A única coisa boa do filme é que ele acaba rapidamente.
Xuxa Meneghel foi dona, recentemente, de algumas das melhores bilheterias brasileiras. Este público, que parecia ser fiel, cresceu, ao contrário da apresentadora / atriz / cantora, e as rendas de seus últimos longas-metragens foram minguando e minguando. Necessitando de uma reciclagem, ela tirou um ano de folga dos cinemas e foi atrás de algum material que já possuísse apelo com público e crítica. Voltou com “O Mistério de Feiurinha”, um livro infantil bem famoso, cultuado e encenado nas escolas, e que prometia ser sucesso entre a criançada.
Mas, aparentemente, o encanto da Xuxa já se perdeu. A ex-rainha dos baixinhos já não enche mais salas e durante a sessão as crianças também não vibram a todo momento como antigamente. A razão disso é simples: ela, em toda sua "retomada", iniciada com Xuxa Requebra em 1999, se usava de sua personalidade para atrair o interesse da criançada. Mas não somente essa geração foi crescendo, como as seguintes já não possuem mais com ela uma ligação tão forte assim. Tentou solucionar o enigma indo paras animações, em Xuxinha e Guto Contra os Monstros do Espaço, mas em todos os casos esbarra em um problema: a falta de frescor e originalidade nos roteiros, impossibilitando os espectadores, por menores que sejam, de querer rever o filme várias vezes.
Em Xuxa em o Mistério de Feiurinha temos o escritor infantil Pedro (Antônio Pedro) morando misteriosamente em um navio, junto de sua assistente (Zezé Motta) enquanto tenta criar uma história, mas sempre esbarra no "era uma vez...". De repente, aparece no caminho deles um homem estranho, vestido com um figurino espalhafatoso, bem ao estilo de conto de fadas: é Caio Lacaio (Paulo Gustavo Bastos), que veio ao mundo real com uma missão: descobrir a história de Feiurinha.
É que no mundo encantado, após seus finais felizes, Cinderela (Xuxa), Branca de Neve (Daniele Valente), Rapunzel (Angélica), Bela (Lavínia Vlasak) e Bela Adormecida (Simone Soares) vivem tranqüilamente enquanto cuidam das filhas e trocam fofocas e farpas sobre qual é a mais heroína. Seus maridos, por outro lado, só querem saber de futebol. Eles são todos filhos da Rainha Mãe (Hebe Camargo). Para completar o time, temos a personagem mais “engraçadinha” que é a de Chapeuzinho Vermelho, única não-princesa e não-casada, interpretada justamente pela comediante Samantha Schmutz.
A vida banal dá lugar a uma enorme preocupação com o fato do sumiço da princesa Feiurinha. Ela era uma princesa que não era vista há muito tempo e por isso já estava meio esquecida. Mesmo com Chapeuzinho e Rapunzel se lembrando um pouco dela, ninguém sabia direito seu paradeiro e o seu passado. A aflição das protagonistas dos contos é que se Feiurinha sumiu, qualquer uma outra poderia ser a próxima, estragando o “felizes para sempre”. Então elas decidem procurar a princesa perdida o mais rápido possível.
Querendo ser o mais caça-níquel possível, Xuxa trouxe o máximo de estrelas para o projeto. Além de Schmutz e Vlazak, temos Hebe Camargo fazendo ponta de luxo e Angélica aparecendo ao lado de seu marido Luciano Huck. Luciano Szafir, na época companheiro de Xuxa, interpreta o marido da Cinderela, mais preocupado com os colegas de campo do que com a esposa, provocando várias briguinhas ridículas, culminando na transformação dele em um sapo.
Se o filme ficou célebre por algo, porém, é por marcar a estreia como atriz da filha de Xuxa e Szafir, Sasha Meneghel, como a princesa Feiurinha, que aparece na parte final da trama.
Todas celebridades cumprem o papel de "eu estou aqui na tela, não me exija talento". Sasha, porém, extrapola todas as barreiras. Ela não possui expressão facial e muito menos talento, característica que ou herdou de sua mãe, já calejada com más atuações desde Amor Estranho Amor, há três décadas, ou do pai, que provavelmente tem uma das piores atuações da história do cinema neste filme.
Tizuka Yamazaki teria dito sobre a falta de talento de Sasha que "cinema é arte do engano". Ela então com certeza nos enganou que tinha futuro com Gaijin - Os Caminhos da Liberdade, em 1980. Desde então caiu num poço sem fundo dirigindo veículos para Renato Aragão e Xuxa, sem a menor preocupação artística. Aqui as cenas são mal estruturadas. Na primeira parte conta com um bando de princesa gritando e falando ao mesmo tempo, tentando evocar risos, enquanto na história de Feiurinha, Sasha Meneghel não consegue transmitir o menor carisma, além de ser totalmente falsa ao possuir ainda compaixão com as bruxas que estão a prendendo há mais de dez anos.
O seu romance com o príncipe, que inclusive foi escolhido em uma acirrada competição televisiva, é sem dúvidas a gota d'água do filme. Em nenhum momento (da curtíssima e inverossímil cena) há química entre os jovens para se mostrarem apaixonados. Mas nem se pode reclamar com a menina quando esta também não existe entre Szafir e Xuxa, e são mais irritantes ainda as repetitivas cenas em que ele troca o amor da esposa pelo amor com a bola, culminando numa coreografia patética, estranhíssima e com uma decupagem de planos ridícula no final da trama.
A única coisa boa do filme é que ele não se alonga muito e acaba muito rápido. Agora a torcida é para que Xuxa só volte aos cinemas quando ela perder a batalha jurídica e Amor, Estranho Amor for relançado nos cinemas.
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