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Crise financeira chega ao Nós do Morro - Jornal O Globo
Rio

Crise financeira chega ao Nós do Morro

Grupo de teatro do Vidigal, que já lançou diversos atores, pede ajuda para sobreviver

Sem recursos. Guti Fraga, um dos fundadores do grupo: turmas foram reduzidas
Foto: Monica Imbuzeiro / Agência O Globo
Sem recursos. Guti Fraga, um dos fundadores do grupo: turmas foram reduzidas Foto: Monica Imbuzeiro / Agência O Globo

RIO - Se a arte imita a vida (e vice-versa), a crise financeira que teima em tumultuar o país está pregando uma peça no Grupo Nós do Morro, entidade que vai completar 31 anos em outubro e que se tornou referência na formação de atores nascidos e criados no Morro do Vidigal. Parceira desde 2000, a Petrobras suspendeu o patrocínio no ano passado, e a escassez de recursos está fazendo com que gestores da escola de atores peçam ajuda e tentem encontrar padrinhos para financiar as atividades e até mesmo para pagar as contas rotineiras do casarão onde funciona.

Guti Fraga, de 65 anos, um dos fundadores do grupo em 1986, diz que o fechamento do espaço ainda não foi cogitado, mas ressalta que a situação está muito difícil.

— Não chegamos a falar nisso (fechamento), mas não sei como vai ser. Falta tudo, até mesmo recursos para bancar o cotidiano. Na semana passada, nos reunimos para ver quem vai pagar a conta de luz do mês. Chegamos a ter 800 pessoas envolvidas nos projetos. Hoje, temos pouco mais de cem. A chegada da Petrobras, no ano 2000, fez uma grande diferença. Tínhamos três turmas e passamos a ter 18. Ainda abrimos espaço para não moradores do Vidigal. Há cerca de um mês, só tivemos seis vagas para oferecer na companhia, base do Nós do Morro. E mais de mil pessoas se mostraram interessadas. Fiquei bastante deprimido — lamenta Guti, antes de fazer um apelo por doações. — Quem desejar ajudar tem a liberdade de ligar para 2512-4758 ou 3874-9412. Ou pode entrar pelo e-mail nosdomorro.adm@gmail.com e falar direto com a administração. Damos recibo de doação, transformamos essas pessoas em nossos padrinhos, teremos uma relação direta com elas, fornecendo relatórios de coisas que foram feitas. Tem sido a maneira que temos conseguido, mas ainda são poucos os doadores.

Ponte para o sucesso de atores nascidos no morro, como Roberta Rodrigues, Thiago Martins, Jonathan Haagensen e Leandro Firmino, todos participantes do premiado "Cidade de Deus," de Fernando Meirelles, o Grupo Nós do Morro também sobrevive com a ajuda de recursos do "Criança Esperança".

Ele patrocina o projeto "Crescendo com arte", que conta atualmente com 75 crianças de 6 a 11 anos. Formada no grupo, a atriz, escritora e diretora Luciana Bezerra, autora de "5xFavela", filme exibido em Cannes pelo cineasta Cacá Diegues, dá a dimensão do problema atual.

— Hoje, o grupo tem 75 crianças dentro do projeto "Crescendo com arte", do "Criança Esperança". O grupo já teve 800 pessoas, já atendeu 18 turmas até 2012. Essa redução é fruto da crise financeira e traz para a gente uma tristeza muito grande porque essas pessoas estão aí, pedindo vaga para estudar. No Rio de Janeiro, só conheço essa escola totalmente de graça. Para um artista, em especial para aquele não tenha nascido em uma família abastada, essa era a chance de fazer teatro, de aprender cinema. E foi assim durante muito tempo. E é isso que a gente gostaria que voltasse — diz Luciana.

O gasto mensal de manutenção do casarão, ocupado pelo Nós do Morro em regime de comodato com a ONG Íbis, gira em torno de R$ 60 mil, segundo Luciana, que cuida da administração do espaço. Ela tem consciência das necessidades e se esforça para equilibrar as contas:

— Este semestre ficou muito difícil para a gente. É uma instituição bastante conhecida, e a gente espera que amigos possam nos ajudar a atravessar essa crise — diz Luciana, que ainda tenta retomar a parceria com a Petrobras.