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Édito de Tessalônica

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Édito de Tessalônica
Édito de Tessalônica
Édito de Tessalônica
Teodósio I
Propósito Estabeleceu a religião católica como religião de estado do Império Romano
Local de assinatura Tessalônica
Signatário(a)(s) Graciano, Valentiniano II e Teodósio
Criado 27 de fevereiro de 380 (1 644 anos)

O Édito de Tessalônica (português brasileiro) ou Tessalónica (português europeu) ou Salonica, também conhecido como Cunctos Populos ou De Fide Catolica foi decretado pelo imperador romano Teodósio I a 27 de fevereiro de 380 d.C.[1][2][3] pelo qual estabeleceu que o cristianismo tornar-se-ia, exclusivamente, a religião de estado, no Império Romano,[4] abolindo todas as práticas politeístas dentro do império e fechando templos pagãos.[5][6]

Constantino e o fim da perseguição

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Nos primórdios do século IV, Constantino terminara com a clandestinidade dos cristãos, outorgando-lhes certos privilégios e permitindo a construção de grandes templos. Em 313 d.C., através do Édito de Milão, o imperador decretara a liberdade de culto religioso a toda manifestação de crença, inclusive cristã, e o fim do paganismo como religião oficial do Império Romano.

Constantino

Em troca disto, Constantino participou das disputas que já existiam no seio da igreja, convocando em 325 d.C. o Concílio de Niceia. Neste concílio foram desterradas as teses arianas. Apesar disso, o cisma ariano prolongar-se-ia ao menos até o século VI, e não terminaria até a morte do último dos monarcas arianos: O rei visigodo Leovigildo. Do Concílio de Niceia originar-se-ia o chamado Credo Niceno, último ponto de encontro entre as igrejas do Oriente e Ocidente.

O mesmo imperador Constantino foi o primeiro governante do Império Romano de credo cristão, embora não fosse batizado até pouco antes de falecer. Com ele começava uma nova época para a igreja, e em transcurso do século IV a sua influência nas esferas do poder aumentaria, apesar do parêntese de três anos que implicou o governo de Juliano, durante o qual o paganismo foi restaurado, porém em 380 d.C., através do Édito de Tessalônica, o cristianismo tornou-se na religião oficial tanto no Oriente quanto no Ocidente.

O Império do Ocidente em finais do século IV

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De Niceia, e apesar das fortes disputas que não se calaram com este concílio e que enfrentavam a igreja oriental com a de ocidente pela supremacia hierárquica, o culto cristão conseguira medrar em todo o território do império. Porém, embora a sua implantação fosse elevada nas classes dominantes, ainda tinha pouca penetração entre as classes populares e os estamentos militares.

O imperador Teodósio herdara um império dividido e sumido numa profunda crise. Após longos anos de desordem do século anterior, Diocleciano iniciara a divisão do império em uma metade oriental, mais rica e politicamente estável, e uma metade ocidental menos pujante na sua economia e acossada pela pressão dos povos bárbaros procedentes da Germânia. Apesar da reunificação de Constantino, a queda da metade ocidental e a perda nesta da autoridade imperial eram já iminentes.

O Édito de Tessalônica

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A 24 de novembro de 380 d.C., fazia-se público o édito nos seguintes termos:[a]

(em português:)
Édito dos imperadores Graciano, Valentiniano (II) e Teodósio Augusto, ao povo da cidade de Constantinopla.
"Queremos que todos os povos governados pela administração da nossa clemência professem a religião que o divino apóstolo Pedro deu aos romanos, que até hoje foi pregada como a pregou ele próprio, e que é evidente que professam o pontífice Dámaso e o bispo de Alexandria, Pedro, homem de santidade apostólica. Isto é, segundo a doutrina apostólica e a doutrina evangélica cremos na divindade única do Pai, do Filho e do Espírito Santo sob o conceito de igual majestade e da piedosa Trindade. Ordenamos que tenham o nome de cristãos católicos quem sigam esta norma, enquanto os demais os julgamos dementes e loucos sobre os quais pesará a infâmia da heresia. Os seus locais de reunião não receberão o nome de igrejas e serão objeto, primeiro da vingança divina, e depois serão castigados pela nossa própria iniciativa que adotaremos seguindo a vontade celestial. Dado o terceiro dia das
Kalendas de março em Tessalônica, no quinto consulado de Graciano Augusto e primeiro de Teodósio Augusto.

Com este édito, o Império Romano na íntegra passava a ter uma nova religião oficial depois de 67 anos de liberdade de culto. O Panteão Romano fora complementado ao longo de muitos séculos com os deuses, deidades e lares domésticos, com o culto aos próprios antepassados e até mesmo com divindades pré-romanas que foram assimiladas durante o processo de romanização em muitos lugares do império. Tudo isto devia ser agora abandonado no culto a uma religião monoteísta e as normas morais que a acompanhavam.

O cesaropapismo

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Ver artigo principal: Cesaropapismo
Ambrósio nega a entrada na igreja a Teodósio
por Anthony van Dyck, National Gallery

Contudo, esta oficialização do culto também não beneficiou totalmente a Igreja. Como máxima autoridade do império, Teodósio incluiu o sacerdócio nos funcionários públicos, o que na prática os situava sob a sua autoridade.

No ano seguinte da promulgação do Édito de Tessalônica, o mesmo imperador Teodósio convocava o Primeiro Concilio Ecumênico de Constantinopla. O seu objetivo era conciliar a ortodoxia cristã com os simpatizantes do arianismo e tratar a problemática da heresia macedônica. Também confirmar o credo Niceno como a doutrina oficial da igreja. Na realidade, as teses arianas foram de novo recusadas, e posteriormente foi emitido um novo édito imperial que dava caráter legal às conclusões do concílio.

Amostra das fortes tensões geradas neste período entre Igreja e Estado é a excomunhão que o mesmo imperador sofreria em 390 d.C., decretada por Santo Ambrósio após a revolta e posterior matança em Tessalônica, onde teriam sido mortas cerca de seis mil pessoas. O imperador foi escarnecido em público pelo bispo de Milão, negando este a entrada na igreja. Após uma longa penitência e como compensação, o imperador decretou em 392 d.C. a proibição dos sacrifícios pagãos, e uma imensa massa da população viu-se obrigada a professar uma religião não muito acorde com os costumes sociais e morais da sua civilização. Ao amparo desta nova proibição começou uma forte repressão contra a população pagã, que teve a sua culminação na segunda destruição da biblioteca de Alexandria e do grande templo de Serapis por uma multidão encabeçada pelo patriarca da cidade, Teófilo.

[a] ^ IMPPP. GR(ATI)IANUS, VAL(ENTINI)ANUS ET THE(O)D(OSIUS) AAA. EDICTUM AD POPULUM VRB(IS) CONSTANTINOP(OLITANAE). Cunctos populos, quos clementiae nostrae regit temperamentum, in tali volumus religione versari, quam divinum Petrum apostolum tradidisse Romanis religio usque ad nuc ab ipso insinuata declarat quamque pontificem Damasum sequi claret et Petrum Aleksandriae episcopum virum apostolicae sanctitatis, hoc est, ut secundum apostolicam disciplinam evangelicamque doctrinam patris et filii et spiritus sancti unam deitatem sub parili maiestate et sub pia trinitate credamus. Hanc legem sequentes Christianorum catholicorum nomen iubemus amplecti, reliquos vero dementes vesanosque iudicantes haeretici dogmatis infamiam sustinere ‘nec conciliabula eorum ecclesiarum nomen accipere’, divina primum vindicta, post etiam motus nostri, quem ex caelesti arbitro sumpserimus, ultione plectendos. DAT. III Kal. Mar. THESSAL(ONICAE) GR(ATI)ANO A. V ET THEOD(OSIO) A. I CONSS.(Código Teodosiano 16.1.2)

Referências

  1. Simón, Francisco Marco (2002). Religión y propaganda política en el mundo romano (em espanhol). [S.l.]: Edicions Universitat Barcelona 
  2. «Cópia arquivada». Consultado em 30 de maio de 2019. Arquivado do original em 20 de junho de 2012 
  3. «Fourth Century Christianity » Imperial Laws and Letters Involving Religion, AD 364-395». Consultado em 27 de fevereiro de 2021 
  4. Theodosian Code XVI.i.2, Medieval Sourcebook: Banning of Other Religions by Paul Halsall, June 1997, Fordham University, retrieved 2007-09-04
  5. Emperor Theodosius I. «"IMPERATORIS THEODOSIANI CODEX Liber Decimus Sextus"» (web). ancientrome.ru. Consultado em 4 de dezembro de 2006 
  6. R. Gerberding and J. H. Moran Cruz, Medieval Worlds (New York: Houghton Mifflin Company, 2004) p. 57
  • Constantinopla (Historia Universal Asimov, 7), Isaac Asimov, Alianza Editorial, ISBN 84-206-3533-2
  • Enciclopedia Labor. Tomo V: El hombre a través del tiempo (I). Roma, pág. 221 - Ed. Labor, 1958