Portugueses: diferenças entre revisões
m Artigo principal em subseção: Povos pré-romanos |
Reformulação da origem do povo português e adição da genética. Etiquetas: Revertida Editor Visual |
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Os '''portugueses''' são um [[povo]] e [[grupo étnico]] nativo de [[Portugal]], um país localizado no leste da [[Península Ibérica]], entre a [[Europa Ocidental]] e [[Europa meridional|Meridional]], cujo idioma é a [[língua portuguesa]] e a religião predominante é o [[Igreja Católica|catolicismo]]. O povo português partilha em comum, para além da língua, uma cultura e uma ancestralidade. |
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A base genética do povo português está na miscigenação entre os [[Caçadores-coletores ocidentais|caçadores-recoletores]] que habitaram a Europa Ocidental durante milénios, os [[Primeiros agricultores europeus|agricultores]] da [[Anatólia]] que chegaram à região há sete mil anos, os pastores [[Protoindo-europeus|indo-europeus]] que chegaram à região durante a [[Idade do Bronze]] e os [[Celtas|povos celtas]] que chegaram à região durante a [[Idade do Ferro]]. Também contribuíram para a sua formação [[Roma Antiga|romanos]], [[Germanos|germânicos]], [[judeus]] e [[mouros]] ([[Árabes|árabe]]-[[berberes]]). |
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[[Genética|Geneticamente]], os dados apontam para uma fraca diferenciação interna dos portugueses, cuja base é essencialmente [[Europa continental|continental europeia]] de origem [[Paleolítico|paleolítica]]. A base genética da população do território português mantém-se aproximadamente a mesma nos últimos quarenta milénios, apesar da presença de inúmeros povos no território português que também contribuíram para o [[Fundo genético|património genético]] dos seus habitantes. |
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Culturalmente, as presenças |
Culturalmente, as presenças celta, romana, germânica e moura foram significativas, tal como foram decisivas a vizinhança e as relações com os restantes países [[Europa|europeus]] e as [[Império Português|relações coloniais]] com [[África]], o [[Brasil]] e o [[Oceano Índico|Índico]] a partir dos séculos XV e XVI. |
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O embrião do Estado Português foi o [[Condado Portucalense]], fundado em 868 e subordinado ao [[Reino de Leão]]. No entanto, só após a [[Batalha de São Mamede]] (1128) é que Portugal ganhou reconhecimento internacional como um reino independente, através do [[Tratado de Zamora]] (1143) e da bula papal [[Manifestis Probatum]] (1179). Este estabelecimento do Estado português no século XII abriu o caminho para que o povo português se unisse como nação. |
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Os portugueses tiveram um papel importante nas [[Era dos Descobrimentos|Grandes Navegações]] e foram responsáveis por [[Descobrimentos portugueses|explorar terras]] até então desconhecidas pelos europeus ao redor do mundo, em locais como África, [[América|Américas]] e [[Ásia]]. A [[conquista de Ceuta]], em 1415, marcou o início do [[Império Português]], que foi um dos primeiros impérios globais e uma potência económica, politica e militar nos séculos XV e XVI. |
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No período moderno, os processos [[migração humana|migratórios]] mais relevantes em [[Portugal]] deram-se nas últimas três décadas do {{séc|XX}} e até ao presente, com a notável exceção da entrada de grupos [[ciganos]] ainda no {{séc|XV}}. Após 1974, o país torna-se um recetor significativo de populações migrantes, quer como resultado direto ou indireto da [[Descolonização portuguesa de África|descolonização de África]], quer como resultado da participação de Portugal na [[União Europeia]]. Portugal tem vindo a receber em número crescente populações migrantes oriundas do Brasil (ex-colónia portuguesa), África (com maior relevância das ex-colónias), [[Ucrânia]] (e países do [[Leste Europeu]] em geral), além duma multiplicidade demograficamente menos significativa doutras origens, entre as quais avoluma a [[República Popular da China|chinesa]]. |
No período moderno, os processos [[migração humana|migratórios]] mais relevantes em [[Portugal]] deram-se nas últimas três décadas do {{séc|XX}} e até ao presente, com a notável exceção da entrada de grupos [[ciganos]] ainda no {{séc|XV}}. Após 1974, o país torna-se um recetor significativo de populações migrantes, quer como resultado direto ou indireto da [[Descolonização portuguesa de África|descolonização de África]], quer como resultado da participação de Portugal na [[União Europeia]]. Portugal tem vindo a receber em número crescente populações migrantes oriundas do Brasil (ex-colónia portuguesa), África (com maior relevância das ex-colónias), [[Ucrânia]] (e países do [[Leste Europeu]] em geral), além duma multiplicidade demograficamente menos significativa doutras origens, entre as quais avoluma a [[República Popular da China|chinesa]]. |
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Portugal foi tradicionalmente uma terra de [[emigração]], desde o período da |
Portugal foi tradicionalmente uma terra de [[emigração]], desde o período da expansão imperial e colonial, passando, por exemplo, pela emigração económica para o [[Imigração portuguesa no Brasil|Brasil]] no {{séc|XIX}} e pela emigração económica, a partir de 1960, para alguns países da Europa Ocidental. Além dos cerca de dez milhões de portugueses residentes em Portugal, estima-se existirem milhões mais espalhados pelo [[mundo]] (incluindo os [[lusodescendente]]s recentes) num total de milhões de pessoas com raízes portugueses.<ref>{{Citar web|ultimo=Neves|primeiro=Marco|url=https://certaspalavras.pt/os-brasileiros-os-galegos-e-os-portugueses/|titulo=Os brasileiros, os galegos e os portugueses|data=2015-01-26|acessodata=2022-03-23|website=Certas Palavras|lingua=pt-PT}}</ref> |
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== Características físicas == |
== Características físicas == |
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Os portugueses, assim como outros povos do [[sul da Europa]] e [[Mediterrânico|mediterrânicos]], são uma população predominantemente morena.<ref>[https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/18309/2/ULFBA_TES781.pdf repositorio.ul.pt - pdf]</ref> |
Os portugueses, assim como outros povos do [[sul da Europa]] e [[Mediterrânico|mediterrânicos]], são uma população predominantemente morena.<ref>[https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/18309/2/ULFBA_TES781.pdf repositorio.ul.pt - pdf]</ref> |
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== Origens e formação == |
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{{Artigo principal|História de Portugal|História genética da Península Ibérica}} |
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Os portugueses são uma [[população]] [[Europa meridional|sul europeia]], predominantemente [[Europa atlântica|atlântico europeia]] e oeste-[[Mar Mediterrâneo|mediterrânica]]. Foram muitos os [[Migração humana|processos migratórios]] que contribuíram para a formação do [[povo]] português, mas o grande contributo parece ser o mais antigo, ou seja, a população portuguesa, tal como as restantes populações ibéricas e algumas das outras populações da [[Europa Ocidental]] (particularmente costeira ou insular), são maioritariamente resultantes de processos de povoamento [[paleolítico]]s, aquando da chegada e [[História da Europa|povoamento da Europa]] por [[Homo sapiens|humanos modernos]] (progressivamente substituindo as populações de [[Neandertal|Neandertais]], que viriam a extinguir-se precisamente no oeste e sul da Península Ibérica). De facto, cerca de 60%, em média, das [[Genética|linhagens genéticas]] em Portugal apresentam [[Marcador genético|marcadores]] que as caracterizam como de origem paleolítica, nomeadamente o [[Haplogrupo]] [[M343|R1b]] ([[Cromossoma Y (humano)|Y-cromossomático]])<ref name="pubmedcentral.nih.gov">{{Citar web |url=http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?&pubmedid=11078479 |título=Z.H. Rosser et al. (2000), ''Y-Chromosomal Diversity in Europe Is Clinal and Influenced Primarily by Geography, Rather than by Language'', Am J Hum Genet. 2000 December; 67(6): 1526–1543}}</ref> e o Haplogrupo H ([[DNA mitocondrial|ADN mitocondrial]]).<ref>{{Citar web |url=http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15254257 |título=Eva-Liis Loogväli et al. (2004), ''Disuniting Uniformity: A Pied Cladistic Canvas of mtDNA Haplogroup H in Eurasia'', Mol Biol Evol. 2004 Nov;21(11):2012-21}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.genome.org/cgi/content/full/15/1/19#FIG1 |título=L. Pereira et al. (2005)), ''High-resolution mtDNA evidence for the late-glacial resettlement of Europe from an Iberian refugium''. Genome Research - Cold Spring Harbor Laboratory Press, 1-1-2005; 15(1): 19 - 24}}</ref> |
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=== Paleolítico e Neolítico === |
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Desenvolvimentos recentes das [[metodologia]]s para definição das [[estrutura]]s populacionais levaram a um estudo de 2006<ref>{{Citar web |url=http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17044734 |título=, M.F. Seldin et al. (2006), ''European Population Substructure: Clustering of Northern and Southern Populations'', PLoS Genet. 2006 Sep 15;2(9):e143}}</ref> que concluiu verificar-se uma clara e consistente divisão entre grupos populacionais sul e [[Europa setentrional|norte europeus]]. Um estudo adicional de 2007 posiciona as populações ibéricas algo afastadas de outros grupos continentais, incluindo outros grupos sul-europeus, dando fundamento à hipótese que a Península Ibérica alberga as populações com a origem mais antiga de toda a Europa. Neste estudo, a mais importante diferenciação genética europeia atravessa o continente de norte para sudeste, acompanhada de um outro eixo de diferenciação este-oeste (diferenciando o sul do norte), ao mesmo tempo que se verificou, apesar destas linhas de demarcação relativa, a homogeneidade e proximidade genética de todas as populações europeias.<ref>{{Citar web |url=http://vetinari.sitesled.com/euroaims.pdf |título=Marc Bauchet et al. (2007), ''Measuring European Population Stratification using Microarray Genotype Data'', The American Journal of Human Genetics, vol. 80 |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20081218230512/http://vetinari.sitesled.com/euroaims.pdf |arquivodata=2008-12-18 |urlmorta=yes }}</ref> |
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Os primeiros humanos anatomicamente modernos alcançaram a [[Europa]] vindos da Anatólia há 45 mil anos, alcançando a Península Ibérica alguns milénios depois.<ref>{{Citar web|ultimo=Curry|primeiro=Andrew|url=https://www.nationalgeographic.pt/historia/quem-foram-os-primeiros-europeus_2190|titulo=Quem foram os primeiros europeus?|data=2020-02-14|acessodata=2024-11-08|website=National Geographic Portugal|lingua=}}</ref><ref name=":0">{{citar livro|título=Os Portugueses|ultimo=Scott|primeiro=Ana Silvia|editora=Contexto|ano=2012|local=São Paulo}}</ref> Nos milénios que seguiram-se, acompanhando a progressiva retração e extinção das populações [[Homem de Neandertal|neandertais]], as culturas humanas modernas floresceram na Península Ibérica, produzindo culturas e períodos como o [[Período Aurignaciano|aurignaciano]], [[Período Gravetiano|gravetiano]], [[solutreano]] e [[Cultura Magdaleniana|magdaleniano]], alguns deles caracterizados por formas complexas de arte pré-histórica e que produziram expressões artísticas tão monumentais como as [[Sítios de arte rupestre do Vale do Coa|pinturas rupestres do Vale do Côa]], no [[norte de Portugal]]. |
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Um estudo genético de 2019, que analisou o DNA de habitantes da Península Ibérica, dos últimos 8 000 anos, sugere que a população portuguesa e espanhola foi formada pelas seguintes ondas migratórias:<ref>{{citar periódico|último =Olalde|primeiro =Iñigo|último2 =Mallick|primeiro2 =Swapan|último3 =Patterson|primeiro3 =Nick|último4 =Rohland|primeiro4 =Nadin|último5 =Villalba-Mouco|primeiro5 =Vanessa|último6 =Silva|primeiro6 =Marina|último7 =Dulias|primeiro7 =Katharina|último8 =Edwards|primeiro8 =Ceiridwen J.|último9 =Gandini|primeiro9 =Francesca|último10 =Pala|primeiro10 =Maria|último11 =Soares|primeiro11 =Pedro|data=2019-03-15|título=The genomic history of the Iberian Peninsula over the past 8000 years|url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6436108/|periódico=Science (New York, N.Y.)|volume=363|número=6432|páginas=1230–1234|doi=10.1126/science.aav4040|issn=0036-8075|pmc=6436108|pmid=30872528}}</ref> |
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# [[Mesolítico]] (c. 8 000 a.C.): há um influxo inicial de [[caçadores-coletores]] da [[Europa Central]], que migraram para o noroeste da Península Ibérica; |
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# Início do [[Neolítico]] (c. 5 000 a.C.): agricultores neolíticos mudam-se para a Península Ibérica, introduzindo a ancestralidade da [[Anatólia]]; |
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# Médio [[Neolítico]] (c. 4 000 a.C.): influxo adicional de caçadores-coletores da Europa Central; |
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# [[Idade do Cobre]] (c. 3 000 a.C.): algum influxo de genes pelo contato esporádico com o [[Norte da África]]; |
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# [[Idade do Bronze]] (c. 2 000 a.C.): fluxo gênico adicional do Centro e do Norte da Europa; |
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# [[Idade do Ferro]] (c. 000 a.C.): mais fluxo gênico do Centro e do Norte da Europa; |
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# [[Hispânia|Período Romano]] (c. ano 0): influxo genético do [[Mediterrâneo]] central e oriental. Algum influxo adicional de genes norte-africanos, no sul da Península Ibérica; |
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# [[Reino Visigodo|Período Visigótico]] (c. ano 400): nenhum influxo genético duradouro; |
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# [[Invasão muçulmana da Península Ibérica|Período Muçulmano]] (c. ano 1000): fluxo gênico adicional do Norte da África. Com a [[Reconquista]], há uma maior troca de fluxo gênico do resto da Península Ibérica em direção ao Sul, seguido da expulsão dos [[mouriscos]], reduzindo a contribuição norte-africana, mas sem eliminá-la completamente. |
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=== A base paleolítica das modernas populações ibéricas === |
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[[Imagem:Y-Haplogroup R1 distribution.png|thumb|200px|esquerda|Distribuição do haplogrupo '''R1b''' (vermelho)]] |
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Entre o 45.º e o 40.º milénios antes do presente, durante o [[Paleolítico Superior]] e a [[Glaciação Wisconsin|última Idade Glaciar]], o primeiro povoamento da Europa por seres humanos modernos ocorreu (com o chamado [[Cro-Magnon|Homem de Cro-Magnon]]). Estes eram [[caçadores-recoletores]] [[Nomadismo|nómadas]] originários das [[estepe]]s da [[Ásia Central]]. Quando a última glaciação atingiu o seu máximo, entre o 35.° e o 30.º milénio antes do presente, estes humanos modernos refugiaram-se no sul da Europa, nomeadamente na [[Península Ibérica]], tendo aí entrado por via do sul do atual [[Geografia da França|território francês]], através dos [[Pirenéus]]. Nos milénios que se seguiram, acompanhando a progressiva retração e extinção das populações Neandertais, as [[cultura]]s humanas modernas floresceram na Península Ibérica, produzindo períodos como o [[Período Aurignaciano|Aurignaciano]], [[Gravetiense]], [[Solutrense]] e [[Período Magdaleniano|Magdaleniano]], alguns deles caracterizados por formas complexas de [[Arte rupestre|arte pré-histórica]] e que produziram expressões artísticas tão monumentais como o [[Sítios de Arte Rupestre do Vale do Côa|Vale do Côa]] (em Portugal). |
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Estas populações paleolíticas, a grande base [[Dinâmica populacional|démica]] da presente população portuguesa, eram relativamente homogéneas geneticamente (caracterizadas pela mutação M173 no Cromossoma Y), e viriam a desenvolver a mutação [[M343]], originando o Haplogrupo R1b, dominante ainda hoje entre os Portugueses e outros europeus ocidentais como [[Britânicos]], [[Franceses]], [[Irlandeses]], [[Belgas]] e etc. |
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[[Imagem:Europe20000ya.png|thumb|250px|Refúgios populacionais europeus durante o último máximo glaciar, cerca de 20 000 anos atrás]] |
[[Imagem:Europe20000ya.png|thumb|250px|Refúgios populacionais europeus durante o último máximo glaciar, cerca de 20 000 anos atrás]] |
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Com o início do [[Último máximo glacial|Último Máximo Glaciar]], há 30 mil anos, a Península Ibérica foi um dos refúgios dos caçadores-recoletores europeus, com grande parte da Europa coberta por gelo. Há cerca de 20 mil anos, os caçadores-coletores de pele e olhos escuros que habitavam a Ibéria foram substituídos por caçadores-recoletores vindos dos [[Bálcãs|Balcãs]], os quais tinham pele escura e olhos claros e um pouco de ancestralidade do [[Oriente Próximo|Próximo Oriente]].<ref>{{Citar web|ultimo=Jordans|primeiro=Frank|url=https://apnews.com/article/17501b0b5c9ff0eb2006b98a87492968|titulo=Europeos sobrevivieron a Edad de Hielo en Península Ibérica|data=2023-03-02|acessodata=2024-11-08|website=AP News|lingua=es}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Rodríguez|primeiro=Héctor|url=https://www.nationalgeographic.com.es/ciencia/quienes-fueron-superviventes-ultima-edad-hielo_19718|titulo=¿Quiénes fueron los supervivientes de la última Edad de Hielo?|data=2023-03-04|acessodata=2024-11-08|website=National Geographic España|lingua=es}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=|primeiro=|url=https://www.rtp.pt/noticias/cultura/europeus-da-idade-do-gelo-encontraram-refugio-em-portugal-e-espanha_n1470443|titulo=Europeus da Idade do Gelo encontraram refúgio em Portugal e Espanha|data=2023-03-02|acessodata=2024-11-08|website=RTP Notícias|lingua=}}</ref> |
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Anteriores análises do Cromossoma Y e do ADN Mitocondrial<ref>{{Citar web |url=http://www.scs.uiuc.edu/~mcdonald/WorldHaplogroupsMaps.pdf |título=J.D. McDonald (2005), ''World Haplogroups Maps'' |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20040728005528/http://www.scs.uiuc.edu/~mcdonald/WorldHaplogroupsMaps.pdf |arquivodata=2004-07-28 |urlmorta=yes }}</ref> tinham já constatado a suma importância do legado paleolítico nas populações ibéricas. Apesar de essas metodologias não propiciarem fortes inferências sobres as estruturas genéticas populacionais, são bastante úteis na reconstrução das rotas migratórias das populações europeias. Quer o haplogrupo Y-cromossomático R1b, quer o haplogrupo mitocondrial H atingem frequências de 60% em quase toda a Península Ibérica (chegando a 90% no [[País Basco]]).<ref>{{Citar web |url=http://hpgl.stanford.edu/publications/EJHG_2004_v12_p855.pdf |título=Carlos Flores et at. (2004), ''Reduced genetic structure of the Iberian peninsula revealed by Y-chromosome analysis: implications for population demography'', European Journal of Human Genetics, n. 12, 855–863 |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20080406180100/http://hpgl.stanford.edu/publications/EJHG_2004_v12_p855.pdf |arquivodata=2008-04-06 |urlmorta=yes }}</ref> Tal demonstra o laço ancestral entre a [[Península Ibérica]] e o resto da [[Europa Ocidental]], em particular a [[Europa atlântica]], que partilham elevadas frequências destes marcadores genéticos. Estas análises dão forte fundamento à hipótese segundo a qual populações fundadoras do norte ibérico colonizaram o resto da Europa Ocidental no fim da última glaciação.<ref name="mbe.oxfordjournals.org">{{Citar web |url=http://mbe.oxfordjournals.org/cgi/content/full/22/10/1964/TBL1 |título=Table - Summarized Percent Frequencies of R1b, R1a, I1b* (xM26), E3b1 and J2e", in Marijana Pericic et al. (2005), ''High-Resolution Phylogenetic Analysis of Southeastern Europe Traces Major Episodes of Paternal Gene Flow Among Slavic Populations'', Molecular Biology and Evolution 2005 22(10):1964-1975}}</ref> De facto, um dos maiores componentes do [[genoma]] europeu parece derivar de [[antepassado]]s cujas características genéticas eram semelhantes à dos [[Bascos|Bascos modernos]], sendo que este componente é, por razões de proximidade e concordância geográfica, mais elevado no território ibérico.<ref>{{Citar web |url=http://mbe.oxfordjournals.org/cgi/content/full/21/7/1361 |título=Isabelle Dupanloup et al. (2004), ''Estimating the Impact of Prehistoric Admixture on the Genome of Europeans'', Mol. Biol. Evol. - Society for Molecular Biology and Evolution, 21(7):1361-1372}}</ref><ref name="Weighted Average Across Loci 2004">{{Citar web |url=http://mbe.oxfordjournals.org/cgi/content/full/21/7/1361/T03 |título=Table - Weighted Average Across Loci, and Standard Deviations (SD), of the Estimated Contributions of 4 Parental Populations to European Populations", in Isabelle Dupanloup et al. (2004), ''Estimating the Impact of Prehistoric Admixture on the Genome of Europeans'', Mol. Biol. Evol. - Society for Molecular Biology and Evolution, 21(7):1361-1372}}</ref> |
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Aparentemente, a maioria das linhagens maternas ibéricas são oriundas do período Mesolítico a Neolítico.<ref name=":1">{{Citar web|ultimo=Hay|primeiro=Maciamo|url=https://www.eupedia.com/genetics/spain_portugal_dna.shtml|titulo=Genetic history of the Spaniards and the Portuguese|data=2013-07|acessodata=2024-11-08|website=Eupedia|lingua=en}}</ref> |
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==== A conexão atlântica ==== |
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[[Imagem:Atlantic-Europe.jpg|thumb|100px|esquerda|A Europa Atlântica]] |
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Por volta de sete mil anos atrás, os [[Primeiros agricultores europeus|agricultores]] vindos da [[Anatólia]] alcançaram a Península Ibérica, introduziram a agricultura na região e miscigenaram-se com os caçadores-recoletores locais. Assim como em outros povos do sul da Europa, a principal ancestralidade dos povos ibéricos é a dos agricultores anatólios, os quais introduziram a pele clara nessa parte da Europa.<ref name=":2">{{Citar periódico |url=https://www.science.org/doi/10.1126/science.aav4040 |título=The genomic history of the Iberian Peninsula over the past 8000 years |data=2019-03-15 |periódico=Science |número=6432 |ultimo=Olalde |primeiro=Iñigo |ultimo2=Mallick |primeiro2=Swapan |paginas=1230–1234 |lingua=en |doi=10.1126/science.aav4040 |issn=0036-8075 |pmc=6436108 |pmid=30872528 |ultimo3=Patterson |primeiro3=Nick |ultimo4=Rohland |primeiro4=Nadin |ultimo5=Villalba-Mouco |primeiro5=Vanessa |ultimo6=Silva |primeiro6=Marina |ultimo7=Dulias |primeiro7=Katharina |ultimo8=Edwards |primeiro8=Ceiridwen J. |ultimo9=Gandini |primeiro9=Francesca |volume=363}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Domínguez|primeiro=Nuño|url=https://brasil.elpais.com/brasil/2016/05/04/ciencia/1462380282_766551.html|titulo=Quando todos os europeus eram negros|data=2016-05-04|acessodata=2024-11-08|website=El País Brasil|lingua=}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=https://www.nature.com/articles/nature25778 |título=The genomic history of southeastern Europe |data=2018-03 |periódico=Nature |número=7695 |ultimo=Mathieson |primeiro=Iain |ultimo2=Alpaslan-Roodenberg |primeiro2=Songül |paginas=197–203 |lingua=en |doi=10.1038/nature25778 |issn=0028-0836 |pmc=6091220 |pmid=29466330 |ultimo3=Posth |primeiro3=Cosimo |ultimo4=Szécsényi-Nagy |primeiro4=Anna |ultimo5=Rohland |primeiro5=Nadin |ultimo6=Mallick |primeiro6=Swapan |ultimo7=Olalde |primeiro7=Iñigo |ultimo8=Broomandkhoshbacht |primeiro8=Nasreen |ultimo9=Candilio |primeiro9=Francesca |volume=555}}</ref> |
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Geneticistas como [[Barry Cunliffe]],<ref>Ver, nomeadamente, Barry Cunliffe: ''Iron Age Communities in Britain'' (1974); ''The Celtic World'' (1987); ''The Ancient Celts'' (1997); ''The Oxford Illustrated History of Prehistoric Europe'' (2001); ''Facing the Ocean: The Atlantic and Its Peoples, 8000 BC to AD 1500'' (2001).</ref> [[Bryan Sykes]],<ref>Ver, nomeadamente, Bryan Sykes: [http://books.google.com/books?id=zKyPAAAACAAJ&dq=%22The+Seven+Daughters+of+Eve%22&ei=8LcKR8GtBZT6pwKJpoDTCA ''The Seven Daughters of Eve''] (2002); [http://books.google.com/books?id=tJkyAAAACAAJ&dq=%22Blood+of+the+Isles%22&ei=fbIKR9r0FqOOpwLs0YDTCA ''Blood of the Isles: Exploring the Genetic Roots of Our Tribal History''] (2006).</ref> [[Stephen Oppenheimer]]<ref>Stephen Oppenheimer, ''The Origins of the British - A Genetic Detective Story'' (2006).</ref> e [[Spencer Wells]]<ref>Spencer Wells é o responsável e coordenador do ambicioso programa de investigação em história genética das populações humanas da National Geograhic Society Estado-Unidense, o chamado [http://www.nationalgeographic.com/genographic/ Genographic Project].</ref> têm avançado com a hipótese, fundamentada nestes e noutros estudos genéticos, bem como em dados [[Arqueologia|arqueológicos]], de que as populações ibéricas devem ser consideradas como a origem principal dos povos que repovoaram a Europa atlântica no período pós-glacial, particularmente durante o Paleolítico e o [[Mesolítico]], mas também no [[Neolítico]]. |
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De facto, esta origem genética mantém-se predominante ainda hoje na região atlântica europeia, desde a [[Península Ibérica]], passando pela [[França]], as [[Ilhas Britânicas]] (onde é particularmente marcada, nomeadamente nas populações do [[País de Gales]] e da [[Irlanda]]) e atingindo partes da [[Península Escandináva]].<ref name="mbe.oxfordjournals.org"/> |
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Dentro dos marcadores genéticos que evidenciam tal realidade démica, tais como o importante Haplogrupo Y-cromossomático R1b, existem haplotipos modais, sendo um dos mais caracterizados o [[Haplótipo Modal Atlântico]] (AMH),<ref>{{Citar web |url=http://www.pnas.org/cgi/reprint/98/9/5078.pdf |título=James F. Wilson et al. (2001), ''Genetic evidence for different male and female roles during cultural transitions in the British Isles'', PNAS, vol.98, n.9, pp. 5078–5083}}</ref> que atinge as frequências mais elevadas na Península Ibérica, atingindo os 37% em Portugal. A população portuguesa é relativamente homogénea, sendo o haplogrupo mais frequente em Portugal o R1b3<ref> [https://www.researchgate.net/publication/263167072_MARCADORES_GENETICOS_DE_PREVISAO_DE_FENOTIPOS_EM_CONTEXTO_FORENSE MARCADORES GENÉTICOS DE PREVISÃO DE FENÓTIPOS EM CONTEXTO FORENSE] </ref> (típico das populações Europeias). |
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Estes autores afirmam que, particularmente no Mesolítico (período de transição entre o Paleolítico e o Neolítico, com início há cerca de {{AC|10000|x}}), a [[Oscilação de Allerød]], uma desglaciação que diminuiu as condições árduas da [[Glaciação Wisconsin|última Glaciação]], permitiu que as populações ibéricas (descendentes do [[Cro-Magnon|Homem de Cro-Magnon]]) migrassem e recolonizassem toda a Europa Ocidental. Este foi o período da cultura [[Aziliense]] no sul de França e norte da Península Ibérica (até a foz do rio [[Rio Douro|Douro]]), bem como da cultura dos [[Concheiros de Muge|Concheiros]] de [[Muge]], no [[Lisboa e Vale do Tejo|Vale do Tejo]]. |
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=== O contributo neolítico === |
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As contribuições populacionais e culturais [[Neolítico|neolíticas]] para o conjunto ibérico também não podem ser ignoradas, embora tenham uma importância menor quando comparadas com o peso da origem [[Paleolítico|paleolítica]]. Os processos démicos e culturais do Neolítico estão associados à expansão da [[agricultura]] a partir do [[Médio Oriente]].<ref name="Weighted Average Across Loci 2004"/><ref>{{Citar web |url=http://mbe.oxfordjournals.org/cgi/content/full/21/7/1361/F04 |título=Map - Testing the Choice of Hybrid and Parental Populations", in Isabelle Dupanloup et al. (2004), ''Estimating the Impact of Prehistoric Admixture on the Genome of Europeans'', Mol. Biol. Evol. - Society for Molecular Biology and Evolution, 21(7):1361-1372}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.familytreedna.com/pdf/DNA.RootsiHaplogroupISpread.pdf |título=S. Rootsi et al. (2004), ''Phylogeography of Y-Chromosome Haplogroup I Reveals Distinct Domains of Prehistoric Gene Flow in Europe'', American Journal of Human Genetics 75, 128–137 |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20090624135411/http://www.familytreedna.com/pdf/DNA.RootsiHaplogroupISpread.pdf |arquivodata=2009-06-24 |urlmorta=yes }}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.journals.uchicago.edu/AJHG/journal/issues/v74n5/40867/40867.web.pdf |título=O. Semino et al. (2004), ''Origin, Diffusion, and Differentiation of Y-Chromosome Haplogroups E and J: Inferences on the Neolithization of Europe and Later Migratory Events in the Mediterranean Area'', American Journal of Human Genetics 74 1023-1034}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.ftdna.com/pdf/HaploJ.pdf |título=F. Di Giacomo et al. (2004), ''Y chromosomal haplogroup J as a signature of the post-neolithic colonization of Europe'', Human Genetics 115 357–371 |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20040924063935/http://www.ftdna.com/pdf/HaploJ.pdf |arquivodata=2004-09-24 |urlmorta=yes }}</ref> |
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Estudos genéticos recentes apoiam a ideia de um importante elemento de origem neolítica no conjunto do genoma europeu, dando apoio ao modelo de [[difusão démica]]<ref>{{Citar web |url=http://www.pnas.org/cgi/reprint/99/17/11008.pdf |título=L. Chicki et al. (2002), ''Y genetic data support the Neolithic demic diffusion model''. Proc. Nat. Acad. Sci. 99(17): 11008-11013}}</ref> a partir do [[Médio Oriente]]. Este componente genético neolítico encontra-se igualmente em níveis significativos nas populações ibéricas, embora em níveis marcadamente inferiores ao verificados noutras regiões europeias, quer as [[Leste Europeu|mais a leste]] (e com maior proximidade geográfica com o ponto de origem médio-oriental, como a [[Bálcãs|Península Balcânica]]), quer [[Europa setentrional|mais a norte]]. De facto, as grandes diferenciações genéticas europeias atravessam o continente numa [[Distribuição de probabilidade|distribuição]] [[clinal]] de orientação sudeste/noroeste, assim ligando mais as populações mais ocidentais da Europa (incluindo a Península Ibérica) através da origem paleolítica comum (aliás, de origem ibérica), e as populações do leste, particularmente do sudeste, através de uma origem neolítica comum<ref name="Weighted Average Across Loci 2004"/> (repare-se, no entanto, que um dos outros grandes componentes genéticos do Leste europeu, marcado pelo [[Haplogrupo R1a (ADN-Y)|Haplogrupo R1a]], tem origem na região da [[Ucrânia]] moderna,<ref>{{Citar web |url=http://mbe.oxfordjournals.org/cgi/content/full/22/10/1964 |título=Marijana Pericic et al. (2005), ''High-resolution phylogenetic analysis of southeastern Europe traces major episodes of paternal gene flow among Slavic populations'', Mol. Biol. Evol., vol. 22, n. 10, pp. 1964–75}}</ref> além de outros com menor impacto démico com origem através do [[Ásia Setentrional|norte da Ásia]], especificamente do [[Geografia da Rússia|norte da]] [[Rússia]]). No entanto, o modelo de difusão démica permanece algo controverso, já que as provas que o sustentam, sendo [[Cromossoma Y (humano)|Y-cromossomáticas]], logo apontando para movimentos populacionais masculinos, não encontram correlato nos dados conhecidos de [[DNA mitocondrial|ADN mitocondrial]], ou seja, dos movimentos migratórios femininos. Tal faz suspeitar que os processos neolíticos de expansão a partir do Médio Oriente tenham sido não só essencialmente masculinos, mas mais um processo de [[Aculturação|expansão cultural]] do que populacional. |
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[[Imagem:Megalith culture in Europe.png|thumb|200px|Áreas de expansão da cultura megalítica europeia]] |
[[Imagem:Megalith culture in Europe.png|thumb|200px|Áreas de expansão da cultura megalítica europeia]] |
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De qualquer forma, o Neolítico trouxe mudanças à paisagem humana da Península Ibérica a partir de há {{AC|7000|x}}, com o desenvolvimento da [[agricultura]] e o início da [[Cultura megalítica da Europa|Cultura Megalítica Europeia]]. Esta viria a espalhar-se por grande parte da Europa Ocidental e parte do [[Norte de África]]. Um dos centros mais antigos desta cultura monumental foi Portugal. Este é igualmente o período em que se assiste à expansão por via marítima, a partir do leste mediterrânico, da [[Cultura da Cerâmica Cardial]], associada igualmente a processos migratórios marcados pela presença do [[Haplotipo E|Haplotipo E3b]], originário do [[Corno de África]] e disperso pelo [[Mar Mediterrâneo|Mediterrâneo oriental]] durante o [[Mesolítico]].<ref name="pubmedcentral.nih.gov"/><ref>{{Citar web |url=http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=1216069 |título=B. Arredi et al. (2004), ''A Predominantly Neolithic Origin for Y-Chromosomal DNA Variation in North Africa'', Am J Hum Genet. 2004 August; 75(2): 338–345}}</ref><ref name="cruciani2004">{{citar periódico|ultimo=Cruciani|primeiro=Fulvio|ultimo2=La Fratta|primeiro2=Roberta|ultimo3=Santolamazza|primeiro3=Piero|ultimo4=Sellitto|primeiro4=Daniele|ultimo5=Pascone|primeiro5=Roberto|ultimo6=Moral|primeiro6=Pedro|ultimo7=Watson|primeiro7=Elizabeth|ultimo8=Guida|primeiro8=Valentina|ultimo9=Colomb|primeiro9=Eliane Beraud|numero-autores=9|ano=2004|titulo=Phylogeographic Analysis of Haplogroup E3b (E-M215) Y Chromosomes Reveals Multiple Migratory Events Within and Out Of Africa|url=https://www.cell.com/action/showPdf?pii=S0002-9297%2807%2964365-1|jornal=The American Journal of Human Genetics|volume=74|numero=5|paginas=1014-1022|doi=10.1086/386294|pmc=1181964|pmid=15042509|mes=05 |issn = 0002-9297}}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo=Cruciani|primeiro=Fulvio|ultimo2=La Fratta|primeiro2=Roberta|ultimo3=Torroni|primeiro3=Antonio|ultimo4=Underhill|primeiro4=Peter A.|ultimo5=Scozzari|primeiro5=Rosaria|ano=2006|titulo=Molecular dissection of the Y chromosome haplogroup E‐M78 (E3b1a): a posteriori evaluation of a microsatellite‐network‐based approach through six new biallelic markers|url=https://onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1002/humu.9445|jornal=Human Mutation|volume=27|numero=8|paginas=831-832|doi=10.1002/humu.9445|mes=08}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://mbe.oxfordjournals.org/cgi/content/abstract/24/6/1300 |título=F. Cruciani et al. (2007), ''Tracing Past Human Male Movements in Northern/Eastern Africa and Western Eurasia: New Clues from Y-Chromosomal Haplogroups E-M78 and J-M12'', Molecular Biology and Evolution 2007 24(6):1300-1311}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=15646849 |título=J.R. Luis et al. (2004), ''The Levant versus the Horn of Africa: Evidence for Bidirectional Corridors of Human Migrations'', Am. j. hum. genet., vol. 74, no3, pp. 532-544 |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20090218054232/http://cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=15646849 |arquivodata=2009-02-18 |urlmorta=sim }}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=1181965 |título=O. Semino et al. (2004), ''Origin, Diffusion, and Differentiation of Y-Chromosome Haplogroups E and J: Inferences on the Neolithization of Europe and Later Migratory Events in the Mediterranean Area'', Am J Hum Genet. 2004 May; 74(5): 1023–1034}}</ref> |
De qualquer forma, o Neolítico trouxe mudanças à paisagem humana da Península Ibérica a partir de há {{AC|7000|x}}, com o desenvolvimento da [[agricultura]] e o início da [[Cultura megalítica da Europa|Cultura Megalítica Europeia]]. Esta viria a espalhar-se por grande parte da Europa Ocidental e parte do [[Norte de África]]. Um dos centros mais antigos desta cultura monumental foi Portugal. Este é igualmente o período em que se assiste à expansão por via marítima, a partir do leste mediterrânico, da [[Cultura da Cerâmica Cardial]], associada igualmente a processos migratórios marcados pela presença do [[Haplotipo E|Haplotipo E3b]], originário do [[Corno de África]] e disperso pelo [[Mar Mediterrâneo|Mediterrâneo oriental]] durante o [[Mesolítico]].<ref name="pubmedcentral.nih.gov">{{Citar web|url=http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?&pubmedid=11078479|título=Z.H. Rosser et al. (2000), ''Y-Chromosomal Diversity in Europe Is Clinal and Influenced Primarily by Geography, Rather than by Language'', Am J Hum Genet. 2000 December; 67(6): 1526–1543}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=1216069 |título=B. Arredi et al. (2004), ''A Predominantly Neolithic Origin for Y-Chromosomal DNA Variation in North Africa'', Am J Hum Genet. 2004 August; 75(2): 338–345}}</ref><ref name="cruciani2004">{{citar periódico|ultimo=Cruciani|primeiro=Fulvio|ultimo2=La Fratta|primeiro2=Roberta|ultimo3=Santolamazza|primeiro3=Piero|ultimo4=Sellitto|primeiro4=Daniele|ultimo5=Pascone|primeiro5=Roberto|ultimo6=Moral|primeiro6=Pedro|ultimo7=Watson|primeiro7=Elizabeth|ultimo8=Guida|primeiro8=Valentina|ultimo9=Colomb|primeiro9=Eliane Beraud|numero-autores=9|ano=2004|titulo=Phylogeographic Analysis of Haplogroup E3b (E-M215) Y Chromosomes Reveals Multiple Migratory Events Within and Out Of Africa|url=https://www.cell.com/action/showPdf?pii=S0002-9297%2807%2964365-1|jornal=The American Journal of Human Genetics|volume=74|numero=5|paginas=1014-1022|doi=10.1086/386294|pmc=1181964|pmid=15042509|mes=05 |issn = 0002-9297}}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo=Cruciani|primeiro=Fulvio|ultimo2=La Fratta|primeiro2=Roberta|ultimo3=Torroni|primeiro3=Antonio|ultimo4=Underhill|primeiro4=Peter A.|ultimo5=Scozzari|primeiro5=Rosaria|ano=2006|titulo=Molecular dissection of the Y chromosome haplogroup E‐M78 (E3b1a): a posteriori evaluation of a microsatellite‐network‐based approach through six new biallelic markers|url=https://onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1002/humu.9445|jornal=Human Mutation|volume=27|numero=8|paginas=831-832|doi=10.1002/humu.9445|mes=08}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://mbe.oxfordjournals.org/cgi/content/abstract/24/6/1300 |título=F. Cruciani et al. (2007), ''Tracing Past Human Male Movements in Northern/Eastern Africa and Western Eurasia: New Clues from Y-Chromosomal Haplogroups E-M78 and J-M12'', Molecular Biology and Evolution 2007 24(6):1300-1311}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=15646849 |título=J.R. Luis et al. (2004), ''The Levant versus the Horn of Africa: Evidence for Bidirectional Corridors of Human Migrations'', Am. j. hum. genet., vol. 74, no3, pp. 532-544 |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20090218054232/http://cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=15646849 |arquivodata=2009-02-18 |urlmorta=sim }}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=1181965 |título=O. Semino et al. (2004), ''Origin, Diffusion, and Differentiation of Y-Chromosome Haplogroups E and J: Inferences on the Neolithization of Europe and Later Migratory Events in the Mediterranean Area'', Am J Hum Genet. 2004 May; 74(5): 1023–1034}}</ref> |
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Note-se que, com algumas excepções localizadas, os dados arqueológicos demonstram que este processo foi essencialmente de [[aculturação]] das populações europeias, mais do que de migração em massa. Mesmo assim, a Cultura da Cerâmica Cardial terá tido um papel de relevo no lento desenvolvimento das primeiras culturas Neolíticas das regiões Atlânticas, embora com maior impacto directo nas zonas do leste ibérico (apresenta uma distribuição basicamente mediterrânica, particularmente na [[Catalunha]], [[Comunidade Valenciana|Valência]], [[Rio Ebro|Vale do Ebro]] e [[Baleares]]). De facto, os monumentos megalíticos europeus estão frequentemente acompanhados de restos arqueológicos de cerâmica e outros artefactos provenientes desta cultura. |
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=== A Idade do Cobre === |
=== A Idade do Cobre === |
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A [[Idade do Cobre]], ou [[Calcolítico]], trouxe igualmente mudanças à paisagem humana e cultural da Península Ibérica e nomeadamente ao território português. Esta fase caracteriza-se pelo início da [[metalurgia]], pelo aumento da [[Estratificação social|complexidade e estratificação sociais]], bem como, no caso ibérico, pelo aparecimento das primeiras [[civilizações]] e de extensas [[Rede social|redes]] de [[Escambo|troca]] e [[comércio]] que vão do [[Norte de África]] até ao [[Mar Báltico]], com relevo para as [[Ilhas Britânicas]].<ref>F. Jordá Cerdá et al. (1986), ''Historia de España I: Prehistoria''.</ref> |
A [[Idade do Cobre]], ou [[Calcolítico]], trouxe igualmente mudanças à paisagem humana e cultural da Península Ibérica e nomeadamente ao território português. Esta fase caracteriza-se pelo início da [[metalurgia]], pelo aumento da [[Estratificação social|complexidade e estratificação sociais]], bem como, no caso ibérico, pelo aparecimento das primeiras [[civilizações]] e de extensas [[Rede social|redes]] de [[Escambo|troca]] e [[comércio]] que vão do [[Norte de África]] até ao [[Mar Báltico]], com relevo para as [[Ilhas Britânicas]].<ref>F. Jordá Cerdá et al. (1986), ''Historia de España I: Prehistoria''.</ref> |
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A data convencional para o começo do Calcolítico ibérico é de cerca de {{AC|3000|x}}. Nos séculos que se seguiram, particularmente no sul da Península, bens metálicos, muitas vezes decorativos e rituais, tornaram-se frequentemente comuns. Este é igualmente o período de grande expansão do [[Cultura megalítica da Europa|Megalitismo]], com as práticas funerárias associadas, que se expande ao longo das regiões Atlânticas e pelo sul da Península (além de pelo resto da [[Europa atlântica]]). Em contraste, a maioria das regiões do interior peninsular e mediterrâneas permanecem refractárias a este fenómenos. Outro fenómeno do início da Idade do Cobre é o desenvolvimento de monumentos funerários de tipo [[tolo (arqueologia)|tolo]] e cavernas artificiais, que se encontram no sul ibérico, desde o [[Mar da Palha|Estuário do Tejo]] até [[Almeria]] |
A data convencional para o começo do Calcolítico ibérico é de cerca de {{AC|3000|x}}. Nos séculos que se seguiram, particularmente no sul da Península, bens metálicos, muitas vezes decorativos e rituais, tornaram-se frequentemente comuns. Este é igualmente o período de grande expansão do [[Cultura megalítica da Europa|Megalitismo]], com as práticas funerárias associadas, que se expande ao longo das regiões Atlânticas e pelo sul da Península (além de pelo resto da [[Europa atlântica]]). Em contraste, a maioria das regiões do interior peninsular e mediterrâneas permanecem refractárias a este fenómenos. Outro fenómeno do início da Idade do Cobre é o desenvolvimento de monumentos funerários de tipo [[tolo (arqueologia)|tolo]] e cavernas artificiais, que se encontram no sul ibérico, desde o [[Mar da Palha|Estuário do Tejo]] até [[Almeria]] e ao sudeste [[França|francês]]. |
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Por volta de {{-séc|XXVII}}, começaram a aparecer [[História das cidades|comunidades urbanas]], mais uma vez mais marcadamente no sul do território. As mais importantes de toda a Península Ibérica foram a de [[Los Millares]] (no sudeste espanhol) e a de [[Zambujal (Condeixa-a-Nova)|Zambujal]] (pertencendo à cultura de [[Vila Nova de São Pedro]], em Portugal), podendo já ser chamadas «civilizações», ainda que lhes falte a componente [[escrita]]. |
Por volta de {{-séc|XXVII}}, começaram a aparecer [[História das cidades|comunidades urbanas]], mais uma vez mais marcadamente no sul do território. As mais importantes de toda a Península Ibérica foram a de [[Los Millares]] (no sudeste espanhol) e a de [[Zambujal (Condeixa-a-Nova)|Zambujal]] (pertencendo à cultura de [[Vila Nova de São Pedro]], em Portugal), podendo já ser chamadas «civilizações», ainda que lhes falte a componente [[escrita]]. |
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A partir de {{AC|2150|X}} dá-se uma importante transformação cultural e, em parte, populacional na Península Ibérica calcolítica, com o aparecimento da [[Cultura do Vaso Campaniforme]], de origem portuguesa em paralelo com o megalitismo. Esta cultura ao difundir-se por toda a Europa demonstra tendências de regionalização, com diferentes estilos produzidos em várias regiões, sendo os mais importantes o tipo de [[Palmela]] em Portugal e os tipos Continental e Almeriano em Espanha. |
A partir de {{AC|2150|X}} dá-se uma importante transformação cultural e, em parte, populacional na Península Ibérica calcolítica, com o aparecimento da [[Cultura do Vaso Campaniforme]], de origem portuguesa em paralelo com o megalitismo. Esta cultura ao difundir-se por toda a Europa demonstra tendências de regionalização, com diferentes estilos produzidos em várias regiões, sendo os mais importantes o tipo de [[Palmela]] em Portugal e os tipos Continental e Almeriano em Espanha. |
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Os povos [[Protoindo-europeus|proto-indo-europeus]] alcançaram a Península Ibérica por volta de 2 000 a.C. e miscigenaram-se com os habitantes locais, sendo que, nessa época, praticamente todas as linhagens paternas da península foram substituídas pelo [[Haplogrupo R1b (ADN-Y)|haplogrupo R1b]], oriundo dos proto-indo-europeus e hoje majoritário entre os homens ibéricos.<ref name=":2" /> |
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=== A Idade do Bronze === |
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{{Artigo principal|Povos pré-romanos em Portugal}}[[Imagem:Peninsula Iberica-Bronce Final.png|thumb|esquerda|Idade do Bronze na Península Ibérica]] |
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=== A Idade do Bronze e do Ferro === |
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A [[Idade do Bronze]], que se desenvolve a partir de {{AC|1800|x}}, acentuará os processos populacionais e culturais verificados na [[Idade do Cobre]]: aumento da urbanização a sul e leste, aumento das influências [[Europa central|centro-europeias]] a norte e oeste. De facto, é por volta do {{AC|I milénio|x}} que se verificam as primeiras migrações para a Península Ibérica de populações claramente de [[Línguas indo-europeias|língua Indo-Europeia]] (associadas à expansão da [[Cultura dos Campos de Urnas]], de carácter [[Língua proto-céltica|proto-celta]]), e que viriam a contribuir para a [[Idade do bronze atlântica]] (cujas principais regiões parecem ter sido Portugal, a [[Andaluzia]] ([[Tartesso]]?), a [[Galiza]] e a [[Grã-Bretanha]]). Estas migrações foram mais tarde, nos séculos VII a {{AC|V|x}} (já na [[Idade do Ferro]]), seguidas por outras que podem já ser claramente identificadas como [[celtas]]. É neste contexto de celtização que, a partir do {{-séc|VI}} se deu o desenvolvimento da [[Cultura castreja]] numa ampla zona do noroeste da [[Península Ibérica]], entre os rios [[Rio Douro|Douro]] e [[Rio Návia|Návia]] e a Oeste do [[Maciço Galaico]], tendo desenvolvido um tipo muito peculiar de assentamentos, chamados [[castro]]s, diferentes de outras áreas da Península.<ref>[http://www.uwm.edu/Dept/celtic/ekeltoi/volumes/vol6/6_4/lorrio_zapatero_6_4.pdf 6. Alberto J. Lorrio and Gonzalo Ruiz Zapatero, ''The Celts in Iberia: An Overview'' 6. "'Celtic' archaeological groups"].</ref><ref>A. J. M. Silva (2009), ''Vivre au delá du fleuve de l'Oubli. Portrait de la communauté villageoise du Castro do Vieito, au moment de l'intégration du NO de la péninsule ibérique dans l'orbis romanum (estuaire du Rio Lima, NO du Portugal),'' Tese de Doutoramento apresentada na Universidade de Coimbra em Março de 2009. [https://www.qdrive.net/download/sharelinkdownloader.php?id=42532&key=8Xx2OxX9EXX9KpB58bP9OmX5MjLXKdJ1InH Versão PDF] {{Wayback|url=https://www.qdrive.net/download/sharelinkdownloader.php?id=42532&key=8Xx2OxX9EXX9KpB58bP9OmX5MjLXKdJ1InH |date=20160303170341 }}.</ref> |
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{{Artigo principal|Povos pré-romanos em Portugal}}A [[Idade do Bronze]], que se desenvolve a partir de {{AC|1800|x}}, acentuará os processos populacionais e culturais verificados na [[Idade do Cobre]]: aumento da urbanização a sul e leste, aumento das influências [[Europa central|centro-europeias]] a norte e oeste. |
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Na Idade do Bronze tardia, desenvolvem-se igualmente as primeiras [[civilizações]] [[História das cidades|urbanas]] com [[escrita]], tais como a de [[Tartesso]] (na área da moderna Andaluzia ocidental), influenciada pela expansão comercial e cultural [[fenícia]] (e que, com base no [[alfabeto fenício]], viria a desenvolver o [[Escritas paleohispânicas|primeiro sistema de escrita na Península Ibérica]]; o [[Língua tartéssica|tartéssico]] constitui um isolado linguístico, tal como o [[ibero]] da Idade do Ferro, com o qual não tem nenhuma relação), e com forte impacto na região do sul de Portugal, na área que, posteriormente, veio a ser identificada como sendo habitada pelos [[ |
Na Idade do Bronze tardia, desenvolvem-se igualmente as primeiras [[civilizações]] [[História das cidades|urbanas]] com [[escrita]], tais como a de [[Tartesso]] (na área da moderna [[Andaluzia]] ocidental), influenciada pela expansão comercial e cultural [[fenícia]] (e que, com base no [[alfabeto fenício]], viria a desenvolver o [[Escritas paleohispânicas|primeiro sistema de escrita na Península Ibérica]]; o [[Língua tartéssica|tartéssico]] constitui um isolado linguístico, tal como o [[ibero]] da [[Idade do Ferro]], com o qual não tem nenhuma relação), e com forte impacto na região do sul de Portugal, na área que, posteriormente, veio a ser identificada como sendo habitada pelos [[cónios]] do [[Algarve]] e [[Baixo Alentejo (província)|Baixo Alentejo]] (eventualmente com presença até ao [[Alto Alentejo (província)|Alto Alentejo]] e à [[Extremadura|Estremadura espanhola]]).[[Imagem:Peninsula Iberica-Bronce Final.png|thumb|esquerda|Idade do Bronze na Península Ibérica]]Os dois principais componentes dos desenvolvimentos populacionais do território português durante a [[Idade do Ferro]] foram a migração de populações celtas e o desenvolvimento da [[Tartesso|Civilização Tartéssica]]. Estes dois processos acentuaram ainda mais as características da paisagem cultural do Portugal de então — mediterrânico a sul do rio Tejo e continental a norte.<ref>José Mattoso (dir.), ''História de Portugal. Primeiro Volume: Antes de Portugal'', Lisboa, Círculo de Leitores, 1992.</ref>[[Imagem:Celtic expansion.PNG|thumb|200px|Expansão celta na Europa|esquerda]]Na primeira metade do primeiro milénio antes de Cristo, [[Celtas|povos celtas]], oriundos da [[Europa Central]], migraram para o território português e misturaram-se com as populações locais, dando origem a várias populações que o habitavam quando os romanos chegaram, como os [[galaicos]], [[lusitanos]] e [[célticos]].<ref name=":0" /> |
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Os povos celtas e celtizados no Norte de Portugal e [[Galiza]] desenvolveram a [[cultura castreja]], construindo os castros em regiões de maiores altitudes.<ref name=":0" /><ref>{{citar web|url=https://www.infopedia.pt/artigos/$cultura-castreja-pre-romana|titulo=Cultura Castreja Pré-romana|acessodata=2024-11-08|website=Infopédia}}</ref><ref>{{citar periódico |url=https://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/article/view/1784/1304 |título=Celtas e castrejos na Península Ibérica – questões sobre a identidade nacional e o substrato proto-celta |data=2018-04-30 |periódico=Brathair - Centro de estudos celtas e germânicos |número=1 |ultimo=Trombetta |primeiro=Silvana |paginas=39-55 |volume=18}}</ref> O sul de Portugal era habitado pelos cónios, um povo não-indo-europeu, influenciado pelo Reino Tartéssico. Os cónios viriam a misturar-se com os celtas.<ref>{{Citar web|url=http://www4.uwm.edu/celtic/ekeltoi/volumes/vol6/6_9/berrocal_6_9.html|título="The Celts of the Southwestern Iberian Peninsula"|data=2005|obra=e-Keltoi - Journal of Interdisciplinary Celtic Studies, Volume 6: The Celts in the Iberian Peninsula|autor=Luis Berrocal-Rangel}}</ref><ref>{{Citar web|autorlink=Maria Teresa Júdice Gamito|url=http://www4.uwm.edu/celtic/ekeltoi/volumes/vol6/6_11/gamito_6_11.html|título="The Celts in Portugal"|data=2005|obra=e-Keltoi - Journal of Interdisciplinary Celtic Studies, Volume 6: The Celts in the Iberian Peninsula|autor=Teresa Júdice Gamito|língua=}}</ref>[[Imagem:Iberia 300BC-pt.svg|thumb|350px|Mapa Etno-Linguístico da Península Ibérica por volta de {{AC|300|x}}]]Os povos que habitavam o ocidente da Península Ibérica na época da chegada dos [[Roma Antiga|romanos]] eram os [[galaicos]] (a norte do [[Rio Douro|Douro]]), os [[lusitanos]] (entre o Douro e o [[Tejo]]), os [[célticos]] (entre o Tejo e o [[Algarve]]) e os [[cónios]] ou cinetes (no Algarve), além de outros [[povos ibéricos pré-romanos]] com menor expressão, tais como os [[brácaros]], [[celernos]], [[equesos]], [[gróvios]], [[interâmicos]], [[leunos]], [[luancos]], [[límicos]], [[narbasos]], [[nemetatos]], [[pésures]], [[quaquernos]], [[seurbos]], [[tamaganos]], [[taporos]], [[túrdulos]], [[túrdulos velhos]], [[túrdulos opidanos]], [[turodos]] e [[zelas]]. |
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=== A Idade do Ferro === |
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Os dois principais componentes dos desenvolvimentos populacionais do território português durante a [[Idade do Ferro]] foram a migração de populações celtas e o desenvolvimento da [[Tartesso|Civilização Tartéssica]]. Estes dois processos acentuaram ainda mais as características da paisagem cultural do Portugal de então — mediterrânico a sul do rio Tejo e continental a norte.<ref>José Mattoso (dir.), ''História de Portugal. Primeiro Volume: Antes de Portugal'', Lisboa, Círculo de Leitores, 1992.</ref> |
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=== O domínio romano, a romanização e os germânicos === |
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==== Os celtas ==== |
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[[Imagem:Celtic expansion.PNG|thumb|200px|Expansão celta na Europa]]{{Artigo principal|Galaicos}} |
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As migrações de populações [[Língua proto-céltica|protoceltas]] e [[celtas]], no seguimento da anterior expansão da [[Cultura dos Campos de Urnas]], acentuam vincadamente o carácter [[Línguas indo-europeias|indo-europeu]] do panorama humano na Península Ibérica, e muito particularmente o português. Trata-se, por um lado, do forte substrato protocelta (às vezes chamado pré-celta) que dará origem aos [[lusitanos]] e aos seus vizinhos [[vetões]] (no espaço dos quais se veio a desenvolver a [[Cultura dos berrões]]),<ref>José Leite de Vasconcelos, ''Religiões da Lusitânia'', Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda.</ref><ref>Eduardo Sánchez Moreno (2000), ''Vetones: Historia y Arqueología de un pueblo prerromano'', Madrid, Universidad Autónoma de Madrid.</ref><ref>[http://www.uwm.edu/Dept/celtic/ekeltoi/volumes/vol6/6_5/alvarez_sanchis_6_5.html Jesús R. Álvarez-Sanchís, ''Oppida and Celtic society in western Spain'', in ''e-Celtoi: Journal of Interdisciplinary Celtic Studies'' vol. 6 (''The Celts in the Iberian Peninsula'').]</ref><ref>Santos Júnior, J. (1975). Casa de Sarmento. [http://www.csarmento.uminho.pt/docs/ndat/rg/RG085_07.pdf ''Conferência: a cultura dos Berrões proto-históricos do Nordeste de Portugal''].</ref> na área onde se identifica a [[cultura castreja]] e que parece estar também igualmente presente nos [[galaicos]] e [[ástures]] (embora estes últimos possam ter igualmente uma forte componente [[Aquitanos|aquitânica]] vinda dos também misturados [[Cântabros]]). Por outro lado, trata-se da clara «celtização» da metade noroeste da Península através dos processos de expansão démica e cultural a partir do centro celtibero, que assim produz populações celtas distintas das [[Celtiberos|celtiberas]] e que podem ser designadas como [[hispano-celtas]] (ou celtas da Península Ibérica).<ref>{{Citar web |url=http://www.uwm.edu/Dept/celtic/ekeltoi/volumes/vol6/6_4/lorrio_zapatero_6_4.html |título=Alberto J. Lorrio & Gonzalo Ruiz Zapatero, ''The Celts in Iberia: An Overview'', e-Keltoi - Journal of Interdisciplinary Celtic Studies, Volume 6: The Celts in the Iberian Peninsula, 2005, pp. 167-254}}</ref> |
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Desde os finais do {{-séc|VIII}}, a [[Cultura dos Campos de Urnas]] incorporou elementos da cultura celta de [[Cultura de Hallstatt|Hallstatt]], num processo lento que esteve muito possivelmente ligado à chegada de contingentes populacionais com origem na [[Europa Central]]. De notar que, com a expansão a Leste (na zona norte da moderna [[Catalunha]]) da [[iberos|cultura ibera]] (desde {{AC|600|x}}, é substituída a zona da Cultura do Campo de Urnas fortemente "celtizada" do nordeste [[Pirenéus|pirenaico]]), a ligação entre os celtiberos e os seus congéneres do resto da Europa corta-se. Esta separação física entre celtas da Península Ibérica e celtas continentais explica por que motivo os primeiros nunca vieram a receber as influências do período cultural de [[Cultura de La Tène|La Tène]] (que caracterizará os celtas "clássicos"), aí incluindo o [[Druida|druidismo]]. |
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==== A civilização tartéssica e os Cónios ==== |
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[[Imagem:Tartessos.svg|thumb|219x219px|Tartesso e a sua área de influência]] |
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A [[Tartesso|Civilização Tartéssica]], com as suas origens no período final da [[Idade do Bronze]], é uma cultura [[Médio Oriente|orientalizante]] autóctone com inícios no {{-séc|VIII}}, modificada pela influência crescente de elementos [[Fenícia|fenícios]]. A sua área central foi o oeste da [[Andaluzia]], mas cedo expandiu a sua área de influência até à costa leste da Península e, no que a Portugal diz respeito, até ao estuário do Tejo, com particular incidência na zona do Algarve. Não é claro no entanto, se no Algarve a cultura era a mesma que na Andaluzia ou, apenas sob a sua influência. |
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[[File:Mapa das escritas paleo-hispànicas.pt.jpg|thumb|mapa dos [[Cónios]]]] |
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A cultura tartéssica-[[cónia]] no sul de Portugal foi substituída pela forte presença [[Celta]], resultado de processos migratórios dos [[Célticos]], que assim «celtizaram» esta zona, bem como as populações, ligadas a Tartesso, dos [[turdetanos]] e dos [[cónios]]. Os Cónios legaram-nos o mais amplo património de [[Escritas paleo-hispânicas|escrita]] [[Língua tartéssica|tartéssica]] (na variante chamada [[Escrita do sudoeste|escrita do Sudoeste]]) e, mesmo depois de celtizados, permaneceriam como população autónoma até à chegada dos [[Roma Antiga|romanos]], com quem se aliaram contra, nomeadamente, os [[lusitanos]] (que acabaram por destruir a sua principal cidade — [[Conistorgis]]). Vários historiadores consideram de facto os Conii ou Cynetes (em Latim), como uma população e cultura distintas dos Tartéssios, ainda que influenciados por estes.<ref> {{Citar web |url=http://www.celtsite.com/TCE/index.htm |titulo=The Celtic Encyclopedia |acessodata=2021-06-10 |website=www.celtsite.com}} </ref> Além disso, não é consensual a designação da primeira escrita na Península Ibérica. Para muitos historiadores é a escrita do sudoeste ou sud-lusitana. Já os linguistas, utilizam as designações de escrita tartéssica ou turdetana. Outros concordam com a designação de [[escrita]] [[cónia]],<ref>{{Citar web |url=http://movv.org/?s=escrita+sud+%2F |titulo=escrita cónia |acessodata=2019-04-09 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20160313201052/http://movv.org/?s=escrita+sud+%2F |arquivodata=2016-03-13 |urlmorta=yes }}</ref> por não ser limitada geograficamente, mas relacionada com o povo e a cultura que criou essa escrita. E, segundo [[José Leite de Vasconcelos Cardoso Pereira de Melo|Leite de Vasconcelos]] com os nomes ''konii'' e ''Konni'',<ref>[http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/biblioteca-digital-camoes/etnologia-etnografia-tradicoes/187-187-dp1.html Ópusculos, Etnologia (1.ª parte), por J. Leite de Vasconcelos]</ref> que aparecem inscritos com variações em diversas estelas.<ref>{{Citar web |url=http://movv.org/2007/11/23/tabela-de-variacoes-da-palavra-%E2%80%9Cconii%E2%80%9D-e-estelas-onde-surgem/ |titulo=Tabela de Variações da palavra “Conii” e estelas onde surgem, por Clavis Prophetarum, 2007/11/23 |acessodata=2012-09-18 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20130119162107/http://movv.org/2007/11/23/tabela-de-variacoes-da-palavra-%e2%80%9cconii%e2%80%9d-e-estelas-onde-surgem/ |arquivodata=2013-01-19 |urlmorta=yes }}</ref> |
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[[Imagem:Rutas comerciales fenicias-pt.svg|esquerda|thumb|Mapa das rotas de expansão Fenícias]] |
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De notar que o florescimento tartéssico se dá no âmbito da expansão fenícia, quando esta está em confronto com a expansão e colonização [[Grécia Antiga|grega]] do ocidente mediterrânico. Se a influência fenícia foi central no desenvolvimento de Tartesso, a influência grega parece ter sido igualmente central no desenvolvimento um pouco posterior da [[Iberos|civilização ibera]] (igualmente uma [[língua isolada]] não indo-europeia e não aparentada com o tartéssico), no leste e sul peninsular ([[Catalunha]], [[Comunidade Valenciana|Valência]], [[Região de Múrcia|Múrcia]] e leste da [[Andaluzia]]). Repare-se, portanto, que nunca existiram, contrariamente ao que muitas vezes se afirma, populações iberas em parte alguma do território português.{{nota de rodapé|Este lapso recorrente deve-se, porventura, à confusão entre ''iberos'' e ''ibéricos'' - os primeiros são as populações de língua ibera do leste e sul peninsular, o segundo termo designa qualquer população (ibera, lusitana, celta, aquitana, tartéssica, etc.) proveniente de qualquer parte da Península. Esta confusão é muitas vezes ampliada exactamente pela falta de designação clara para as populações não indo-europeias da maioria da Península. A notoriedade dos iberos faz, assim, com que o seu nome seja erradamente utilizado para designar populações que de ibero nada tinham, embora fossem, claramente, populações ibéricas (nome que, aliás, pode ser utilizado para caracterizar e qualificar os modernos portugueses e espanhóis).}} Da mesma forma, é de notar que não há indício algum de colonização fenícia em Portugal (com a excepção da feitoria fenícia de [[Abul]] na margem direita do rio Sado, concelho de Alcácer do Sal, distrito de Setúbal no Sul do país), assim caindo por terra os mitos da fundação fenícia de [[Lisboa]], para não falar da ainda mais inverossímil fundação grega. É claro que excursões comerciais fenícias devem ter percorrido as costas portuguesas (de facto, pensa-se que até às [[Ilhas Britânicas]]), e que a sua provavelmente, indirecta via Tartesso, tenha tido impacto cultural. |
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É de notar, no entanto, que apesar da língua tartéssica ser em regra tratado como não classificada, dada a escassez de textos e falta de óbvias conexões com outras línguas — o que permanece como a visão dominante,<ref>{{Citar web |url=http://multitree.org/codes/txr |titulo=Tartessian - MultiTree |acessodata=2021-06-10 |website=multitree.org}}</ref><ref>Lewis, M. Paul (ed.) (2009) ''Ethnologue: Languages of the World''; 16th ed. Dallas, Tex.: SIL International ISBN 978-1-55671-216-6</ref> vários autores apresentam-na como [[céltica]] ou pelo menos fortemente [[celtizada]]. Correa,<ref name=Correa1>{{citar livro|último =Correa|primeiro =J. A.|título=“Posibles antropónimos en las inscripciones en escritura del SO. (o tartesia)”, Veleia 6|ano=1989|páginas=243–252}}</ref> Untermann<ref>Untermann, Jürgen, ed. (1997). Monumenta Linguarum Hispanicarum; herausgegeben von Jürgen Untermann; unter Mitwirkungen von Dagmar Wodtko. Band IV, Die tartessischen, keltiberischen und lusitanischen Inschriften. Wiesbaden: Ludwig Reichert.</ref><ref>Untermann, Jürgen (2000): «Lenguas y escrituras en torno a Tartessos» en ARGANTONIO. Rey de Tartessos, Madrid, pp. 69–77.</ref> e particularmente Koch<ref>Koch, John T. (2009): Tartessian: Celtic in the South-West at the Dawn of History. Aberystwyth; Oakville, CT: Celtic Studies Publications/David Brown Book Co.</ref><ref name=Koch2009>{{citar livro|último = Koch |primeiro = John |autorlink = |coautor= |título= A CASE FOR TARTESSIAN AS A CELTIC LANGUAGE in Acta Palaeohispanica X Palaeohispanica 9 (2009)|publicado= Palaeohispanica |ano= 2009 |local= |páginas= 339–351 | url = http://ifc.dpz.es/recursos/publicaciones/29/54/26koch.pdf | doi = | id = | issn = 1578-5386 |acessodata= 2010-05-17 }}</ref> propõem etimologias celtas para nomes tartéssicos, ou mesmo que o tartéssico era uma língua celta. Koch defende mesmo que as línguas celtas nascem no contexto cultural da idade do bronze atlântica. |
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==== Antes dos romanos ==== |
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[[Imagem:Iberia 300BC-pt.svg|thumb|350px|Mapa Etno-Linguístico da Península Ibérica por volta de {{AC|300|x}}]] |
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Por volta do {{-séc|IV}}, os [[Célticos]], uma nova vaga de migração celta, penetram no território português e assentam no [[Alentejo]] com penetração até ao [[Algarve]]. Os [[Túrdulos]] e os [[Turdetanos]], provavelmente de origem tartéssica embora altamente celtizados, estabelecem-se na área do [[Rio Guadiana|Guadiana]]. Uma série de cidades do Algarve, tais como [[Conistorgis]], [[Balsa (Lusitânia)|Balsa]] ([[Tavira]]), [[Besuris]] ([[Castro Marim]]), [[Ossónoba]] ([[Faro]]) e [[Cilpes]] ([[Silves (Portugal)|Silves]]), são habitadas pelos Cónios, que se misturam progressivamente com os [[Célticos]].<ref>{{Citar web |url=http://www4.uwm.edu/celtic/ekeltoi/volumes/vol6/6_9/berrocal_6_9.html |título="The Celts of the Southwestern Iberian Peninsula"|autor= Luis Berrocal-Rangel|obra= e-Keltoi - Journal of Interdisciplinary Celtic Studies, Volume 6: The Celts in the Iberian Peninsula|data= 2005}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www4.uwm.edu/celtic/ekeltoi/volumes/vol6/6_11/gamito_6_11.html |título="The Celts in Portugal"|língua= |autor= Teresa Júdice Gamito|autorlink=Maria Teresa Júdice Gamito|obra= e-Keltoi - Journal of Interdisciplinary Celtic Studies, Volume 6: The Celts in the Iberian Peninsula|data= 2005}}</ref> Os [[lusitanos]] (que, na hipótese mais moderna, se consideram [[Língua proto-céltica|protoceltas]]) habitam a área entre o [[Rio Douro|Douro]] e o [[Tejo]] e começam progressivamente a penetrar no Alto Alentejo. As populações [[Galaicos|galaicas]], de substrato protocelta, tornam-se progressivamente populações de língua celta. |
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Por volta de pouco antes de {{AC|200|x}}, mesmo antes do início da [[Segunda Guerra Púnica]] entre [[Roma Antiga|Roma]] e [[Cartago]], o panorama populacional do território português era um que, apesar dos profundos processos migratórios e de mudança cultural, mantinha o essencial da base démica de origem [[Paleolítico|paleolítica]], tal como hoje em dia. Partindo dessa base paleolítica de origem [[Europa|continental europeia]], bem como dos contributos [[neolítico]]s de origem [[Mar Mediterrâneo|mediterrânica]], as populações de então eram [[Etnicidade|etno]]-[[Linguagem|linguisticamente]] o resultado das [[Hipótese Kurgan|migrações indo-europeias]] mescladas com o substrato não [[Línguas indo-europeias|indo-europeu]] mais antigo. |
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Neste sentido, os povos que habitavam o ocidente peninsular antes da chegada dos Romanos eram os [[Galaicos]] (a norte do [[Rio Douro|Douro]]), os [[Lusitanos]] (entre o Douro e o [[Tejo]]), os [[Célticos]] (entre o Tejo e o [[Algarve]]) e os [[Cónios|Cónios ou Cinetes]] (no Algarve), entre outros [[povos ibéricos pré-romanos]] com menor expressão, tais como os [[Brácaros]], [[Celernos]], [[Equesos]], [[Gróvios]], [[Interâmicos]], [[Leunos]], [[Luancos]], [[Límicos]], [[Narbasos]], [[Nemetatos]], [[Pésures]], [[Quaquernos]], [[Seurbos]], [[Tamaganos]], [[Taporos]], [[Túrdulos]], [[Túrdulos velhos]], [[Túrdulos opidanos]], [[Turodos]] e [[Zelas]]. |
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=== A romanização === |
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[[Imagem:Conquista Hispania-pt.svg|thumb|esquerda|150px|[[Invasão romana da Península Ibérica|Conquista Romana da Hispânia]]]] |
[[Imagem:Conquista Hispania-pt.svg|thumb|esquerda|150px|[[Invasão romana da Península Ibérica|Conquista Romana da Hispânia]]]] |
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[[Imagem:CarthageMap.png|thumb|150px|[[Império Cartaginês]] imediatamente antes da [[Primeira Guerra Púnica]] em {{AC|264|x}}]] |
[[Imagem:CarthageMap.png|thumb|150px|[[Império Cartaginês]] imediatamente antes da [[Primeira Guerra Púnica]] em {{AC|264|x}}]] |
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Os romanos começaram a conquistar a Península Ibérica, a que chamariam [[Hispânia]], em 218 a.C., durante a [[Segunda Guerra Púnica]]. Em 194 a.C., começaram os primeiros conflitos entre os romanos e os lusitanos e estes últimos resistiram bravamente, destacando-se a liderança de [[Viriato]], após cujo assassinato, em 140 a.C., o território dos lusitanos foi conquistado pelos romanos.<ref name=":3">{{Citar web|url=https://www.britannica.com/place/Portugal/History|titulo=History of Portugal|data=|acessodata=2024-11-08|website=Britannica|lingua=en}}</ref><ref name=":4">{{citar web|url=https://www.infopedia.pt/artigos/$romanizacao-da-peninsula-iberica|titulo=Romanização da Península Ibérica|acessodata=2024-11-08|website=Infopédia}}</ref> |
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Em {{AC|219|x}}, as primeiras [[Legião romana|legiões romanas]] invadem a Península Ibérica (que viriam a designar por [[Hispânia]]) no âmbito da [[Segunda Guerra Púnica]] contra [[Cartago]] (herdeiros dos [[Fenícia|fenícios]] na zona de influência a sul), num processo de conquista que só será terminado durante o reinado do [[Império Romano|Imperador]] [[Augusto]] em {{AC|19|x}}. Os [[Roma Antiga|Romanos]], com forte presença militar na Península (não só devido à guerra com Cartago, mas posteriormente em [[Invasão romana da Península Ibérica|processos de conquista territorial das populações ibéricas]], bem como em [[Guerras civis romanas|lutas intestinas entre romanos]], tais como a revolta de [[Sertório]] entre 83–{{AC|72|x}}, ou a guerra civil de [[Júlio César|César]] entre 49–{{AC|45|x}}), acabaram por ser a mais importante influência cultural nas populações que viriam a constituir a nação portuguesa. Tal influência deveu-se ao legado maior do [[latim]] (nomeadamente o [[latim vulgar]]) como, inicialmente, [[língua franca]] de comunicação e, posteriormente, língua universal (extinguindo todas as línguas pré-Romanas que se falavam na Península, com a conhecida excepção do [[Língua basca|Basco]], provavelmente originário do [[Aquitanos|Aquitânio]]), que originou a [[língua portuguesa]]. Outra influência que se pode considerar romana, ainda que de origem não romana e numa fase muito posterior (já no {{séc|IV}}), foi o [[cristianismo]]. A importância romana foi não só directa, através destes e outros legados culturais, como indirecta e ainda presente, já que a Civilização Romana se constitui como uma das fontes matriciais da [[Mundo ocidental|Civilização Europeia]]. |
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Com o domínio romano sobre Portugal, gradualmente foram impostos sobre os povos locais a cultura e os costumes romanos e a [[Latim|língua latina]], o que ficou conhecido como [[romanização]].<ref name=":0" /><ref name=":4" /> A língua portuguesa é baseada no latim, mais especificamente da sua variante [[Latim vulgar|vulgar]] falada na Península Ibérica. O [[cristianismo]], religião tradicional do povo português, chegou ao território português nos séculos II e III.<ref name=":3" /> Os romanos também deixaram algum legado genético nos portugueses.<ref name=":2" /> |
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A importância de Roma não foi, no entanto, apenas cultural, já que importantes processos de colonização populacional também se verificaram, nomeadamente através da presença contínua de legiões romanas e dos estabelecimentos subsidiados de [[legionário]]s após o cumprimento do serviço militar (os chamados eméritos — daí a existência de cidades assim chamadas, como [[Emerita Augusta]], hoje [[Mérida (Espanha)|Mérida]], em Espanha, e antiga capital da província romana da [[Lusitânia]]). |
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A importância de Roma não foi, no entanto, apenas cultural, já que importantes processos de colonização populacional também se verificaram, nomeadamente através da presença contínua de legiões romanas e dos estabelecimentos subsidiados de [[legionário]]s após o cumprimento do serviço militar (os chamados eméritos — daí a existência de cidades assim chamadas, como [[Emerita Augusta]], hoje [[Mérida (Espanha)|Mérida]], em Espanha, e antiga capital da província romana da [[Lusitânia]]).[[Imagem:Iberia 560-pt.svg|thumb|150px|Hispânia em 560 — a verde-azulada, a zona de implantação Sueva]]No início do século V, com a decadência do [[Império Romano do Ocidente]], a Península Ibérica foi invadida tomada pelos povos [[Germanos|germânicos]] [[suevos]], [[vândalos]] e [[visigodos]] e pelos [[alanos]], [[Povos iranianos|irânicos]], oriundos do [[Cáucaso]]. No entanto, apenas os visigodos e suevos permaneceram na região por mais tempo. Do ponto de vista genético, os germânicos deixaram muito pouco legado na Ibéria, dado o pequeno número de invasores em relação à população da época.<ref name=":0" /><ref name=":1" /> |
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=== Os germânicos === |
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[[Imagem:Iberia 560-pt.svg|thumb|150px|Hispânia em 560 — a verde, a zona de implantação Sueva]] |
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No início do {{séc|V}}, no âmbito da [[Queda do Império Romano|decadência]] do [[Império Romano do Ocidente]], vários [[Germanos|povos germânicos]] invadem a Península Ibérica. Os [[suevos]] ([[quados]] e [[marcomanos]]; acompanhados por um pequeno grupo de [[búrios]]<ref>Domingos Maria da Silva (2006), ''Os Búrios'', Terras de Bouro, Câmara Municipal de Terras de Bouro.</ref>) e os [[vândalos]] ([[silingos]] e [[asdingos]]; acompanhados dos seus aliados [[sármatas]], os [[alanos]]) estabelecem-se no ocidente peninsular. Os vândalos e alanos irão migrar na sua maioria para o Norte de África e serão substituídos por outra população germânica entretanto chegada à Península — os [[visigodos]]. |
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Estas populações germânicas rapidamente adquiriram os hábitos, religião e língua das populações que inicialmente dominaram, ao ponto de a sua diferenciação étnico-linguística ter desaparecido, só permanecendo a pertença visigoda como elemento de distinção [[Nobreza|nobiliárquica]] e [[Linhagem|linhagística]]. Os visigodos foram, inclusive, elementos centrais de reforço da romanização mais tardia de Portugal e de toda a Península Ibérica, com a sua conversão do [[arianismo]] ao [[catolicismo]] e a promulgação de [[Direito Visigótico|legislação, inclusive "códigos"]], em relativa continuidade com o [[Direito romano]]. Além disso, esses invasores também contribuíram com a língua portuguesa, enriquecendo-a com novas palavras. |
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Serão os suevos e os visigodos, portanto, as populações germânicas que definitivamente se estabelecem em território ibérico. Apesar da presença de elementos visigodos em território português,<ref>{{Citar web |url=http://www.ipa.min-cultura.pt/pubs/RPA/v5n2/folder/339.pdf |título=Mário Varela Gomes (2002), ''A necrópole visigótica do Poço dos Mouros (Silves)'', Revista Portuguesa de Arqueologia, vol.5, nº2, p.339-391}}</ref> que denota algum grau de povoamento (essencialmente de elite) espalhado por todo esse território, será a presença sueva a mais duradoura e com maior impacto. |
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Os [[suevos]], que estabelecem um [[Reino Suevo|reino independente]] na antiga província romana da [[Galécia]] (incluindo a moderna [[Galiza]] e o território português entre os rios [[Rio Minho|Minho]] e Douro; de notar que a fronteira sueva foi flutuante, muitas vezes se expandindo para lá do [[Tejo]] e incluindo, portanto, [[Lisboa]]), com capital em ''[[Bracara Augusta|Bracara]]'' (hoje [[Braga]]), e que resistiu à anexação pelo [[Reino Visigótico]] durante quase 200 anos, foram a população germânica que mais impacto terá tido nas populações de Portugal, já que muitos deles se estabeleceram como agricultores e se disseminaram pelo conjunto da população e território.<ref>O historiador americano Dan Stanislawski considera mesmo que os [[suevos]] foram uma das mais marcantes influências no carácter cultural e material das populações portuguesas (que tanta importância teriam nos processo da [[Reconquista]] Cristã). Teriam sido eles, aliás, os grandes responsáveis pela estrutura agrária [[Minifúndio|minifundiária]] do [[Região Norte (Portugal)|norte de Portugal]] (particularmente do [[Minho (província)|Minho]] e [[Douro (província) Douro]]. A sua importância é para mais atestada pelo facto de o norte português e o centro litoral até à região de [[Lisboa]], serem as zonas da Península Ibérica com o maior número de [[Toponímia|topónimos]] [[Línguas germânicas|germânicos]]. Ver [http://libro.uca.edu/stanislawski/portugal.htm Dan Stanislawski (1959), ''The Individuality of Portugal: A Study in Historical-Political Geography'', University of Texas Press].</ref> A população sueva estabelecida na Galécia é estimada entre 30 a 35 000 indivíduos, isto é 6% a 12% da população total da Galécia (correspondente à metade Norte de [[Portugal]] e [[Galiza]]) de então que eram o mesmo povo.<ref>{{Citar web |url=http://people.virginia.edu/~jca4w/Jorge%20Arias%20-%20Identity%20and%20Interaction%20The%20Suevi%20and%20the%20Hispano-Romans.pdf |título=Jorge C. Arias (2007), ''Identity and Interaction: The Suevi and the Hispano-Romans'', University of Virginia, p. 15 |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20071025144342/http://people.virginia.edu/~jca4w/Jorge%20Arias%20-%20Identity%20and%20Interaction%20The%20Suevi%20and%20the%20Hispano-Romans.pdf |arquivodata=2007-10-25 |urlmorta=yes }}</ref> Essa presença coincide também com o mais alto grau de contribuição genética germânica<ref> {{Citar web |ultimo=Maciamo |url=https://www.eupedia.com/genetics/spain_portugal_dna.shtml |titulo=Eupedia |acessodata=2021-06-10 |website=Eupedia |lingua=en}} </ref> no território atual de Portugal e Galiza em toda a Península Ibérica. A única outra região ibérica com contribuição germânica significativa é a Catalunha, devido à ocupação dos reis Francos. |
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Estas populações germânicas rapidamente adquiriram os hábitos, religião e língua das populações que inicialmente dominaram, ao ponto de a sua diferenciação étnico-linguística ter desaparecido, só permanecendo a pertença visigoda como elemento de distinção [[Nobreza|nobiliárquica]] e [[Linhagem|linhagística]]. Os visigodos foram, inclusive, elementos centrais de reforço da [[romanização]] mais tardia de Portugal e de toda a Península Ibérica, com a sua conversão do [[arianismo]] ao [[catolicismo]] e a promulgação de [[Direito Visigótico|legislação, inclusive "códigos"]], em relativa continuidade com o [[Direito romano]]. |
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=== Os mouros === |
=== Os mouros === |
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[[Imagem:Map of expansion of Caliphate.svg|thumb|A Expansão Islâmica]] |
[[Imagem:Map of expansion of Caliphate.svg|thumb|A Expansão Islâmica]] |
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Aproveitando-se da profunda crise económica e social e das disputas do [[Reino Visigótico|Reino Visigodo]] e atendendo a um chamado de um chefe visigodo, em 711 [[árabes]] e [[berberes]] vindos do [[Norte de África]], apelidados pelos cristãos de “[[mouros]]”, começaram a invadir a Península Ibérica, a que denominaram [[Al-Andalus]], conquistando-a em poucos anos. A única região da Península não dominada pelos muçulmanos foram as [[Astúrias]], onde os visigodos se refugiaram e formaram resistência, dali iniciando a [[Reconquista]], a retomada das terras ibéricas pelos cristãos.<ref name=":0" /><ref name=":5">{{Citar web|url=https://ensina.rtp.pt/explicador/a-organizacao-politica-territorial-e-economica-dos-muculmanos-na-peninsula-iberica/|titulo=A organização política, territorial e económica dos muçulmanos na Península Ibérica|acessodata=2024-11-08|website=RTP Ensina|lingua=pt-PT}}</ref> |
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Em 711 a [[Invasão muçulmana da Península Ibérica|Península Ibérica foi invadida por exércitos Islâmicos]] [[Norte de África|norte-africanos]], conhecidos pela designação genérica de [[mouros]] — tratava-se essencialmente de [[berberes]] com elementos [[árabes]]. A presença e domínio [[Islão|islâmico]] na Península (chamada [[Al-Andalus]], em [[Língua árabe|árabe]] '''الإندلس''' ) veio a revelar-se um processo duradouro com importantes consequências civilizacionais. Se a campanha de conquista muçulmana, aproveitando-se de uma guerra civil entre diferentes facções visigodas pelo trono da [[Hispânia visigótica]], demorou somente 8 anos, o domínio mouro em território português prolongou-se até à conquista definitiva do [[Reino do Algarve]] pelos portugueses em 1249. |
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Havia tolerância religiosa para [[judeus]] e cristãos na Península Ibérica sob o domínio islâmico, desde que pagassem um imposto. Os cristãos que viviam em terras ibéricas muçulmanas eram designados por [[moçárabes]] e a língua predominante baseava-se no latim, mas absorveu influências do árabe, pelo que a língua portuguesa tem vocabulário originário desta língua, como álcool, alface, almanaque, armazém, arroba, azeitona, cenoura, chafariz, limão e xarope.<ref name=":0" /><ref name=":5" /> |
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Não pode pensar-se este processo de cinco séculos como um que tenha oposto linearmente as populações cristãs aos invasores islâmicos. Ocorreram processos de aculturação e entrecruzamento entre as populações autóctones da Península e as populações ditas «mouras». Os processos culturais foram de extrema importância: a complexidade, sofisticação e envergadura civilizacional, os contributos tecnológicos e científicos, linguísticos e literários, intelectuais e artísticos do [[Islamismo|Islão]] na Península Ibérica (e, por essa via, para toda a Civilização Europeia) foram de tal ordem que levam vários historiadores a falar, pelo menos para alguns dos períodos de dominação islâmica, de uma [[Idade de ouro islâmica|idade de ouro civilizacional]], a que toda a [[Europa]] muito deveria.<ref>Ver, por exemplo: S.E. Al-Djazairi (2005), ''The Hidden Debt to Islamic Civilisation'', Bayt Al-Hikma Press; David Levering Lewis (2008), ''God’s Crucible: Islam and the Making of Modern Europe, 570–1215'', Norton.</ref> |
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[[Imagem:Linguistic map Southwestern Europe-en.gif|thumb|260px|Mapa cronológico que mostra a retração do [[Dialeto árabe andalusino|árabe andalusino]]/[[Língua moçárabe|moçárabe]] (''Arabic & Mozarabic'') e a expansão da [[língua portuguesa]] (''Portuguese'') a partir do ano [[1000]].]] |
[[Imagem:Linguistic map Southwestern Europe-en.gif|thumb|260px|Mapa cronológico que mostra a retração do [[Dialeto árabe andalusino|árabe andalusino]]/[[Língua moçárabe|moçárabe]] (''Arabic & Mozarabic'') e a expansão da [[língua portuguesa]] (''Portuguese'') a partir do ano [[1000]].]] |
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Estas visões racistas e racialistas, tal como muitas outras perspectivas mais generalizadas (inclusive na própria Península Ibérica) que, ainda que não tão marcadamente discriminatórias como as anteriores, fazem dos mouros ibéricos uma população e categoria «racial» radicalmente diferente das populações autóctones ibéricas, não têm em consideração os seguintes aspectos: |
Estas visões racistas e racialistas, tal como muitas outras perspectivas mais generalizadas (inclusive na própria Península Ibérica) que, ainda que não tão marcadamente discriminatórias como as anteriores, fazem dos mouros ibéricos uma população e categoria «racial» radicalmente diferente das populações autóctones ibéricas, não têm em consideração os seguintes aspectos: |
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* As populações norte africanas (bem como os pequenos grupos de [[árabes]], de [[África subsariana|subsarianos]], de [[Escravidão|escravos]] [[eslavos]], de [[persas]], etc., a elas associadas), mesmo com os diferentes momentos de entrada dessas populações ao longo dos séculos (coincidindo em grande medida com a entrada de novos exércitos aquando dos momentos de luta interna, política ou religiosa — ''fitna'', no [[Al-Andalus]]), foram sempre uma [[minoria]] que não terá ultrapassado os 10% do conjunto da população total.<ref name="Ignacio Olagüe Videla 1974">Ignacio Olagüe Videla (1974), La Revolución islámica en Occidente.</ref> |
* As populações norte africanas (bem como os pequenos grupos de [[árabes]], de [[África subsariana|subsarianos]], de [[Escravidão|escravos]] [[eslavos]], de [[persas]], etc., a elas associadas), mesmo com os diferentes momentos de entrada dessas populações ao longo dos séculos (coincidindo em grande medida com a entrada de novos exércitos aquando dos momentos de luta interna, política ou religiosa — ''fitna'', no [[Al-Andalus]]), foram sempre uma [[minoria]] que não terá ultrapassado os 10% do conjunto da população total.<ref name="Ignacio Olagüe Videla 1974">Ignacio Olagüe Videla (1974), La Revolución islámica en Occidente.</ref> |
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* A maioria da população muçulmana da Península Ibérica era constituída por autóctones ibéricos convertidos (os chamados [[Muladi| |
* A maioria da população muçulmana da Península Ibérica era constituída por autóctones ibéricos convertidos (os chamados [[Muladi|muladis]]). Com isso, muitos dos "mouros" eram, de facto, europeus, ibéricos, de religião islâmica.<ref name="Ignacio Olagüe Videla 1974"/> |
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* A maioria da população em zonas de domínio muçulmano, ao longo de todos os séculos de presença, não era muçulmana (com algumas excepções localizadas espacial e temporalmente), mas sim população autóctone ibérica que se manteve de [[Línguas românicas|língua românica]] e [[Cristianismo|cristã]] (do [[Rito moçárabe|rito visigótico]]), ainda que fortemente arabizada do ponto de vista cultural — os chamados |
* A maioria da população em zonas de domínio muçulmano, ao longo de todos os séculos de presença, não era muçulmana (com algumas excepções localizadas espacial e temporalmente), mas sim população autóctone ibérica que se manteve de [[Línguas românicas|língua românica]] e [[Cristianismo|cristã]] (do [[Rito moçárabe|rito visigótico]]), ainda que fortemente arabizada do ponto de vista cultural — os chamados moçárabes<ref>Emilio González Ferrín (2006), Historia General de Al-Andalus.</ref> (repare-se que moçárabe, para designar a população ou a língua, é um termo moderno do {{séc|XIX}} — essas populações referiam-se a si próprias e à sua língua como ''Latinus''<ref>Roger Wright (1982), ''Late Latin and Early Romance in Spain and Carolingian France'', Liverpool, University of Liverpool.</ref>). |
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* A maioria das populações norte-africanas que de facto se estabeleceram na Península eram [[berberes]] |
* A maioria das populações norte-africanas que de facto se estabeleceram na Península eram [[berberes]], os quais, particularmente das regiões mais litorais, não podem ser descritos como uma população radicalmente diferente das populações [[Europa meridional|sul-europeias]], com as quais, aliás, apresentam ligações ancestrais. |
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* Mesmo nas elites islâmicas, a presença de elementos conversos não era despicienda — mesmo algumas dinastias reinantes tinham origem [[Hispânia|hispano]]-[[Visigodos|visigótica]] (como os [[Banu Cassi]], fundados pelo converso hispano-visigodo [[Conde Cássio]]). |
* Mesmo nas elites islâmicas, a presença de elementos conversos não era despicienda — mesmo algumas dinastias reinantes tinham origem [[Hispânia|hispano]]-[[Visigodos|visigótica]] (como os [[Banu Cassi]], fundados pelo converso hispano-visigodo [[Conde Cássio]]). |
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* Os processos sociais do final da [[Reconquista]] e do período seguinte instituíram sistemas de discriminação social (geridos em parte pelas autoridades religiosas) que guetizaram e até expulsaram (para o Norte de África) fatias significativas das populações ditas [[Mourisco|mouriscas]] (as quais de qualquer modo, tinham uma origem basicamente autóctone ibérica). |
* Os processos sociais do final da [[Reconquista]] e do período seguinte instituíram sistemas de discriminação social (geridos em parte pelas autoridades religiosas) que guetizaram e até expulsaram (para o Norte de África) fatias significativas das populações ditas [[Mourisco|mouriscas]] (as quais de qualquer modo, tinham uma origem basicamente autóctone ibérica). |
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==== O legado genético do domínio islâmico ==== |
==== O legado genético do domínio islâmico ==== |
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Existem vários estudos focados no impacto dos séculos de [[Al-Andalus|domínio e presença islâmica na Península Ibérica]] no [[Pool de genes|património genético]] das populações da Península Ibérica. |
Existem vários estudos focados no impacto dos séculos de [[Al-Andalus|domínio e presença islâmica na Península Ibérica]] no [[Pool de genes|património genético]] das populações da Península Ibérica. |
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Os estudos genómicos mais recentes e abrangentes estabelecem que a ancestralidade do Norte de África pode ser identificada em grande parte da Península Ibérica, variando entre 0% e 11%, mas é mais elevada no sul e no oeste da península, estando ausente ou quase ausente no [[País Basco]].<ref name=":2" /><ref>{{Citar periódico |url=https://www.nature.com/articles/s41467-018-08272-w |título=Patterns of genetic differentiation and the footprints of historical migrations in the Iberian Peninsula |data=2019-02-01 |acessodata=2024-11-08 |periódico=Nature Communications |número=1 |ultimo=Bycroft |primeiro=Clare |ultimo2=Fernandez-Rozadilla |primeiro2=Ceres |paginas=551 |lingua=en |doi=10.1038/s41467-018-08272-w |issn=2041-1723 |pmc=6358624 |pmid=30710075 |ultimo3=Ruiz-Ponte |primeiro3=Clara |ultimo4=Quintela |primeiro4=Inés |ultimo5=Carracedo |primeiro5=Ángel |ultimo6=Donnelly |primeiro6=Peter |ultimo7=Myers |primeiro7=Simon |volume=10}}</ref> |
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Alguns desses estudos apontam para relação parcial, ainda que pequena, entre algumas das populações ibéricas (nomeadamente do extremo sudeste da Península) e algumas populações norte-africanas. A Península Ibérica e a [[Sicília]] são as únicas regiões europeias com níveis significativos do [[Haplogrupo E (ADN-Y)|haplotipo Y-cromossomático E-M81]] (típico do noroeste africano; de notar que este e outros marcadores genéticos deste tipo estão também presentes noutras regiões da Europa — a questão é de significado estatístico das frequências).<ref>{{Citar web |url=http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=1181965 |título=Ornella Semino et al. (2004), ''Origin, Diffusion, and Differentiation of Y-Chromosome Haplogroups E and J: Inferences on the Neolithization of Europe and Later Migratory Events in the Mediterranean Area'', Am J Hum Genet. 2004 May; 74(5): 1023–1034}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17216803?dopt=AbstractPlus |título=N. Gérard et al. (2006), ''North African Berber and Arab influences in the western Mediterranean revealed by Y-chromosome DNA haplotypes'', Hum Biol. 2006 Jun;78(3):307-16}}</ref> Por outro lado, é difícil saber se estas contribuições para o genoma ibérico são o resultado dos séculos de domínio muçulmano ou de antigos processos démicos que antecedem a presença islâmica, constituindo o resultado de algum fundo populacional e migratório do Ocidente mediterrânico, como se constata quando se analisam as populações berberes norte-africanas. No caso português, pelo menos, parece ser esta claramente a situação.<ref name="goncalves2005">{{citar periódico|ultimo=Gonçalves|primeiro=Rita|ultimo2=Freitas|primeiro2=Ana|ultimo3=Branco|primeiro3=Marta|ultimo4=Rosa|primeiro4=Alexandra|ultimo5=Fernandes|primeiro5=Ana T.|ultimo6=Zhivotovsky|primeiro6=Lev A.|ultimo7=Underhill|primeiro7=Peter A.|ultimo8=Kivisild|primeiro8=Toomas|ultimo9=Brehm|primeiro9=António|ano=2005|titulo=Y‐chromosome Lineages from Portugal, Madeira and Açores Record Elements of Sephardim and Berber Ancestry|jornal=Annals of Human Genetics|volume=69|numero=4|paginas=443-454|doi=10.1111/j.1529-8817.2005.00161.x|mes=06}}</ref> |
Alguns desses estudos apontam para relação parcial, ainda que pequena, entre algumas das populações ibéricas (nomeadamente do extremo sudeste da Península) e algumas populações norte-africanas. A Península Ibérica e a [[Sicília]] são as únicas regiões europeias com níveis significativos do [[Haplogrupo E (ADN-Y)|haplotipo Y-cromossomático E-M81]] (típico do noroeste africano; de notar que este e outros marcadores genéticos deste tipo estão também presentes noutras regiões da Europa — a questão é de significado estatístico das frequências).<ref>{{Citar web |url=http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=1181965 |título=Ornella Semino et al. (2004), ''Origin, Diffusion, and Differentiation of Y-Chromosome Haplogroups E and J: Inferences on the Neolithization of Europe and Later Migratory Events in the Mediterranean Area'', Am J Hum Genet. 2004 May; 74(5): 1023–1034}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17216803?dopt=AbstractPlus |título=N. Gérard et al. (2006), ''North African Berber and Arab influences in the western Mediterranean revealed by Y-chromosome DNA haplotypes'', Hum Biol. 2006 Jun;78(3):307-16}}</ref> Por outro lado, é difícil saber se estas contribuições para o genoma ibérico são o resultado dos séculos de domínio muçulmano ou de antigos processos démicos que antecedem a presença islâmica, constituindo o resultado de algum fundo populacional e migratório do Ocidente mediterrânico, como se constata quando se analisam as populações berberes norte-africanas. No caso português, pelo menos, parece ser esta claramente a situação.<ref name="goncalves2005">{{citar periódico|ultimo=Gonçalves|primeiro=Rita|ultimo2=Freitas|primeiro2=Ana|ultimo3=Branco|primeiro3=Marta|ultimo4=Rosa|primeiro4=Alexandra|ultimo5=Fernandes|primeiro5=Ana T.|ultimo6=Zhivotovsky|primeiro6=Lev A.|ultimo7=Underhill|primeiro7=Peter A.|ultimo8=Kivisild|primeiro8=Toomas|ultimo9=Brehm|primeiro9=António|ano=2005|titulo=Y‐chromosome Lineages from Portugal, Madeira and Açores Record Elements of Sephardim and Berber Ancestry|jornal=Annals of Human Genetics|volume=69|numero=4|paginas=443-454|doi=10.1111/j.1529-8817.2005.00161.x|mes=06}}</ref> |
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A maioria dos estudos genéticos verifica que a presença de elementos norte-africanos nas modernas populações ibéricas é menor quando comparada com a base ancestral pré-islâmica.<ref>{{Citar web |url=http://mbe.oxfordjournals.org/cgi/content/full/21/7/1361#F04 |título=Isabelle Dupanloup et al. (2004), ''Estimating the Impact of Prehistoric Admixture on the Genome of Europeans '', Mol. Biol. Evol. 21(7):1361-1372}}</ref> De facto, verifica-se uma clara descontinuidade genética entre o norte de África e a Península Ibérica, já que vários desses estudos não detectam nenhuma relação particular entre populações ibéricas (mesmo as do |
A maioria dos estudos genéticos verifica que a presença de elementos norte-africanos nas modernas populações ibéricas é menor quando comparada com a base ancestral pré-islâmica.<ref>{{Citar web |url=http://mbe.oxfordjournals.org/cgi/content/full/21/7/1361#F04 |título=Isabelle Dupanloup et al. (2004), ''Estimating the Impact of Prehistoric Admixture on the Genome of Europeans '', Mol. Biol. Evol. 21(7):1361-1372}}</ref> De facto, verifica-se uma clara descontinuidade genética entre o norte de África e a Península Ibérica, já que vários desses estudos não detectam nenhuma relação particular entre populações ibéricas (mesmo as do sul, na Andaluzia; mais tempo submetidas ao domínio islâmico) e norte-africanas. Os resultados destes estudos mostram, globalmente, que as populações ibéricas e norte-africanas se originaram em linhagens genéticas diferentes e que o [[Estreito de Gibraltar]] funcionou como uma significativa barreira ao fluxo de genes. |
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=== A formação de Portugal === |
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Na realidade, as populações ibéricas apresentam um grau substancial de homogeneidade e de clara pertença ao conjunto europeu de diversidade genética.<ref name="EntrezSystem2 2000">{{Citar web |url=http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11129330?ordinalpos=1&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_Discovery_RA |título=D. Comas et al. (2000), ''Alu insertion polymorphisms in NW Africa and the Iberian Peninsula: evidence for a strong genetic boundary through the Gibraltar Straits'', Hum Genet. 107(4):312-9}}</ref> A clara diferenciação entre as populações do noroeste africano e da Península Ibérica sugerem que o [[Mar Mediterrâneo]] funcionou, neste caso, como uma forte barreira geográfica que restringiu os fluxos démicos, ainda que fortes factores culturais também possam ter jogado o seu papel.<ref name="EntrezSystem2 2000"/> |
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Em 868, com a conquista de [[Porto]] e [[Braga]] pelos cristãos, foi criado, subordinado ao [[Reino de Leão]], o [[Condado Portucalense]], embrião do Estado português, tendo como primeiro líder [[Vímara Peres]]. Em 1096, esse condado foi cedido a [[Henrique de Borgonha, conde de Portucale|Henrique de Borgonha]], bisneto do rei [[Roberto II de França]], e, após sua morte, em 1112, foi governado por sua viúva, [[Teresa de Leão]]. Em 1128, ocorre a [[Batalha de São Mamede]], na qual [[Afonso Henriques]], filho de Henrique e Teresa, derrotou a mãe e se tornou conde.<ref name=":6">{{citar web|url=https://www.infopedia.pt/artigos/$condado-portucalense|titulo=Condado Portucalense|acessodata=2024-11-08|website=Infopédia}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://www.leme.pt/magazine/efemerides/0624/batalha-de-sao-mamede.html|titulo=Batalha de São Mamede|acessodata=2024-11-08|website=O Leme}}</ref><ref name=":7">{{Citar web|url=https://ensina.rtp.pt/artigo/tratado-de-zamora/|titulo=O Tratado de Zamora|acessodata=2024-11-08|website=RTP Ensina|lingua=}}</ref> |
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Como resultado da vitória da tropa de Afonso Henrique sobre os mouros na Batalha de Ourique (1139), foi criado o Reino de Portugal, cuja autonomia foi reconhecida pelo [[Reino de Castela|Reino de Castela e Leão]] pelo [[Tratado de Zamora]] (1143) e pela [[Igreja Católica]] por meio da bula [[Manifestis Probatum]] (1179).<ref name=":6" /><ref name=":7" /> |
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==== As minorias mouriscas e judias ==== |
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Em 1249, com a conquista do [[Faro]] pelos portugueses, a Reconquista terminou para Portugal e as fronteiras do reino logo após esse feito são muito parecidas com a de Portugal continental atual.<ref name=":0" /> |
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A [[Al-Andalus|presença islâmica na Península]] não foi um processo pacífico, embora não tenha sido apenas um processo bélico. Desde cedo se verificaram processos reactivos por parte das elites e populações cristãs peninsulares. Tal levou à formação de entidades estatais no norte da Península, área que, de resto, pouca presença e influência islâmica teve. É desta reacção social, cultural e militar a que se convencionou chamar «[[Reconquista]]» que emergiram não só os estados ibéricos, mas também as modernas populações e identidades nacionais da Península. |
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A centralização administrativa de Portugal foi precoce, tendo se iniciado no século XII e se consolidado após a [[Batalha de Aljubarrota]] (1385), por meio da qual a [[Dinastia de Avis]] ascendeu ao poder e a independência de Portugal foi garantida, pois nela Castela, que tentara invadir Portugal várias vezes, foi derrotada.<ref>{{Citar web|url=https://querobolsa.com.br/enem/historia-brasil/formacao-de-portugal-e-revolucao-de-avis|titulo=Formação de Portugal e Revolução de Avis - Manual do Enem|acessodata=2024-11-08|website=Quero Bolsa}}</ref> |
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Este é claramente o caso de [[Portugal]]. Desde a fundação do [[Condado de Portucale]] por [[Vímara Peres]] em 868, passando pela fundação do seu sucessor [[Condado Portucalense]], já com [[Henrique de Borgonha|D. Henrique]], e incluindo os territórios flutuantes do antigo [[Condado de Coimbra]], até à [[Independência de Portugal|independência]] do [[Reino de Portugal]] com [[Afonso Henriques]] em 1139,<ref>{{Citar web |url=http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Portugal/ |título=Portal do Governo da República Portuguesa - Portugal: História; Ver também: José Mattoso (2007), ''D. Afonso Henriques'', Lisboa, Temas & Debates}}</ref> a [[História de Portugal]] é uma de construção política de um espaço geo-demográfico que se diferencia dos seus vizinhos cristãos (mormente a [[Galiza]] e o [[Reino de Leão]], depois [[Reino de Castela]]) à custa do território conquistado aos muçulmanos. Este processo culminara com a tomada do [[Reino do Algarve]] por [[Afonso III de Portugal|Afonso III]] em 1249, tornando Portugal a primeira nação da Península Ibérica a repor a soberania e valores [[cristãos]]. Na Espanha esse processo culminou em 1492 com os [[Reis Católicos]]. |
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Findo o domínio político e territorial islâmico, isso não eliminou totalmente a presença de populações islâmicas. Todo o processo histórico da Reconquista foi de grandes movimentações populacionais em toda a Península Ibérica — êxodos internos, conversões, re-conversões, alianças múltiplas, entrada e estabelecimento de populações «[[cruzada]]s» trans-pirenaicas (nomeadamente [[Franceses|francesas]], [[Flamengos|flamengas]]), etc. No essencial, no entanto, a base populacional não se alterou, sendo os processos então verificados mais culturais do que propriamente démicos. Neste sentido, do ponto de vista demográfico e de integração social, as questões mais prementes que então se colocavam eram as de, por um lado, integrar as populações cristãs do norte (de [[rito romano]] e de língua [[Galaico-português|galaico-portuguesa]]) com as populações [[moçárabes]] do sul (de [[Rito moçárabe|rito visigótico]] e [[língua moçárabe]]) — o que foi rapidamente conseguido devido à irmandade religiosa (o [[Cristianismo]]) e linguística ([[Línguas ibero-ocidentais|românico ibérico ocidental]]), e de, por outro lado, integrar as duas populações que maior alteridade sociocultural e religiosa apresentavam — os [[mourisco]]s de [[Islão|religião muçulmana]] e os [[judeu]]s [[sefardita]]s. |
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=== As minorias muçulmanas e judias === |
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Existiam, portanto ainda, minorias mouriscas e judias em Portugal após o final da Reconquista. Ambas eram objecto de processos de [[discriminação]] de intensidade historicamente variável, sendo, por exemplo, obrigadas à residência circunscrita quando residentes em zonas de povoamento urbano (as chamadas ''[[judiaria]]s'' e ''[[mouraria]]s''), bem como, nalguns momentos históricos, a indumentária específica facilmente identificável. Isso com certeza, contribuiu para um declínio e eventualmente êxodo destas minorias. |
Existiam, portanto ainda, minorias mouriscas e judias em Portugal após o final da Reconquista. Ambas eram objecto de processos de [[discriminação]] de intensidade historicamente variável, sendo, por exemplo, obrigadas à residência circunscrita quando residentes em zonas de povoamento urbano (as chamadas ''[[judiaria]]s'' e ''[[mouraria]]s''), bem como, nalguns momentos históricos, a indumentária específica facilmente identificável. Isso com certeza, contribuiu para um declínio e eventualmente êxodo destas minorias. |
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Parte dos muçulmanos que habitaram Al-Andaluz, cujas origens eram variadas – com muitos sendo descendentes de muladis (nativos ibéricos convertidos ao Islão) e outros sendo descendentes de árabes e berberes vindos do Norte de África e [[Médio Oriente]] -, permaneceram nos reinos cristãos ibéricos, ficando conhecidos como [[Mudéjar|mudéjares]]. Em 1496, o rei [[Manuel I de Portugal|Dom Manuel I]] ordenou que os mudéjares e judeus que viviam em Portugal convertessem-se forçadamente ao cristianismo e a penalização daqueles que não cumprissem com a expulsão do reino, confisco de bens ou a morte. Os muçulmanos que se converteram ao cristianismo ficaram conhecidos como mouriscos, que consistiam de populações pouco numerosas, pobres, concentradas especialmente em [[Lisboa]], [[Setúbal]], [[Évora]] e Algarve.<ref>Mário Maestri (2006), ''Mouriscos em Portugal triste história, triste historiografia'', in Contra Relatos desde el Sur. Apuntes sobre Africa y Medio Oriente, Año II, no. 3. CEA-UNC, CLACSO, Córdoba, Argentina.</ref><ref>{{citar web|ultimo=Ribas|primeiro=Rogério de Oliveira|url=https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-01/1548772188_c5b908b0bef1103650bc0f513257230b.pdf|titulo=Mouriscos cavaleiros e mouriscos de bens no Império Português|acessodata=2024-11-08|website=ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História}}</ref> |
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Os [[Judeus em Portugal|judeus portugueses]], pertencentes à etnia dos [[sefarditas]], estão presentes em Portugal desde o século I, em resultado da expulsão dos judeus de [[Canaã]] após as [[Guerras romano-judaicas|Guerras Romano-Judaicas]], estando a sua presença claramente documentada desde 482 e fortemente atestada desde os tempos visigóticos.<ref>Jorge Martins (2006), ''Portugal e os Judeus: Volume I - dos primórdios da nacionalidade à legislação pombalina'', Lisboa, Vega.</ref> Durante a Ibéria sob domínio islâmico, entre os séculos VIII e XI, os judeus tinham sua religião tolerada mediante pagamento de impostos. Este foi um [[Idade de Ouro da cultura judaica no Al-Andalus|período áureo]] para esse povo na Península Ibérica, com um florescimento intelectual e religioso. Até o século XV, os judeus desfrutavam de um lugar proeminente na sociedade portuguesa, ocupando posições como médicos, comerciantes, banqueiros, cartógrafos e gestores. Havia [[antissemitismo]] nessa época, com perseguições pontuais. Em 1492, a população judaica em Portugal era de 80 mil indivíduos, aos quais somaram-se, nesse mesmo ano, 120 mil vindos de [[Espanha]], após os [[Reis Católicos]] [[Decreto de Alhambra|decretarem a expulsão dos judeus do território espanhol]].<ref name=":8">{{Citar web|url=https://www.jewishvirtuallibrary.org/sephardim|titulo=Sephardim|acessodata=2024-11-08|website=Jewish Virtual Library}}</ref><ref name=":9">{{citar livro|título=Lonely Planet: Portugal|editora=Globo|ano=2018|edicao=3ª|local=Rio de Janeiro|página=503}}</ref><ref>{{citar periódico |url=https://seer.ufrgs.br/index.php/webmosaica/article/view/53272/32947 |título=Criptojudeus em Portugal: “Deus, antes de ser português, foi judeu!” |data=2014 |periódico=WebMosaica |número=2 |ultimo=Steinhardt |primeiro=Inácio |paginas=133-142 |volume=6}}</ref> |
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Os [[Judeus em Portugal|judeus portugueses]], maioritáriamente do subgrupo dos judeus sefarditas, eram uma presença mais antiga na Península, talvez remontando aos tempos romanos tardios, claramente documentada desde 482<ref>Jorge Martins (2006), ''Portugal e os Judeus: Volume I - dos primórdios da nacionalidade à legislação pombalina'', Lisboa, Vega.</ref> e fortemente atestada desde os tempos visigóticos. Esta sempre foi uma minoria com um lugar problemático nas sociedades ibéricas (tal como nas europeias em geral), devido às particularmente fortes tendências [[Anti-semitismo|anti-semitas]] que cedo se fizeram sentir no [[Cristianismo]]. A situação dos judeus em Portugal oscilou entre períodos de relativa tolerância até períodos de forte perseguição. Não se sabe qual a percentagem da população portuguesa que poderia ser judia nos finais da [[Idade Média]] (séculos XIV e XV), em 1492 e mesmo após a ordem de expulsão e conversões forçadas em massa ordenadas pelo rei Dom [[Manuel I]] em 1497. A fuga de muitos judeus portugueses para outros países europeus ([[Países Baixos]], [[França]], [[Inglaterra]]) bem como os países [[Islão|islâmicos]] do [[Mar Mediterrâneo|Mediterrâneo]] ([[Norte de África]] e [[Império Otomano]]), foi-se verificando ao longo dos séculos seguintes, já que a ordem de expulsão e conversões forçadas manuelinas, que também afectaram os mouriscos, não acabaram com os processos de controlo social e administrativo, nem com as perseguições e discriminações étnico-religiosas (como o [[Massacre de Lisboa de 1506]]). |
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Após o decreto de 1496 do rei Dom Manuel I contra os judeus em Portugal, ordenando a conversão forçada destes ao Cristianismo e penalizando os que a recusassem, muitos deles deixaram o território português, migrando para os países muçulmanos do [[Mediterrâneo]], outras partes da Europa Ocidental e para o Brasil. Logo após esse decreto régio, iniciou-se o terror, com o [[Massacre de Lisboa de 1506|massacre de Lisboa]] de 1506 e o estabelecimento da [[Inquisição portuguesa|Inquisição Portuguesa]] em 1536. Com exceção de um grupo de criptojudeus de [[Belmonte (Portugal)|Belmonte]], a comunidade judaica portuguesa lentamente pereceu.<ref name=":8" /><ref name=":9" /> |
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A criação do estatuto diferenciado de [[Cristão-novo|cristão novo]] (com menos regalias sociais do que os [[Cristão-velho|cristãos velhos]], aplicado aos descendentes e que subsistiria até 1772), no âmbito dos códigos de [[Limpeza de sangue]] que se instituíram em toda a Península Ibérica, bem como o surgimento da [[Inquisição Portuguesa]] em 1536 (que duraria até 1821) e a obrigatoriedade de elementos distintivos de vestuário para cristãos novos, impôs um esquema de forte segregação e perseguição social que levou, a longo prazo, à extinção das comunidades judias (com a demograficamente insignificante excepção das comunidades [[Marranos|marranas]] de [[cripto-judeus]], em [[Belmonte (Portugal)|Belmonte]] e pouco mais), quer por assimilação, quer principalmente por êxodo. |
A criação do estatuto diferenciado de [[Cristão-novo|cristão novo]] (com menos regalias sociais do que os [[Cristão-velho|cristãos velhos]], aplicado aos descendentes e que subsistiria até 1772), no âmbito dos códigos de [[Limpeza de sangue]] que se instituíram em toda a Península Ibérica, bem como o surgimento da [[Inquisição Portuguesa]] em 1536 (que duraria até 1821) e a obrigatoriedade de elementos distintivos de vestuário para cristãos novos, impôs um esquema de forte segregação e perseguição social que levou, a longo prazo, à extinção das comunidades judias (com a demograficamente insignificante excepção das comunidades [[Marranos|marranas]] de [[cripto-judeus]], em [[Belmonte (Portugal)|Belmonte]] e pouco mais), quer por assimilação, quer principalmente por êxodo. |
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A questão central no que concerne a origem populacional dos portugueses é que, mesmo que tivessem ficado estas minorias judias e mouriscas em percentagem relevante após a [[Reconquista]], tal não alteraria, como não alterou, as características do espectro démico português, já que, por um lado, os mouriscos tinham uma origem essencialmente ibérica e, por outro, também a tinham os judeus ibéricos (cuja origem remota se encontra na presença de minúsculas populações judias vindas do [[Médio Oriente]] ou doutros locais do [[Império Romano]] cuja expansão demográfica se deveu a influxos populacionais ibéricos, bem como, no essencial, à conversão de autóctones<ref>Antonio Medina Molera (1980), ''Historia de Andalucía''.</ref>). |
A questão central no que concerne a origem populacional dos portugueses é que, mesmo que tivessem ficado estas minorias judias e mouriscas em percentagem relevante após a [[Reconquista]], tal não alteraria, como não alterou muito, as características do espectro démico português, já que, por um lado, os mouriscos tinham, muitas vezes, uma origem essencialmente ibérica e, por outro, também a tinham os judeus ibéricos (cuja origem remota se encontra na presença de minúsculas populações judias vindas do [[Médio Oriente]] ou doutros locais do [[Império Romano]] cuja expansão demográfica se deveu a influxos populacionais ibéricos, bem como, no essencial, à conversão de autóctones<ref>Antonio Medina Molera (1980), ''Historia de Andalucía''.</ref>). |
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=== A escravatura africana (subsariana) === |
=== A escravatura africana (subsariana) === |
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A explicação provável para a existência de linhagens subsaarianas em Portugal é a escravatura moderna (séculos XV a XVIII), o que se torna ainda mais lógico quando essas linhagens sejam mais frequentes nas ilhas que foram povoadas nesse período, os arquipélagos dos [[Açores]]<ref>{{Citar web |url=http://muse.jhu.edu/login?uri=/journals/human_biology/v077/77.2fernando.pdf |título=Olga Fernando et al. (2005), ''Peopling of the Azores Islands (Portugal): Data from the Y Chromosome'', Human Biology, vol. 77, n. 2, pp. 189-199 |acessodata=2019-10-23 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20160304095807/http://muse.jhu.edu/login?uri=%2Fjournals%2Fhuman_biology%2Fv077%2F77.2fernando.pdf |arquivodata=2016-03-04 |urlmorta=sim }}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.citeulike.org/user/Archaeogenetics/article/1728623 |título=Domingos Neto et al. (2007), ''The African contribution to the present-day population of the Azores Islands (Portugal): Analysis of the Y chromosome haplogroup E'', Am J Hum Biol (21 August 2007) |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20090218212214/http://www.citeulike.org/user/Archaeogenetics/article/1728623 |arquivodata=2009-02-18 |urlmorta=sim }}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.citeulike.org/user/azoresdna/article/512188 |título=C Santos et al. (2003), ''Genetic structure and origin of peopling in the Azores islands (Portugal): the view from mtDNA'', Ann Hum Genet, Vol. 67, No. Pt 5. (September 2003), pp. 433-456 |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20090224152935/http://www.citeulike.org/user/azoresdna/article/512188 |arquivodata=2009-02-24 |urlmorta=sim }}</ref> e da [[Ilha da Madeira|Madeira]],<ref name="goncalves2005"/><ref>{{Citar web |url=http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B7581-4JSBXBX-19&_user=10&_rdoc=1&_fmt=&_orig=search&_sort=d&view=c&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=db339c0d64769e5bd729b79bcf464434 |título=Ana T. Fernandes et al. (2006), ''Analysis of Y-chromosome and mtDNA variability in the Madeira Archipelago population'', International Congress Series, Volume 1288, April 2006, pp. 94-96 |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20091206071555/http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B7581-4JSBXBX-19&_user=10&_rdoc=1&_fmt=&_orig=search&_sort=d&view=c&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=db339c0d64769e5bd729b79bcf464434 |arquivodata=2009-12-06 |urlmorta=sim }}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.springerlink.com/content/5rp512e7jux8bcd7/ |título=António Brehm et al. (2003), ''Mitochondrial portraits of the Madeira and Açores archipelagos witness different genetic pools of its settlers'', Human Genetics, vol. 114, n. 1, pp. 77-86}}</ref> que, mesmo assim, não apresentam grandes diferenças com [[Portugal Continental]], de onde a maioria das linhagens genéticas provém (particularmente do [[Região Norte (Portugal)|Norte]]<ref>{{Citar web |url=http://www.ceha-madeira.net/livros/infante.html |título=Alberto Vieira, ''O Infante e a Madeira: dúvidas e certezas, Centro Estudos História Atlântico}}</ref>), nem em relação às distribuições típicas da maioria das populações da [[Europa Ocidental]]. |
A explicação provável para a existência de linhagens subsaarianas em Portugal é a escravatura moderna (séculos XV a XVIII), o que se torna ainda mais lógico quando essas linhagens sejam mais frequentes nas ilhas que foram povoadas nesse período, os arquipélagos dos [[Açores]]<ref>{{Citar web |url=http://muse.jhu.edu/login?uri=/journals/human_biology/v077/77.2fernando.pdf |título=Olga Fernando et al. (2005), ''Peopling of the Azores Islands (Portugal): Data from the Y Chromosome'', Human Biology, vol. 77, n. 2, pp. 189-199 |acessodata=2019-10-23 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20160304095807/http://muse.jhu.edu/login?uri=%2Fjournals%2Fhuman_biology%2Fv077%2F77.2fernando.pdf |arquivodata=2016-03-04 |urlmorta=sim }}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.citeulike.org/user/Archaeogenetics/article/1728623 |título=Domingos Neto et al. (2007), ''The African contribution to the present-day population of the Azores Islands (Portugal): Analysis of the Y chromosome haplogroup E'', Am J Hum Biol (21 August 2007) |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20090218212214/http://www.citeulike.org/user/Archaeogenetics/article/1728623 |arquivodata=2009-02-18 |urlmorta=sim }}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.citeulike.org/user/azoresdna/article/512188 |título=C Santos et al. (2003), ''Genetic structure and origin of peopling in the Azores islands (Portugal): the view from mtDNA'', Ann Hum Genet, Vol. 67, No. Pt 5. (September 2003), pp. 433-456 |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20090224152935/http://www.citeulike.org/user/azoresdna/article/512188 |arquivodata=2009-02-24 |urlmorta=sim }}</ref> e da [[Ilha da Madeira|Madeira]],<ref name="goncalves2005"/><ref>{{Citar web |url=http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B7581-4JSBXBX-19&_user=10&_rdoc=1&_fmt=&_orig=search&_sort=d&view=c&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=db339c0d64769e5bd729b79bcf464434 |título=Ana T. Fernandes et al. (2006), ''Analysis of Y-chromosome and mtDNA variability in the Madeira Archipelago population'', International Congress Series, Volume 1288, April 2006, pp. 94-96 |acessodata=2008-03-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20091206071555/http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B7581-4JSBXBX-19&_user=10&_rdoc=1&_fmt=&_orig=search&_sort=d&view=c&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=db339c0d64769e5bd729b79bcf464434 |arquivodata=2009-12-06 |urlmorta=sim }}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.springerlink.com/content/5rp512e7jux8bcd7/ |título=António Brehm et al. (2003), ''Mitochondrial portraits of the Madeira and Açores archipelagos witness different genetic pools of its settlers'', Human Genetics, vol. 114, n. 1, pp. 77-86}}</ref> que, mesmo assim, não apresentam grandes diferenças com [[Portugal Continental]], de onde a maioria das linhagens genéticas provém (particularmente do [[Região Norte (Portugal)|Norte]]<ref>{{Citar web |url=http://www.ceha-madeira.net/livros/infante.html |título=Alberto Vieira, ''O Infante e a Madeira: dúvidas e certezas, Centro Estudos História Atlântico}}</ref>), nem em relação às distribuições típicas da maioria das populações da [[Europa Ocidental]]. |
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== Genética da população portuguesa == |
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[[Ficheiro:Y-Chromosome Haplogroup Distributions in Iberian, North African, and Sephardic Jewish Populations.jpg|miniaturadaimagem|[[Haplogrupos do cromossoma Y humano|Haplogrupos do cromossoma Y]] na Península Ibérica]] |
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Os dados sobre a composição genética dos Portugueses apontam para a sua fraca diferenciação interna e base essencialmente [[Europa|continental europeia]] [[Paleolítico|paleolítica]].<ref>{{Citar web |url=http://www.nature.com/ejhg/journal/v12/n10/full/5201225a.html |título=Carlos Flores et al. (2004), ''Reduced genetic structure of the Iberian peninsula revealed by Y-chromosome analysis: implications for population demography'', European Journal of Human Genetics (2004) 12, 855–863}}</ref> |
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[[Ficheiro:MtDNA haplogroup frequencies in the main Iberian regions.PNG|miniaturadaimagem|[[Haplogrupos de ADN mitocondrial humano]] na Península Ibérica]] |
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Desenvolvimentos das [[metodologia]]s para definição das [[estrutura]]s populacionais levaram a um estudo de 2006<ref>{{Citar web|url=http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17044734|título=, M.F. Seldin et al. (2006), ''European Population Substructure: Clustering of Northern and Southern Populations'', PLoS Genet. 2006 Sep 15;2(9):e143}}</ref> que concluiu verificar-se uma clara e consistente divisão entre grupos populacionais sul e [[Europa setentrional|norte-europeus]]. Um estudo adicional de 2007 posiciona as populações ibéricas algo afastadas de outros grupos continentais, incluindo outros grupos sul-europeus. Neste estudo, a mais importante diferenciação genética europeia atravessa o continente de norte para sudeste, acompanhada de um outro eixo de diferenciação este-oeste (diferenciando o sul do norte), ao mesmo tempo que se verificou, apesar destas linhas de demarcação relativa, a homogeneidade e proximidade genética de todas as populações europeias.<ref>{{Citar web|url=http://vetinari.sitesled.com/euroaims.pdf|título=Marc Bauchet et al. (2007), ''Measuring European Population Stratification using Microarray Genotype Data'', The American Journal of Human Genetics, vol. 80|acessodata=2008-03-15|arquivourl=https://web.archive.org/web/20081218230512/http://vetinari.sitesled.com/euroaims.pdf|arquivodata=2008-12-18|urlmorta=yes}}</ref> |
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É certo que houve processos démicos no [[Mesolítico]] (provável ligação ao [[Norte de África]]) e [[Neolítico]] (criando alguma ligação com o [[Médio Oriente]], mas bastante menos do que noutras zonas da Europa), tal como as migrações das [[Idade do Cobre|Idades do Cobre]], [[Idade do Bronze|Bronze]] e [[Idade do Ferro|Ferro]] contribuíram para a [[Indo-europeus|indo-europeização]] da [[Península Ibérica]] (essencialmente uma «[[Celtas|celtização]]»), sem apagar o forte carácter [[Mar Mediterrâneo|mediterrânico]], particularmente a sul e leste. A [[romanização]], as invasões [[Germanos|germânicas]], o domínio [[Islão|islâmico]] [[Mouros|mouro]] e a presença [[Judeus em Portugal|judaica]] terão tido igualmente o seu impacto e a sua contribuição démica. |
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Podem mesmo listar-se todos os povos historicamente mais importantes que por Portugal passaram e/ou ficaram: |
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* As culturas pré-[[Línguas indo-europeias|indo-europeias]] da [[Península Ibérica]] (como [[Tartesso]] e outras anteriores) e seus descendentes (como os [[cónios]], posteriormente «celtizados»); |
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* Os [[Língua proto-céltica|protoceltas]] e [[celtas]] (tais como os [[Lusitanos]], [[Galaicos]], [[Célticos]]); |
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* Alguns poucos [[Fenícia|fenícios]] e [[Cartago|cartagineses]]; |
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* [[Roma Antiga|Romanos]]; |
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* [[Suevos]], [[búrios]] e [[visigodos]], bem como alguns poucos [[vândalos]] e [[alanos]]; |
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* Uma pequena minoria de [[berberes]] com alguns [[árabes]] e ''[[saqaliba]]'' (escravos [[eslavos]]); |
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* [[Judeu]]s [[sefardita]]s; |
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* Alguns [[Vikings]];<ref> {{Citar web |ultimo=Coentrão |primeiro=Abel |url=https://www.publico.pt/2016/09/16/culturaipsilon/noticia/ha-mil-anos-os-vikings-espalharam-o-terror-pelo-norte-de-portugal-1744301 |titulo=Há mil anos, os vikings espalharam o terror pelo Norte de Portugal |acessodata=2021-06-10 |website=PÚBLICO |lingua=pt}} </ref> |
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* Fluxos menos maciços de migrantes [[Europa|europeus]] (particularmente da [[Europa Ocidental]]). |
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Os portugueses partilham algumas características étnicas com os [[bascos]], desde a Antiguidade. Os resultados de um estudo de [[Antígeno leucocitário humano|HLA]] em populações portuguesas mostram que estas têm características em comum com os bascos e alguns espanhóis de [[Madrid]]: uma elevada frequência dos haplótipos HLA A29-B44-DR7 (antigos europeus ocidentais) e A1-B8-DR3 são encontradas como características comuns. Muitos portugueses e bascos não apresentam o haplótipo Mediterrânico A33-B14-DR1, confirmando uma menor mistura com os mediterrânicos.<ref>{{citar livro|título=Prehistoric Iberia: Genetics, Anthropology, and Linguistics|ultimo=Arnaiz-Villena|primeiro=Antonio|editora=Springer|ano=2012}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=https://www.nature.com/articles/s41598-019-44121-6 |título=Spatially explicit analysis reveals complex human genetic gradients in the Iberian Peninsula |data=2019-05-24 |periódico=Scientific Reports |número=1 |ultimo=Pimenta |primeiro=João |ultimo2=Lopes |primeiro2=Alexandra M. |pagina=7825 |lingua=en |doi=10.1038/s41598-019-44121-6 |issn=2045-2322 |pmc=6534591 |pmid=31127131 |ultimo3=Carracedo |primeiro3=Angel |ultimo4=Arenas |primeiro4=Miguel |ultimo5=Amorim |primeiro5=António |ultimo6=Comas |primeiro6=David |volume=9}}</ref> |
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Todos estes processos populacionais terão deixado a sua marca, ora mais forte, ora só vestigial. Mas a base genética da população relativamente homogénea<ref>De facto, a presente população portuguesa apresenta características que não só a marcam como uma população ibérica paleolítica, mas também como uma população, conjuntamente com os bascos, relativamente isolada de grandes influências mediterrânicas, bem como com um nível de especificidades tais que apontam para um [[Efeito fundador]] ("The Portuguese have a characteristic unique among world populations: a high frequency of HLA-A25-B18-DR15 and A26-B38-DR13, which may reflect a still detectable founder effect coming from ancient Portuguese"). Ver [http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9382919?ordinalpos=1&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_RVDocSum A. Arnaiz-Villena et al. (1997), ''Relatedness among Basques, Portuguese, Spaniards, and Algerians studied by HLA allelic frequencies and haplotypes'', Immunogenetics, 47(1):37-43.]</ref> do território português, como do resto da Península Ibérica, mantém-se a mesma nos últimos quarenta milénios: os primeiros [[Homo sapiens|seres humanos modernos]] a entrar na Europa Ocidental, os [[caçadores-recolectores]] do [[Paleolítico]]. |
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== Processos migratórios modernos == |
== Processos migratórios modernos == |
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De acordo com dados da Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros português,<ref>Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros (1999), ''Dados Estatísticos sobre as Comunidades Portuguesas'', IC/CP - DGACCP/DAX/DID - Maio 1999.</ref> os países com maiores comunidades portuguesas são, por ordem crescente de importância demográfica, a França, o Brasil e os Estados Unidos (caso se considerem, no cômputo dos luso-americanos, aqueles que descendem de portugueses em graus variados). |
De acordo com dados da Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros português,<ref>Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros (1999), ''Dados Estatísticos sobre as Comunidades Portuguesas'', IC/CP - DGACCP/DAX/DID - Maio 1999.</ref> os países com maiores comunidades portuguesas são, por ordem crescente de importância demográfica, a França, o Brasil e os Estados Unidos (caso se considerem, no cômputo dos luso-americanos, aqueles que descendem de portugueses em graus variados). |
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== Cultura == |
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{{Ver artigo principal|Cultura de Portugal}} |
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== Ver também == |
== Ver também == |
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Portugueses | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Bandeira de Portugal | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Mapa da diáspora portuguesa ao redor do mundo. | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
População total | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Regiões com população significativa | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Portugal: 10 665 000[nota 1] | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Línguas | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Português e Mirandês | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Religiões | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Em portugal[15] | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Grupos étnicos relacionados | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Galegos e outros espanhóis, franceses, italianos e outros povos da Europa Ocidental, bem como com os povos de língua oficial portuguesa. |
Os portugueses são um povo e grupo étnico nativo de Portugal, um país localizado no leste da Península Ibérica, entre a Europa Ocidental e Meridional, cujo idioma é a língua portuguesa e a religião predominante é o catolicismo. O povo português partilha em comum, para além da língua, uma cultura e uma ancestralidade.
A base genética do povo português está na miscigenação entre os caçadores-recoletores que habitaram a Europa Ocidental durante milénios, os agricultores da Anatólia que chegaram à região há sete mil anos, os pastores indo-europeus que chegaram à região durante a Idade do Bronze e os povos celtas que chegaram à região durante a Idade do Ferro. Também contribuíram para a sua formação romanos, germânicos, judeus e mouros (árabe-berberes).
Culturalmente, as presenças celta, romana, germânica e moura foram significativas, tal como foram decisivas a vizinhança e as relações com os restantes países europeus e as relações coloniais com África, o Brasil e o Índico a partir dos séculos XV e XVI.
O embrião do Estado Português foi o Condado Portucalense, fundado em 868 e subordinado ao Reino de Leão. No entanto, só após a Batalha de São Mamede (1128) é que Portugal ganhou reconhecimento internacional como um reino independente, através do Tratado de Zamora (1143) e da bula papal Manifestis Probatum (1179). Este estabelecimento do Estado português no século XII abriu o caminho para que o povo português se unisse como nação.
Os portugueses tiveram um papel importante nas Grandes Navegações e foram responsáveis por explorar terras até então desconhecidas pelos europeus ao redor do mundo, em locais como África, Américas e Ásia. A conquista de Ceuta, em 1415, marcou o início do Império Português, que foi um dos primeiros impérios globais e uma potência económica, politica e militar nos séculos XV e XVI.
No período moderno, os processos migratórios mais relevantes em Portugal deram-se nas últimas três décadas do século XX e até ao presente, com a notável exceção da entrada de grupos ciganos ainda no século XV. Após 1974, o país torna-se um recetor significativo de populações migrantes, quer como resultado direto ou indireto da descolonização de África, quer como resultado da participação de Portugal na União Europeia. Portugal tem vindo a receber em número crescente populações migrantes oriundas do Brasil (ex-colónia portuguesa), África (com maior relevância das ex-colónias), Ucrânia (e países do Leste Europeu em geral), além duma multiplicidade demograficamente menos significativa doutras origens, entre as quais avoluma a chinesa.
Portugal foi tradicionalmente uma terra de emigração, desde o período da expansão imperial e colonial, passando, por exemplo, pela emigração económica para o Brasil no século XIX e pela emigração económica, a partir de 1960, para alguns países da Europa Ocidental. Além dos cerca de dez milhões de portugueses residentes em Portugal, estima-se existirem milhões mais espalhados pelo mundo (incluindo os lusodescendentes recentes) num total de milhões de pessoas com raízes portugueses.[16]
Características físicas
Os portugueses, assim como outros povos do sul da Europa e mediterrânicos, são uma população predominantemente morena.[17]
Origens e formação
Paleolítico e Neolítico
Os primeiros humanos anatomicamente modernos alcançaram a Europa vindos da Anatólia há 45 mil anos, alcançando a Península Ibérica alguns milénios depois.[18][19] Nos milénios que seguiram-se, acompanhando a progressiva retração e extinção das populações neandertais, as culturas humanas modernas floresceram na Península Ibérica, produzindo culturas e períodos como o aurignaciano, gravetiano, solutreano e magdaleniano, alguns deles caracterizados por formas complexas de arte pré-histórica e que produziram expressões artísticas tão monumentais como as pinturas rupestres do Vale do Côa, no norte de Portugal.
Com o início do Último Máximo Glaciar, há 30 mil anos, a Península Ibérica foi um dos refúgios dos caçadores-recoletores europeus, com grande parte da Europa coberta por gelo. Há cerca de 20 mil anos, os caçadores-coletores de pele e olhos escuros que habitavam a Ibéria foram substituídos por caçadores-recoletores vindos dos Balcãs, os quais tinham pele escura e olhos claros e um pouco de ancestralidade do Próximo Oriente.[20][21][22]
Aparentemente, a maioria das linhagens maternas ibéricas são oriundas do período Mesolítico a Neolítico.[23]
Por volta de sete mil anos atrás, os agricultores vindos da Anatólia alcançaram a Península Ibérica, introduziram a agricultura na região e miscigenaram-se com os caçadores-recoletores locais. Assim como em outros povos do sul da Europa, a principal ancestralidade dos povos ibéricos é a dos agricultores anatólios, os quais introduziram a pele clara nessa parte da Europa.[24][25][26]
De qualquer forma, o Neolítico trouxe mudanças à paisagem humana da Península Ibérica a partir de há 7 000 a.C., com o desenvolvimento da agricultura e o início da Cultura Megalítica Europeia. Esta viria a espalhar-se por grande parte da Europa Ocidental e parte do Norte de África. Um dos centros mais antigos desta cultura monumental foi Portugal. Este é igualmente o período em que se assiste à expansão por via marítima, a partir do leste mediterrânico, da Cultura da Cerâmica Cardial, associada igualmente a processos migratórios marcados pela presença do Haplotipo E3b, originário do Corno de África e disperso pelo Mediterrâneo oriental durante o Mesolítico.[27][28][29][30][31][32][33]
A Idade do Cobre
A Idade do Cobre, ou Calcolítico, trouxe igualmente mudanças à paisagem humana e cultural da Península Ibérica e nomeadamente ao território português. Esta fase caracteriza-se pelo início da metalurgia, pelo aumento da complexidade e estratificação sociais, bem como, no caso ibérico, pelo aparecimento das primeiras civilizações e de extensas redes de troca e comércio que vão do Norte de África até ao Mar Báltico, com relevo para as Ilhas Britânicas.[34]
A data convencional para o começo do Calcolítico ibérico é de cerca de 3 000 a.C.. Nos séculos que se seguiram, particularmente no sul da Península, bens metálicos, muitas vezes decorativos e rituais, tornaram-se frequentemente comuns. Este é igualmente o período de grande expansão do Megalitismo, com as práticas funerárias associadas, que se expande ao longo das regiões Atlânticas e pelo sul da Península (além de pelo resto da Europa atlântica). Em contraste, a maioria das regiões do interior peninsular e mediterrâneas permanecem refractárias a este fenómenos. Outro fenómeno do início da Idade do Cobre é o desenvolvimento de monumentos funerários de tipo tolo e cavernas artificiais, que se encontram no sul ibérico, desde o Estuário do Tejo até Almeria e ao sudeste francês.
Por volta de século XXVII a.C., começaram a aparecer comunidades urbanas, mais uma vez mais marcadamente no sul do território. As mais importantes de toda a Península Ibérica foram a de Los Millares (no sudeste espanhol) e a de Zambujal (pertencendo à cultura de Vila Nova de São Pedro, em Portugal), podendo já ser chamadas «civilizações», ainda que lhes falte a componente escrita.
A partir de 2 150 a.C. dá-se uma importante transformação cultural e, em parte, populacional na Península Ibérica calcolítica, com o aparecimento da Cultura do Vaso Campaniforme, de origem portuguesa em paralelo com o megalitismo. Esta cultura ao difundir-se por toda a Europa demonstra tendências de regionalização, com diferentes estilos produzidos em várias regiões, sendo os mais importantes o tipo de Palmela em Portugal e os tipos Continental e Almeriano em Espanha.
Os povos proto-indo-europeus alcançaram a Península Ibérica por volta de 2 000 a.C. e miscigenaram-se com os habitantes locais, sendo que, nessa época, praticamente todas as linhagens paternas da península foram substituídas pelo haplogrupo R1b, oriundo dos proto-indo-europeus e hoje majoritário entre os homens ibéricos.[24]
A Idade do Bronze e do Ferro
A Idade do Bronze, que se desenvolve a partir de 1 800 a.C., acentuará os processos populacionais e culturais verificados na Idade do Cobre: aumento da urbanização a sul e leste, aumento das influências centro-europeias a norte e oeste. Na Idade do Bronze tardia, desenvolvem-se igualmente as primeiras civilizações urbanas com escrita, tais como a de Tartesso (na área da moderna Andaluzia ocidental), influenciada pela expansão comercial e cultural fenícia (e que, com base no alfabeto fenício, viria a desenvolver o primeiro sistema de escrita na Península Ibérica; o tartéssico constitui um isolado linguístico, tal como o ibero da Idade do Ferro, com o qual não tem nenhuma relação), e com forte impacto na região do sul de Portugal, na área que, posteriormente, veio a ser identificada como sendo habitada pelos cónios do Algarve e Baixo Alentejo (eventualmente com presença até ao Alto Alentejo e à Estremadura espanhola).
Os dois principais componentes dos desenvolvimentos populacionais do território português durante a Idade do Ferro foram a migração de populações celtas e o desenvolvimento da Civilização Tartéssica. Estes dois processos acentuaram ainda mais as características da paisagem cultural do Portugal de então — mediterrânico a sul do rio Tejo e continental a norte.[35]
Na primeira metade do primeiro milénio antes de Cristo, povos celtas, oriundos da Europa Central, migraram para o território português e misturaram-se com as populações locais, dando origem a várias populações que o habitavam quando os romanos chegaram, como os galaicos, lusitanos e célticos.[19] Os povos celtas e celtizados no Norte de Portugal e Galiza desenvolveram a cultura castreja, construindo os castros em regiões de maiores altitudes.[19][36][37] O sul de Portugal era habitado pelos cónios, um povo não-indo-europeu, influenciado pelo Reino Tartéssico. Os cónios viriam a misturar-se com os celtas.[38][39]
Os povos que habitavam o ocidente da Península Ibérica na época da chegada dos romanos eram os galaicos (a norte do Douro), os lusitanos (entre o Douro e o Tejo), os célticos (entre o Tejo e o Algarve) e os cónios ou cinetes (no Algarve), além de outros povos ibéricos pré-romanos com menor expressão, tais como os brácaros, celernos, equesos, gróvios, interâmicos, leunos, luancos, límicos, narbasos, nemetatos, pésures, quaquernos, seurbos, tamaganos, taporos, túrdulos, túrdulos velhos, túrdulos opidanos, turodos e zelas.
O domínio romano, a romanização e os germânicos
Os romanos começaram a conquistar a Península Ibérica, a que chamariam Hispânia, em 218 a.C., durante a Segunda Guerra Púnica. Em 194 a.C., começaram os primeiros conflitos entre os romanos e os lusitanos e estes últimos resistiram bravamente, destacando-se a liderança de Viriato, após cujo assassinato, em 140 a.C., o território dos lusitanos foi conquistado pelos romanos.[40][41]
Com o domínio romano sobre Portugal, gradualmente foram impostos sobre os povos locais a cultura e os costumes romanos e a língua latina, o que ficou conhecido como romanização.[19][41] A língua portuguesa é baseada no latim, mais especificamente da sua variante vulgar falada na Península Ibérica. O cristianismo, religião tradicional do povo português, chegou ao território português nos séculos II e III.[40] Os romanos também deixaram algum legado genético nos portugueses.[24]
A importância de Roma não foi, no entanto, apenas cultural, já que importantes processos de colonização populacional também se verificaram, nomeadamente através da presença contínua de legiões romanas e dos estabelecimentos subsidiados de legionários após o cumprimento do serviço militar (os chamados eméritos — daí a existência de cidades assim chamadas, como Emerita Augusta, hoje Mérida, em Espanha, e antiga capital da província romana da Lusitânia).
No início do século V, com a decadência do Império Romano do Ocidente, a Península Ibérica foi invadida tomada pelos povos germânicos suevos, vândalos e visigodos e pelos alanos, irânicos, oriundos do Cáucaso. No entanto, apenas os visigodos e suevos permaneceram na região por mais tempo. Do ponto de vista genético, os germânicos deixaram muito pouco legado na Ibéria, dado o pequeno número de invasores em relação à população da época.[19][23]
Estas populações germânicas rapidamente adquiriram os hábitos, religião e língua das populações que inicialmente dominaram, ao ponto de a sua diferenciação étnico-linguística ter desaparecido, só permanecendo a pertença visigoda como elemento de distinção nobiliárquica e linhagística. Os visigodos foram, inclusive, elementos centrais de reforço da romanização mais tardia de Portugal e de toda a Península Ibérica, com a sua conversão do arianismo ao catolicismo e a promulgação de legislação, inclusive "códigos", em relativa continuidade com o Direito romano. Além disso, esses invasores também contribuíram com a língua portuguesa, enriquecendo-a com novas palavras.
Os mouros
Aproveitando-se da profunda crise económica e social e das disputas do Reino Visigodo e atendendo a um chamado de um chefe visigodo, em 711 árabes e berberes vindos do Norte de África, apelidados pelos cristãos de “mouros”, começaram a invadir a Península Ibérica, a que denominaram Al-Andalus, conquistando-a em poucos anos. A única região da Península não dominada pelos muçulmanos foram as Astúrias, onde os visigodos se refugiaram e formaram resistência, dali iniciando a Reconquista, a retomada das terras ibéricas pelos cristãos.[19][42]
Havia tolerância religiosa para judeus e cristãos na Península Ibérica sob o domínio islâmico, desde que pagassem um imposto. Os cristãos que viviam em terras ibéricas muçulmanas eram designados por moçárabes e a língua predominante baseava-se no latim, mas absorveu influências do árabe, pelo que a língua portuguesa tem vocabulário originário desta língua, como álcool, alface, almanaque, armazém, arroba, azeitona, cenoura, chafariz, limão e xarope.[19][42]
Não pode pensar-se este processo de cinco séculos como um que tenha oposto linearmente as populações cristãs aos invasores islâmicos. Ocorreram processos de aculturação e entrecruzamento entre as populações autóctones da Península e as populações ditas «mouras». Os processos culturais foram de extrema importância: a complexidade, sofisticação e envergadura civilizacional, os contributos tecnológicos e científicos, linguísticos e literários, intelectuais e artísticos do Islão na Península Ibérica (e, por essa via, para toda a Civilização Europeia) foram de tal ordem que levam vários historiadores a falar, pelo menos para alguns dos períodos de dominação islâmica, de uma idade de ouro civilizacional, a que toda a Europa muito deveria.[43]
Além dos processos culturais, também ocorreram decerto processos démicos ou populacionais. Esta questão, a do contributo de populações mouras para o património genético das populações ibéricas modernas, levantou desde cedo muita controvérsia, não só por causa das conotações religiosas e políticas dessa presença moura no âmbito das discussões e competições nacionais e estatais intra-europeias, mas, acima de tudo, pelas conotações «raciais» dessa presença.
Desde a generalização das ideologias racistas e racialistas europeias a partir do século XIX, o período mouro da história peninsular foi usado como argumento para desqualificar «racial» e culturalmente os povos ibéricos da sua pertença europeia. Tais argumentos equiparam essa suposta componente norte-africana dos povos ibéricos a uma componente apenas qualificada como «africana» (ou seja, tendencialmente, subsariana, isto é, «negra»). Nos mundos de língua inglesa e alemã, por exemplo, a definição de «mouro», embora não sem ambiguidades, torna o termo praticamente sinônimo de «negro». Estas construções, particularmente vindas do mundo anglófono, foram historicamente mais relevantes aquando dos processos de competição colonial entre as potências ibéricas, particularmente a Espanha e as do norte da Europa, especialmente quando tais conflitos foram replicados luta entre catolicismo e protestantismo.
Estas visões racistas e racialistas, tal como muitas outras perspectivas mais generalizadas (inclusive na própria Península Ibérica) que, ainda que não tão marcadamente discriminatórias como as anteriores, fazem dos mouros ibéricos uma população e categoria «racial» radicalmente diferente das populações autóctones ibéricas, não têm em consideração os seguintes aspectos:
- As populações norte africanas (bem como os pequenos grupos de árabes, de subsarianos, de escravos eslavos, de persas, etc., a elas associadas), mesmo com os diferentes momentos de entrada dessas populações ao longo dos séculos (coincidindo em grande medida com a entrada de novos exércitos aquando dos momentos de luta interna, política ou religiosa — fitna, no Al-Andalus), foram sempre uma minoria que não terá ultrapassado os 10% do conjunto da população total.[44]
- A maioria da população muçulmana da Península Ibérica era constituída por autóctones ibéricos convertidos (os chamados muladis). Com isso, muitos dos "mouros" eram, de facto, europeus, ibéricos, de religião islâmica.[44]
- A maioria da população em zonas de domínio muçulmano, ao longo de todos os séculos de presença, não era muçulmana (com algumas excepções localizadas espacial e temporalmente), mas sim população autóctone ibérica que se manteve de língua românica e cristã (do rito visigótico), ainda que fortemente arabizada do ponto de vista cultural — os chamados moçárabes[45] (repare-se que moçárabe, para designar a população ou a língua, é um termo moderno do século XIX — essas populações referiam-se a si próprias e à sua língua como Latinus[46]).
- A maioria das populações norte-africanas que de facto se estabeleceram na Península eram berberes, os quais, particularmente das regiões mais litorais, não podem ser descritos como uma população radicalmente diferente das populações sul-europeias, com as quais, aliás, apresentam ligações ancestrais.
- Mesmo nas elites islâmicas, a presença de elementos conversos não era despicienda — mesmo algumas dinastias reinantes tinham origem hispano-visigótica (como os Banu Cassi, fundados pelo converso hispano-visigodo Conde Cássio).
- Os processos sociais do final da Reconquista e do período seguinte instituíram sistemas de discriminação social (geridos em parte pelas autoridades religiosas) que guetizaram e até expulsaram (para o Norte de África) fatias significativas das populações ditas mouriscas (as quais de qualquer modo, tinham uma origem basicamente autóctone ibérica).
O legado genético do domínio islâmico
Existem vários estudos focados no impacto dos séculos de domínio e presença islâmica na Península Ibérica no património genético das populações da Península Ibérica.
Os estudos genómicos mais recentes e abrangentes estabelecem que a ancestralidade do Norte de África pode ser identificada em grande parte da Península Ibérica, variando entre 0% e 11%, mas é mais elevada no sul e no oeste da península, estando ausente ou quase ausente no País Basco.[24][47]
Alguns desses estudos apontam para relação parcial, ainda que pequena, entre algumas das populações ibéricas (nomeadamente do extremo sudeste da Península) e algumas populações norte-africanas. A Península Ibérica e a Sicília são as únicas regiões europeias com níveis significativos do haplotipo Y-cromossomático E-M81 (típico do noroeste africano; de notar que este e outros marcadores genéticos deste tipo estão também presentes noutras regiões da Europa — a questão é de significado estatístico das frequências).[48][49] Por outro lado, é difícil saber se estas contribuições para o genoma ibérico são o resultado dos séculos de domínio muçulmano ou de antigos processos démicos que antecedem a presença islâmica, constituindo o resultado de algum fundo populacional e migratório do Ocidente mediterrânico, como se constata quando se analisam as populações berberes norte-africanas. No caso português, pelo menos, parece ser esta claramente a situação.[50]
A maioria dos estudos genéticos verifica que a presença de elementos norte-africanos nas modernas populações ibéricas é menor quando comparada com a base ancestral pré-islâmica.[51] De facto, verifica-se uma clara descontinuidade genética entre o norte de África e a Península Ibérica, já que vários desses estudos não detectam nenhuma relação particular entre populações ibéricas (mesmo as do sul, na Andaluzia; mais tempo submetidas ao domínio islâmico) e norte-africanas. Os resultados destes estudos mostram, globalmente, que as populações ibéricas e norte-africanas se originaram em linhagens genéticas diferentes e que o Estreito de Gibraltar funcionou como uma significativa barreira ao fluxo de genes.
A formação de Portugal
Em 868, com a conquista de Porto e Braga pelos cristãos, foi criado, subordinado ao Reino de Leão, o Condado Portucalense, embrião do Estado português, tendo como primeiro líder Vímara Peres. Em 1096, esse condado foi cedido a Henrique de Borgonha, bisneto do rei Roberto II de França, e, após sua morte, em 1112, foi governado por sua viúva, Teresa de Leão. Em 1128, ocorre a Batalha de São Mamede, na qual Afonso Henriques, filho de Henrique e Teresa, derrotou a mãe e se tornou conde.[52][53][54]
Como resultado da vitória da tropa de Afonso Henrique sobre os mouros na Batalha de Ourique (1139), foi criado o Reino de Portugal, cuja autonomia foi reconhecida pelo Reino de Castela e Leão pelo Tratado de Zamora (1143) e pela Igreja Católica por meio da bula Manifestis Probatum (1179).[52][54]
Em 1249, com a conquista do Faro pelos portugueses, a Reconquista terminou para Portugal e as fronteiras do reino logo após esse feito são muito parecidas com a de Portugal continental atual.[19]
A centralização administrativa de Portugal foi precoce, tendo se iniciado no século XII e se consolidado após a Batalha de Aljubarrota (1385), por meio da qual a Dinastia de Avis ascendeu ao poder e a independência de Portugal foi garantida, pois nela Castela, que tentara invadir Portugal várias vezes, foi derrotada.[55]
As minorias muçulmanas e judias
Existiam, portanto ainda, minorias mouriscas e judias em Portugal após o final da Reconquista. Ambas eram objecto de processos de discriminação de intensidade historicamente variável, sendo, por exemplo, obrigadas à residência circunscrita quando residentes em zonas de povoamento urbano (as chamadas judiarias e mourarias), bem como, nalguns momentos históricos, a indumentária específica facilmente identificável. Isso com certeza, contribuiu para um declínio e eventualmente êxodo destas minorias.
Parte dos muçulmanos que habitaram Al-Andaluz, cujas origens eram variadas – com muitos sendo descendentes de muladis (nativos ibéricos convertidos ao Islão) e outros sendo descendentes de árabes e berberes vindos do Norte de África e Médio Oriente -, permaneceram nos reinos cristãos ibéricos, ficando conhecidos como mudéjares. Em 1496, o rei Dom Manuel I ordenou que os mudéjares e judeus que viviam em Portugal convertessem-se forçadamente ao cristianismo e a penalização daqueles que não cumprissem com a expulsão do reino, confisco de bens ou a morte. Os muçulmanos que se converteram ao cristianismo ficaram conhecidos como mouriscos, que consistiam de populações pouco numerosas, pobres, concentradas especialmente em Lisboa, Setúbal, Évora e Algarve.[56][57]
Os judeus portugueses, pertencentes à etnia dos sefarditas, estão presentes em Portugal desde o século I, em resultado da expulsão dos judeus de Canaã após as Guerras Romano-Judaicas, estando a sua presença claramente documentada desde 482 e fortemente atestada desde os tempos visigóticos.[58] Durante a Ibéria sob domínio islâmico, entre os séculos VIII e XI, os judeus tinham sua religião tolerada mediante pagamento de impostos. Este foi um período áureo para esse povo na Península Ibérica, com um florescimento intelectual e religioso. Até o século XV, os judeus desfrutavam de um lugar proeminente na sociedade portuguesa, ocupando posições como médicos, comerciantes, banqueiros, cartógrafos e gestores. Havia antissemitismo nessa época, com perseguições pontuais. Em 1492, a população judaica em Portugal era de 80 mil indivíduos, aos quais somaram-se, nesse mesmo ano, 120 mil vindos de Espanha, após os Reis Católicos decretarem a expulsão dos judeus do território espanhol.[59][60][61]
Após o decreto de 1496 do rei Dom Manuel I contra os judeus em Portugal, ordenando a conversão forçada destes ao Cristianismo e penalizando os que a recusassem, muitos deles deixaram o território português, migrando para os países muçulmanos do Mediterrâneo, outras partes da Europa Ocidental e para o Brasil. Logo após esse decreto régio, iniciou-se o terror, com o massacre de Lisboa de 1506 e o estabelecimento da Inquisição Portuguesa em 1536. Com exceção de um grupo de criptojudeus de Belmonte, a comunidade judaica portuguesa lentamente pereceu.[59][60]
A criação do estatuto diferenciado de cristão novo (com menos regalias sociais do que os cristãos velhos, aplicado aos descendentes e que subsistiria até 1772), no âmbito dos códigos de Limpeza de sangue que se instituíram em toda a Península Ibérica, bem como o surgimento da Inquisição Portuguesa em 1536 (que duraria até 1821) e a obrigatoriedade de elementos distintivos de vestuário para cristãos novos, impôs um esquema de forte segregação e perseguição social que levou, a longo prazo, à extinção das comunidades judias (com a demograficamente insignificante excepção das comunidades marranas de cripto-judeus, em Belmonte e pouco mais), quer por assimilação, quer principalmente por êxodo.
A questão central no que concerne a origem populacional dos portugueses é que, mesmo que tivessem ficado estas minorias judias e mouriscas em percentagem relevante após a Reconquista, tal não alteraria, como não alterou muito, as características do espectro démico português, já que, por um lado, os mouriscos tinham, muitas vezes, uma origem essencialmente ibérica e, por outro, também a tinham os judeus ibéricos (cuja origem remota se encontra na presença de minúsculas populações judias vindas do Médio Oriente ou doutros locais do Império Romano cuja expansão demográfica se deveu a influxos populacionais ibéricos, bem como, no essencial, à conversão de autóctones[62]).
A escravatura africana (subsariana)
A presença africana subsariana resultante dos processos da escravatura atlântica tem sido alvo de debates e polémicas. Não só em relação a Portugal, mas igualmente em relação ao resto da Europa Ocidental,[63] isto porque havia um tráfico regular de escravos africanos não só de Portugal para Espanha, como para o resto da Europa.[64] No século XVI os escravos africanos tinham já substituído todos os outros grupos étnicos e religiosos de escravos nos mercados de escravos europeus ocidentais.[65] Não só foi tradicionalmente difícil quantificar o número de escravos «negros» em território português, também sempre foi difícil estimar, dadas nomeadamente as assimetrias na composição sexual das populações escravizadas, a taxa de reprodução dessas populações (por oposição, em especial, à sua substituição por novos contingentes importados). Este tema foi e é igualmente alvo de discussões de carácter político dadas a exageros, desde tentativas bem fundamentadas de reabilitação do papel dos africanos na história portuguesa,[66] até visões racistas que pretendem, pela visão negativa das populações africanas, discriminar Portugal e os Portugueses.[67] No entanto, até a antiga e desacreditada antropologia física racialista recusava a ideia de que se tivesse verificado um significativo influxo de populações subsarianas em Portugal.[68] Assim, não existe qualquer prova que em Portugal ou resto da Europa Ocidental, historicamente com domínios coloniais no passado; tenham sido deixadas marcas genéticas subsarianas de relevância[69] resultantes dos processos da escravatura.
É hoje sabido encontrarem-se marcadores genéticos subsarianos em todo o continente europeu, desde a Península Ibérica ao Báltico. Esses marcadores têm sido encontrados nomeadamente na Alemanha, Dinamarca, Grã-Bretanha, Finlândia, Sardenha, Sicília, Grécia, etc. Um estudo de 2005[70] encontrou frequências do haplogrupo de ADN Mitocondrial L (de origem subsariana) em 0,62% de uma amostra Dano-Alemã, 1% numa amostra Britânica, 3,83% numa amostra Ibérica (Portugueses e Espanhóis), 2,38% numa amostra Albanesa, 2,86% numa amostra da Sardenha e 0,94% numa amostra siciliana. Por seu lado, os haplogrupos Y-cromossomáticos de origem africana E e A foram detectados em Portugal (2%), França (2,5%), Alemanha (2%), Sardenha (1,6%), Áustria (0,78%), Itália (0,45%), Espanha (0,42%) e Grécia (0,27%).[29][71][72][73][74][75][76][77]
A explicação provável para a existência de linhagens subsaarianas em Portugal é a escravatura moderna (séculos XV a XVIII), o que se torna ainda mais lógico quando essas linhagens sejam mais frequentes nas ilhas que foram povoadas nesse período, os arquipélagos dos Açores[78][79][80] e da Madeira,[50][81][82] que, mesmo assim, não apresentam grandes diferenças com Portugal Continental, de onde a maioria das linhagens genéticas provém (particularmente do Norte[83]), nem em relação às distribuições típicas da maioria das populações da Europa Ocidental.
Genética da população portuguesa
Desenvolvimentos das metodologias para definição das estruturas populacionais levaram a um estudo de 2006[84] que concluiu verificar-se uma clara e consistente divisão entre grupos populacionais sul e norte-europeus. Um estudo adicional de 2007 posiciona as populações ibéricas algo afastadas de outros grupos continentais, incluindo outros grupos sul-europeus. Neste estudo, a mais importante diferenciação genética europeia atravessa o continente de norte para sudeste, acompanhada de um outro eixo de diferenciação este-oeste (diferenciando o sul do norte), ao mesmo tempo que se verificou, apesar destas linhas de demarcação relativa, a homogeneidade e proximidade genética de todas as populações europeias.[85]
Os portugueses partilham algumas características étnicas com os bascos, desde a Antiguidade. Os resultados de um estudo de HLA em populações portuguesas mostram que estas têm características em comum com os bascos e alguns espanhóis de Madrid: uma elevada frequência dos haplótipos HLA A29-B44-DR7 (antigos europeus ocidentais) e A1-B8-DR3 são encontradas como características comuns. Muitos portugueses e bascos não apresentam o haplótipo Mediterrânico A33-B14-DR1, confirmando uma menor mistura com os mediterrânicos.[86][87]
Processos migratórios modernos
Os processos migratórios que afectaram o território e população portuguesas não terminaram com os fluxos demográficos produzidos pela expansão colonial. Além de processos de menor escala e impacto, tais como o estabelecimento de uma multiplicidade de indivíduos isolados e de pequeníssimas comunidades de origem europeia (maioritariamente da Europa Ocidental, nomeadamente por razões de negócios), como alguns Italianos, Franceses e Flamengos (entre outros ainda de menor monta) durante os primórdios dos Descobrimentos, ou de comunidades Britânicas, particularmente no trato dos vinhos do Porto e da Madeira, a permanência de estrangeiros no território português (como na época das cruzadas, no repovoamento do território após a reconquista), ou igualmente a permanência durante pelos menos uma década de exércitos franceses e britânicos durante as Guerras Napoleónicas, os processos migratórios mais relevantes deram-se das últimas três décadas do século XX para cá, com a notável excepção da entrada de grupos Ciganos ainda no século XV. Mas, de facto, é no pós 1974 que Portugal se torna, na sua história moderna e contemporânea, um receptor significativo de populações migrantes, quer como resultado directo ou indirecto dos processos de descolonização, quer como resultado da entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia, e de todas as transformações sócio-económicas e culturais que produziu no país.
Os "Retornados"
Após a Revolução de 25 de Abril de 1974 e os processos de descolonização das então chamadas Províncias Ultramarinas (Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor — esta última a única não africana), a instabilidade social, política e militar nessas colónias levou a que a esmagadora maioria da população etnicamente portuguesa desses territórios (essencialmente estabelecida nas duas grandes colónias, Angola e Moçambique), de resto esmagadoramente estabelecida muito recentemente desde 1961 (data que coincide com o início da Guerra Colonial e o subsequente grande incentivo por parte do Estado Novo ao povoamento europeu das colónias africanas), retornasse ao território europeu português.
É difícil de quantificar o número exacto dessas "retornados", já que alguns segmentos da população portuguesa das colónias preferiu emigrar para a África do Sul, Brasil, Estados Unidos da América ou Canadá. O que é certo é que o no Recenseamento Geral da População de 1981, levado a cabo pelo Instituto Nacional de Estatística português (INE), mais de meio milhão de inquiridos declararam viver até 31 de Dezembro de 1973 em Angola, Moçambique ou noutra ex-colónia.
A integração desses "retornados" foi, nas palavras do sociólogo Rui Pena Pires,[88] um sucesso extremo de assimilação, apesar de alguns problemas sociais e de alguma discriminação inicial (comprovada, aliás, pela própria carga negativa, pelo menos então, da categoria "retornado"), o que demonstra a não diferenciação étnica das populações portuguesas do chamado ultramar em relação à "metrópole", bem como, dada a sua recentíssima expatriação, a sua integração em redes sociais coesas, como as familiares e de parentesco, que permitiram a sua rápida absorção e distribuição pelo conjunto do território nacional sem que se verificassem fenómenos persistentes de guetização e discriminação.
Minorias étnicas contemporâneas
Comunidades estrangeiras
País | Total |
---|---|
Total | 409 185 |
Europa | 153 307 |
União Europeia | 79 774 |
Alemanha | 13 851 |
Espanha | 16 597 |
França | 9 733 |
Itália | 4 951 |
Países Baixos | 5 854 |
Reino Unido | 19 592 |
Resto da UE | 9 196 |
Outros da Europa | 73 533 |
Bulgária | 3 160 |
Moldávia | 12 673 |
Roménia | 10 299 |
Rússia | 4 945 |
Ucrânia | 37 851 |
Resto da Europa | 4 605 |
África | 149 982 |
Angola | 33 215 |
Cabo Verde | 65 485 |
Guiné-Bissau | 24 513 |
Moçambique | 5 854 |
São Tomé e Príncipe | 10 761 |
Outros de África | 10 154 |
América | 82 600 |
Estados Unidos | 8 227 |
Brasil | 65 463 |
Outros da América | 8 910 |
Ásia | 22 418 |
China | 29 695 |
Índia | 3 614 |
Paquistão | 2 125 |
Outros da Ásia | 6 984 |
Apátridas | 878 |
Portugal de um país de que durante grande parte da sua história moderna foi considerado globalmente um país de emigração, tornou-se nas últimas três décadas um país de imigração. De facto, além de populações com origem na União Europeia e no resto da Europa, Portugal tem vindo a receber em número crescente populações migrantes com origem em África (com óbvia relevância para as ex-colónias) e no Brasil, além de uma multiplicidade demograficamente menos significativa de outras origens, entre as quais se avoluma a Chinesa.
É difícil quantificar o número de estrangeiros em Portugal, até pela existência de imigrantes em situação ilegal e não registada, e ainda mais difícil de quantificar o número daqueles que, tendo nacionalidade portuguesa, podem ser considerados como membros de minorias étnicas.
No respeitante aos cidadãos estrangeiros residentes com situação regularizada,[89] para 2006,[90] estima-se residirem de forma legal em Portugal menos de meio milhão de estrangeiros (concentrados em Lisboa, Faro, Setúbal e Porto), avultando as comunidades Brasileira, Cabo-Verdiana e Ucraniana.
Olhando para dados agregados por continente de origem (ver tabela ao lado com dados provisórios do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras português para 2006[91]), constata-se serem as comunidades mais importantes as europeias, seguidas das africanas, as americanas e finalmente as asiáticas. De facto, a importância demográfica destas populações é crescente no respeitante ao crescimento da população residente em território português,[92] ainda que não se possa considerar que Portugal tenha uma percentagem elevada de população estrangeira quando comparado com outros congéneres europeus.[93]
É claro que muitos residentes em Portugal categorizados enquanto minoria étnica em termos das relações sociais mais alargadas não estão representados nestes dados (o caso mais patente é o dos ciganos, tratado mais abaixo, mas também o dos goeses ou comunidades com origem no subcontinente indiano e que chegaram a Portugal no contexto da descolonização, tendo, portanto, nacionalidade portuguesa). E a presença de populações estrangeiras não significa por si só processos de assimilação na população portuguesa em geral. De facto, desde os anos 1970, os processos de discriminação e de etnização das relações sociais em Portugal têm-se vindo a acentuar, com particular destaque para a discriminação das populações de origem africana e brasileira, mesmo mais que populações que não têm como língua de origem o português (nomeadamente os Ucranianos).[94][95][96] Tal deve-se a múltiplos factores, desde institucionais e jurídicos (note-se que se a lei da nacionalidade de 1959 se baseava no direito de solo, as mudanças de 1975 e 1981 impuseram o princípio do direito de sangue, retirando a possibilidade de naturalização a filhos e netos já nascidos em Portugal de imigrantes, com todas as dificuldades de acesso à cidadania plena daí resultantes; esta situação legal só muito recentemente veio a ser algo alterada, mantendo-se todavia a primazia do direito de sangue), a socioculturais (decorrentes da percepção estigmatizante da diferença), bem como económicos (o acantonamente das principais comunidades migrantes em profissões relativamente desqualificadas), além de residenciais (a concentração geográfica em bairros degradados e guetizados, particularmente no caso das comunidades de origem africana). Estes processos são aliás concomitantes com o reforço de uma visão crescentemente étnico-racial da identidade nacional por parte dos Portugueses, mesmo nas gerações mais novas.[97][98][99][100]
A comunidade judia
Se a originária comunidade judia portuguesa foi praticamente extinta com os processos sociais, políticos e religiosos de perseguição dos séculos XV a XVIII (com a excepção de minúsculas comunidades isoladas de Marranos cripto-judeus), a partir do século XIX dá-se uma reconstituição de uma pequena comunidade judia em Portugal.
Hoje em dia não se verificam processos discriminatório relevante em relação à pequena comunidade judia portuguesa, ainda que ataques isolados contra a comunidade se tenham verificado, tal como os actos de vandalismo perpetrados no Cemitério Judaico de Lisboa em 2007 (com a profanação de campas através da pintura de cruzes suásticas). A memória da perseguição aos judeus continua presente, e levou a que, em 1987, o então Presidente da República, Mário Soares, pela primeira vez na História de Portugal, pedisse oficialmente perdão às comunidades judias de origem portuguesa pela responsabilidade de Portugal na Inquisição e nas passadas perseguições antijudaicas.
É difícil dizer quantos judeus existem presentemente em Portugal, embora o último recenseamento geral da população (2001) tenha estimado a população de religião judaica em 5 000 indivíduos, essencialmente concentrados em Lisboa[101] e Porto, com mais três pequenas comunidades, uma em Ponta Delgada (Açores), outra em Faro e outra em Belmonte.
A presente comunidade judaica é uma mescla entre judeus sefarditas de remota origem portuguesa, retornados a Portugal durante o século XIX (nomeadamente de Gibraltar, Marrocos e Império Otomano), cripto-judeus, finalmente praticantes públicos da sua religiosidade e retornados ao seio do Judaísmo institucionalizado (como os de Belmonte), e alguns judeus asquenazes, no essencial resultantes de algumas parcas decisões de estabelecimento em Portugal aquando do êxodo, através de Lisboa, ao Nazismo.
Os ciganos
A presença de comunidade ciganas em Portugal remonta à segunda metade do século XV, originários remotamente do norte da Índia e chegando ao território português por via continental europeia. Desde cedo, devido à sua diferença sociocultural e ao seu modo de vida nómada, os Ciganos foram objecto de fortíssima discriminação e perseguição em Portugal, como, aliás, em toda a Europa. As ordens de expulsão do território sucederam-se sem nunca terem conseguido apagar a sua presença.[102]
O número de Ciganos em Portugal é de difícil quantificação. Segundo dados da Comissão Europeia contra o Racismo e Intolerância do Conselho da Europa[103] seriam cerca de 50 000 espalhados por todo o país. Existem, no entanto, estimativas diferentes, como a da organização SOS Racismo,[104] que num inquérito de 2001, junto de 186 Câmaras Municipais, contabilizou somente um total 21, 831 indivíduos de etnia cigana.
A maioria das populações Ciganas em Portugal têm hoje um modo de vida sedentário, concentrando-se nos grandes aglomerados urbanos, e caracterizando-se pelos baixíssimos níveis de escolarização, pela exclusão social generalizada e por contextos residenciais precários (em bairros degradados de barracas). Segundo o relatório da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância,[105] os Ciganos são o grupo étnico que os Portugueses mais rejeitam e discriminam, sendo igualmente alvo de discriminação institucional por parte do Estado, nomeadamente ao nível das municipalidades, sendo-lhes levantadas dificuldades persistentes no acesso ao emprego, ao alojamento e aos serviços sociais, bem como na relação com as forças policiais. Globalmente a sua situação tem sido de exclusão social.[106][107][108][109][110]
Diáspora portuguesa
Portugal foi tradicionalmente uma terra de emigração: desde os processos de expansão imperial e colonização, passando pelo povoamento das Ilhas Atlânticas, pela colonização do Brasil (onde a maioria da população tem ancestralidade portuguesa;[111] ver Luso-brasileiro e Imigração portuguesa no Brasil) e dispersão noutras partes do Império (onde se formaram comunidades de origem parcialmente portuguesa, cultural — como em Goa os Goeses católicos, em Ceilão os Burghers portugueses, em Malaca os Cristang e em Macau os Macaenses; além das elites portuguesas ou mistas nas colónias africanas e em Timor); a emigração económica para o Brasil já no século XIX e primeira metade do XX, bem como, em menor medida, para outras regiões da América (Estados Unidos da América, Canadá, Caraíbas, Havai); a emigração económica e política a partir de 1960, essencialmente para os países mais desenvolvidos da Europa Ocidental (Suíça, Alemanha, França e Luxemburgo), bem como a emigração madeirense para a África do Sul e Venezuela e açoriana para os Estados Unidos e Canadá. Todos estes foram processos que produziram a existência de comunidades portuguesas fora de Portugal. É claro que, com o passar dos tempos e gerações, aqueles que inicialmente eram portugueses deixam de o ser, passando a ser americanos, canadianos, sul-africanos, brasileiros, venezuelanos, franceses, australianos etc. Ainda que, no âmbito das diferenciações étnicas desses países, possam ser categorizados como "portugueses" (luso-americanos, luso-brasileiros, luso-franceses, etc.). Contudo, as comunidades da diaspora portuguesa sentem geralmente um forte vínculo à terra dos seus antepassados, à sua língua, à sua cultura e aos seus pratos nacionais e particularmente ao bacalhau.[112]
Além dos cerca de dez milhões de portugueses residentes em Portugal, presume-se existirem quase cinco milhões mais espalhados pelo mundo,[113] quer de primeira geração, quer luso-descendentes recentes, formando assim um total de cerca de quinze milhões de portugueses.
De acordo com dados da Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros português,[114] os países com maiores comunidades portuguesas são, por ordem crescente de importância demográfica, a França, o Brasil e os Estados Unidos (caso se considerem, no cômputo dos luso-americanos, aqueles que descendem de portugueses em graus variados).
Cultura
Ver também
Notas e referências
Notas
Referências
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- ↑ Numa breve cronologia: 1526 - Alvará de João III, de 13 de Março de 1526, proibiu que os ciganos entrassem no reino, e ordenou que saíssem os que cá estavam; 1538 - Nova lei de 26 de Novembro desse ano, ordenando a sua expulsão; 1592 - Lei de 28 de Agosto agravou as penas contra os ciganos que dentro de 4 meses não saíssem de Portugal; Ordenações Filipinas, proíbindo a entrada no Reino; 1606 - Alvará de 7 de Janeiro exigindo a observância das Ordenações, com a mesma pena agravada com degredo para as galés e com severas cominações para os magistrados remissos; 1614 - Nova carta régia de 3 de Dezembro impedindo a sua entrada no Reino; 1618 - Carta régia de 28 de Março em que o monarca mandava averiguar se no Reino andavam ciganos com «traje e língua diferente dos naturais»; 1654 - D. João IV mandou prender os ciganos que havia no Reino e embarcá-los para Maranhão, Cabo Verde e São Tomé; 1718 - D. João V, em 10 de Dezembro de 1718, determinou a expulsão dos ciganos. Ver Joel Serrão, Dicionário de História de Portugal, ed. de 2006.
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- ↑ SOS Racismo (2001), Ciganos – números, abordagens e realidades, Ed. SOS Racismo, Lisboa.
- ↑ «ECRI (2002), Relatório da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância - Segundo Relatório sobre Portugal, Estrasburgo, pp. 23-25» (PDF). Consultado em 15 de março de 2008. Arquivado do original (PDF) em 18 de dezembro de 2008
- ↑ Luiza Cortezão & Fátima Pinto (1995), O Povo Cigano: Cidadãos na Sombra - Processos explícitos e ocultos de exclusão, Porto, Afrontamento.
- ↑ A. G. Alfaro, E. L. Costa, S. S. Floate (1999), Ciganos e Degredos, Centre de Recherches Tsiganes e Secretariado Entreculturas (Ministério da Educação), Colecção Interface, Lisboa.
- ↑ Luísa Ferreira da Silva (2001), A Saúde dos Ciganos Portugueses – Relatório Final, Centro de Estudos das Migrações e Relações Interculturais, Universidade Aberta.
- ↑ Maria Helena Torres Chaves (2001), Que sorte, Ciganos na nossa escola!, Lisboa, Ed. Secretariado Entreculturas (Ministério da Educação), Colecção Interface.
- ↑ SOS Racismo (2001), Ciganos – números, abordagens e realidades, Ed. SOS Racismo, Lisboa.
- ↑ «Flavia C. Parra et al. (2003), Color and genomic ancestry in Brazilians, Proc Natl Acad Sci U S A. 2003 Jan 7; 100(1): 177–182»
- ↑ SILVA, A. J. M. (2015), The fable of the cod and the promised sea. About portuguese traditions of bacalhau, in BARATA, F. T- and ROCHA, J. M. (eds.), Heritages and Memories from the Sea, Proceedings of the 1st International Conference of the UNESCO Chair in Intangible Heritage and Traditional Know-How: Linking Heritage, 14-16 January 2015. University of Evora, Évora, pp. 130-143. PDF version
- ↑ «Ministério dos Negócios Estrangeiros, Comunidades Portuguesas e Comunidades Luso-descendentes, 2008». Consultado em 15 de março de 2008. Arquivado do original em 3 de dezembro de 2008
- ↑ Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros (1999), Dados Estatísticos sobre as Comunidades Portuguesas, IC/CP - DGACCP/DAX/DID - Maio 1999.