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Uma COP que caiu no poço | Academia Brasileira de Letras
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Uma COP que caiu no poço

 

Nesse momento repetiram-se os aplausos. Os delegados, exaustos, dormiam por todos os lados, uns em sofás amassados, outros no chão em grossos tapetes.

Uma coisa muito difícil é o êxito dessas conferências. Esta, a COP29, dias antes do fracasso, transferiu a solução dos financiamentos dos países em desenvolvimento para a próxima Conferência, já convocada para Belém, que tem a sedução chamativa de ser localizada na cidade que fica na foz do Rio Amazonas, com toda a sua grandeza, suas lendas e seus mistérios.

A primeira reunião promovida pelas Nações Unidas em busca de um pacto global para enfrentar o problema do Meio Ambiente e o despertar do mundo para a destruição da natureza e a liberação de gases tóxicos ocorreu em Estocolmo, em 1972, quando pela primeira vez se discutiu um novo modelo de desenvolvimento para o Século 21, baseado na sustentabilidade.

Nesse tempo o Brasil estava no banco dos réus, quando se divulgava a tese — que não era verdadeira — de que a Amazônia era o pulmão do mundo e que estávamos queimando a floresta ameaçando assim a sobrevivência da Humanidade.

Eu era Senador nesse tempo e fiz o primeiro discurso no Congresso Nacional sobre Meio Ambiente, analisando o que fora discutido em Estocolmo contra o Brasil. Já em 1989 eu era Presidente do Brasil e, para desmentir e anular a campanha contra nosso país, apresentamos o Brasil para sediar a Segunda Conferência do Meio Ambiente e fizemos um acordo para que se realizasse no Rio de Janeiro, o que foi aprovado: em 1992, quando eu já tinha deixado o Governo, ocorreu a Rio-92, também conhecida como Eco-92. A Conferência foi um sucesso, com grande repercussão social, e despertou o mundo. Mas o problema do clima ainda não era a bola da vez. Este só veio aflorar mesmo no século 21 com a marca do aquecimento global e o problema das águas, que passou a ser grave, já ameaçando alguns países.

Assim, estamos agora, com evidência científica, sabendo que, se não enfrentarmos seriamente o aquecimento global até o fim do século, os oceanos crescerão, as cidades das orlas estão ameaçadas de inundação, as chuvas aumentarão, assim como o número de tsunami, de secas e desastres climáticos, e assim começará a destruição da Terra.

Enquanto isso, os países ricos pensam que irão salvar-se, com esses 300 bilhões de dólares e a destruição das geleiras e as inundações.

Que Belém do Pará possa ter êxito e que lá os países ricos tenham ouvidos para ouvir e olhos para ver que precisamos salvar o Planeta. Que o futuro não os acuse de suicidas.

Imirante, 26/11/2024