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Arte tumular – Wikipédia, a enciclopédia livre

Arte tumular ou arte funerária, é um termo usado para designar obras feitas para permanecerem em cima ou envolverem as sepulturas nos cemitérios e igrejas. É uma forma de representação que está ligada à cosmovisão de determinado contexto histórico, ideológico ou socioeconômico. Interpretando a vida e a morte. Essa interpretação pode ser feita através de um conjunto de símbolos ou de uma obra narrativa, utilizando-se materiais variados como o mármore, o granito, o ferro fundido e o bronze.

Uma rua do cemitério do Père-Lachaise, em Paris

A arte tumular atingiu seu apogeu nos séculos XVIII e XIX, sendo hoje menos utilizada em virtude do avanço do cemitério-jardim.

Simbologia

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No caso dos símbolos, a representação remete a um significado diferente do objeto construído e colocado no túmulo, como, por exemplo, uma tocha com fogo, que remete à purificação da alma após a morte, ou seja, a tocha tem seu significado real transformado em um símbolo de purificação.

Com relação à obra narrativa o significado dos objetos construídos é literal e não metafórico, como no caso de muitos imigrantes que têm suas epopeias narradas desde a partida da terra natal com o navio até o final da vida como industrial no Brasil.

Nessas duas formas de representações podemos distinguir duas linhas: a nobreza e a burguesia industrial; a primeira utilizava mais o símbolo aliado a seus brasões e a segunda tinha a necessidade de demonstrar a sua importância através da suntuosidade.

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    Arte tumular: Cemitério do Caju, Campos dos Goytacazes
    Material: antigamente era usado o mármore de Carrara. Cada vez mais raro, passou a ser substituído pelo mármore comum, granito ou bronze;
  • Pietá: a escultura de Maria com Jesus recém crucificado nos braços representa o desejo de que a alma seja bem recebida;
  • Anjos: É o que cuida da alma da pessoa e garantirá também uma boa travessia. Muitas vezes são representados mais eroticamente na forma de mulheres voluptuosas ou com aspectos mais andróginos.[1] Anjo que aponta: quando a mão indica o céu, significa que o falecido era considerado uma pessoa boa e espera-se que ela vá direto para o paraíso. Anjo pensativo: quando o anjo está pensativo, com a mão no queixo, significa que está refletindo sobre a vida do falecido e não existe certeza sobre a absolvição de seus atos em vida;
  • Anjinhos e crianças: Presentes em túmulos de crianças ou natimortos. As balinhas e brinquedos são deixadas como homenagens ao falecido vez ou outra. Botões de rosa também são usados nesses casos de mortes prematuras;
  • Guirlanda: simboliza o triunfo da vida sobre a morte;
  • Pata do felino: patas esculpidas nas quinas, são usadas para lembrar que o falecido era o responsável pelo sustento da família;
  • Coluna partida: representa o túmulo do último membro de uma família tradicional;
  • Escada: intervalada em degraus finos e largos, representa a vida de altos e baixos que o morto teve;
  • Cruz: representa a interseção do plano material com o transcendental em seus eixos perpendiculares;[2]
  • Vaso: geralmente representado vazio, representa o corpo separado da alma;[2]
  • Ampulheta: remete à utilização e fim do tempo de vida terrestre, e seu reinício em outro plano;[2]
  • Globo: remete à utilização e fim do tempo de vida terrestre;[2]
  • Flores, folhas e frutos: representam a vitória da alma humana sobre o pecado e a morte. São associados com frequência à nobreza, à beleza e à precocidade;[2]
  • Crisântemo: É a margarida dos mortos. As flores também são usadas para serem uma representação de nós que nascemos, florescemos e morremos como as flores.
  • Coroa de flores: É a concretização do círculo da vida até a morte;[1]
  • Mulher velada: É uma alegoria do luto, da saudade ou da tristeza. Pode representar a viúva sentindo a morte do amado ou apenas a dor da ausência do falecido. Muitas vezes estão com um véu cobrindo o rosto;[1]
  • Chama acesa: Simboliza a imortalidade, algo que não irá se apagar nem com a chegada da morte;
  • Simbologia cristã: A via crucis de Jesus Cristo, Maria chorando pela morte do filho. Tudo isso é uma forma de mostrar a devoção, já que grande parte dos jazigos são de famílias cristãs. No Brasil há uma preferência pela Nossa Senhora Aparecida por causa da localização;
  • Caveira: É um clássico do século XIX, segundo Vanessa Beatriz. É o Memento Mori ("lembre-se de que você vai morrer"), ou seja, nós que aqui estamos por vós esperamos;[1]
  • Cobra: Símbolo da medicina que foi usado para homenagear a morte de um médico;[1]
  • Galo: É um animal do amanhecer que espanta a escuridão e que anuncia um novo dia, uma nova vida;[1]
  • Papoula: Flor do sono e da morte, é a planta que dá o ópio e pode simbolizar o esquecimento da dor;[1]
  • Oferendas: Não é necessariamente parte da arte tumular, mas representa um patrimônio imaterial brasileiro. É onde o sincretismo encontra um espaço para se concretizar;[1]
  • Família unida representada nos jazigos: Mostra que houve uma união familiar forte. Se as mulheres estão segurando filhos também é um símbolo de fertilidade;[1]
  • Portas, Cristo abrindo uma porta ou indicando uma abertura: É a passagem da vida para a morte, mostrando que a morte não é apenas o fim mas também o começo, uma travessia;[1]
  • Fotografias: São a alternativa mais barata para famílias que não podem pagar por esculturas. Muitas fotografias tumulares são a única que o falecido tirou em vida, dependendo da época. O gosto pelo retrato fotográfico demonstra tanto uma nova cultura da época, quanto uma forma mais acessível de se registrar visualmente o rosto do defunto. É assim que vemos vários retratos diminutos engastados em molduras de porcelana. A memória se readéqua ao gosto fotográfico;[1]
  • Cruz de madeira com raízes fincadas na terra: A fé cristã consolidada que surge da terra onde estão os restos da pessoa enterrada.
  • Rosa: É a pureza e também representa o caminho espinhoso traçado durante a vida até a glória maior;
  • Urna funerária: É a separação do corpo e do espírito, mostra que há uma custódia desse corpo velado e passa a mensagem de segurança.
  • Alpha e ômega: é o começo e o fim representado pela primeira e a última letra do alfabeto grego;
  • Borboleta: Ressurreição;
  • Esfinges: Os egípcios davam grande importância à morte, então é uma forma de prestar respeito à morte sem necessariamente recorrer à simbologia cristã;
  • Bigorna: É a forja do universo, representa a construção do universo e que tudo pertence a ele. Também pode ser usada por famílias ligadas à indústria;
  • Sol: Vida nova, luz;
  • Coração: Significa saudades, amor;
  • XP: É o Chi Ro, símbolo de Cristo usado desde os primeiros anos da Era Cristã.

Simbologia dos túmulos românticos em Portugal

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Embora os símbolos usados na arte tumular sejam, muitas vezes, comuns a outras artes, essa simbologia utilizada nos túmulos só pode ser interpretada correctamente tendo em conta a época e o contexto social e cultural em que foram utilizados, pelo que, qualquer chave de interpretação pré-definida, pode redundar em conclusões erradas. Assim, nos túmulos erguidos nos cemitérios portugueses durante o Romantismo, os símbolos mais utilizados foram determinadas flores e coroas vegetalistas, figuras alegóricas (nomeadamente as que representavam virtudes cristãs), certos animais (como o cão, para demonstrar fidelidade), a cruz (como símbolo da fé cristã), tochas invertidas, ampulhetas e génios da morte (inspirados nos túmulos da Antiguidade Clássica), anjos (de diversos tipos), entre muitos outros.[3]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k «Catalogando a simbologia da morte nos cemitérios de São Paulo». www.vice.com. Consultado em 18 de agosto de 2020 
  2. a b c d e «A MORTE E O MORRER EM JUIZ DE FORA: Transformações nos costumes fúnebres, 1851-1890» (PDF). Universidade Federal de Juiz de Fora. 2007. pp. 82–84. Consultado em 15 de outubro de 2011. A cruz, como um símbolo, teve seu significado associado a questões de natureza transcendental, em diferentes sociedades. Exercendo variadas funções (síntese, medida, ponte, pólo do mundo, entre outros), a cruz exerce um papel mediador entre o mundo terrestre imanente e o mundo supratemporal transcendente, através de seus dois eixos cruzados. [...] Na arte tumular, os vasos são geralmente representados vazios, simbolizando o corpo separado da alma. [...] Tidos como símbolos escatológicos, a ampulheta e o globo também foram encontrados nos túmulos [...]. Ambos os símbolos remetem à consumação e escoamento do tempo terrestre. No entanto, a ampulheta possibilita a reversão, ou seja, recomeçar em outro plano. [...] Tanto as flores, quanto folhas e frutos são exemplos de signos fitomórficos. Estes símbolos denotam a alegria divina, representando a vitória da alma humana sobre o pecado e a morte. São freqüentemente associados com nobreza e beleza, e também à precocidade: a expressão "morto em flor", por exemplo, significa morte prematura. 
  3. QUEIROZ, José Francisco Ferreira - Os Cemitérios do Porto e a arte funerária oitocentista em Portugal. Consolidação da vivência romântica na perpetuação da memória. Tese de Doutoramento em História da Arte, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto, 2002. Sumário e prefácio consultáveis em http://dited.bn.pt/31118/2105/2598.pdf. Elenco de fontes e bibliografia consultável em http://dited.bn.pt/31118/2105/2599.pdf

Bibliografia

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  • REZENDE, Eduardo Coelho Morgado. Cemitérios. Editora Necrópolis. 2007
  • Códigos do Além. Revista Super Interessante #274. P.46,47. Editora Abril. Janeiro de 2010.
  • QUEIROZ, José Francisco Ferreira - Os Cemitérios do Porto e a arte funerária oitocentista em Portugal. Consolidação da vivência romântica na perpetuação da memória. Tese de Doutoramento em História da Arte, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto, 2002. Sumário e prefácio consultáveis em http://dited.bn.pt/31118/2105/2598.pdf. Elenco de fontes e bibliografia consultável em http://dited.bn.pt/31118/2105/2599.pdf