidências que fornecem informações mais viáveis, contudo a sua preservação e inclusive o genoma que permite conhecer, não é suficiente para obter uma construção completa da bactéria desta primeira pandemia.[6][12] A especulação da sua transmissão para os diversos locais centra-se nas rotas de transporte, como, as embarcações, trocas comerciais, entre outros.[10]

Fig.2. Cenário hipotético da distribuição de Yersinia pestis. A rota Silk Road (linhas roxas) (Fonte: Wagner et. al (2014))

Consequências Sociais

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O império de Justiniano I foi gravemente afetado, não só devido à depopulação, mas também na medida em que afetou a economia, seguida da escassez de recursos devido ao colapso da agricultura e consequente fome.[4]] Os registos de John de Ephesus eram detalhados, sobre estes diversos acontecimentos, em 546 d.C a redução do grão e do vinho foi destacado, entre outros inúmeros exemplos.[4]

Justiniano I, como imperador, começou a perder o controlo sobre as áreas do Mediterrâneo, que uma vez estiveram em posse romana, a fatalidade deste surto levou à queda do império romano (para uma descrição mais pormenorizada cfr. Justinian’s flea de William Rosen (2007).[12]

Os surtos causados pela peste, muitas vezes levaram a decisões de enterramentos em valas comuns, ou carbonização dos restos mortais prejudicando a análise dos peritos em causa.[12]

Referências

  1. a b «Plague Helped Bring Down Roman Empire : DNews». DNews. Consultado em 28 de junho de 2013  (em inglês)
  2. a b Wade, Nicholas (31 de outubro de 2010). «Europe's Plagues Came From China, Study Finds». The New York Times. Consultado em 14 de dezembro de 2019 
  3. «Uma das piores pandemias da História pode não ter sido tão grave como se pensava» 
  4. a b c d e f g h i j k Retief, F., & Cilliers, L. (2010). The epidemic of justinian (AD 542): a prelude to the middle ages. Acta Theologica, 26(2).
  5. a b c d e f g h Perry, R. D., & Fetherston, J. D. (1997). Yersinia pestis--etiologic agent of plague. clinical microbiology reviews, 10(1), 35-66.
  6. a b c Little, L. K. (2007). Plague and the end of antiquity: The pandemic of 541-750. Cambridge University Press.
  7. a b c d e f g h i j Ditchburn, J., & Hodgkins, R. (2019). Yersinia pestis, a problem of the past and a re-emerging threat. Biosafety and Health, 1(2), 65-70.
  8. a b Laumonier, L. (2020), A tale of plagues: the plague was not just a medieval illness. History Today, 22-24.
  9. a b Rosen, W. (2007). Justinian's flea: The first great plague and the end of the roman empire. Penguin.
  10. a b c Wagner, D. M., Klunk, J., Harbeck, M., Devault, A., Waglechner, N., Sahl, J. W., Enk, J., Birdsell, D. N., Kuch, M., Lumibao, C., Poinar, D., Pearson, T., Fourment, M., Golding, B., Riehm, J. M., Earn, D. J. D., DeWitte, S., Rouillard, J.-M., Grupe, G., Wiechmann, I., Bliska, J. B., Keim, P. S., Scholz, H. C., Holmes, E. C., Poinar, H. (2014). Yersinia pestis and the plague of Justinian 541–543 AD: a genomic analysis. The Lancet Infectious.
  11. a b c d Atkinson J. (2002). The plague of 542: not the birth of the clinic. Acta Classica, 45, 1-18.
  12. a b c d Eisenberg, M., & Mordechai, L. (2019). The justinianic plague: an interdisciplinary review. Byzantine and Modern Greek Studies, 43(02), 156-180.
  • Atkinson J. (2002). The plague of 542: not the birth of the clinic. Acta Classica, 45, 1-18.
  • Bower B. (2020). A sixth century plague wasn't so dire. Science News, p. 197(1):15.
  • Ditchburn, J., & Hodgkins, R. (2019). Yersinia pestis, a problem of the past and a re-emerging threat. Biosafety and Health, 1(2), 65-70.
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  • Little, L. K. (2007). Plague and the end of antiquity: The pandemic of 541-750. Cambridge University Press.
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